quinta-feira, 27 de março de 2014

Raul Seixas 9 - O Dia em que a Terra Parou (1977)

Oi, eu sou o Salinas! O Dia em que a Terra Parou foi o primeiro álbum do Raul depois de mudar para a gravadora WEA. Seja por isso ou porque ele queria mudar mesmo, o fato é que o som começou a se diversificar mais, com duas faixas caindo para o funk. (não, não o pancadão, e sim o verdadeiro funk original. Produção, tem que explicar toda vez mesmo?)

Agora sem o Paulo Coelho, que levava tudo pro lado mais místico, Raul acaba compondo de uma forma mais pé-no-chão. Anos depois de sua prisão, já consagrado, e com a própria ditadura já em declínio, ele se sente mais seguro pra voltar a atacar politicamente. A crítica não gostou, mas o público sim!

Uma curiosidade pro pessoal mais novo, que não pegou a época dele vivo: foi só a partir deste disco que Raul passou a ser conhecido como o Maluco Beleza, por causa do hit.

"Tapanacara"

Raul entra com o pé no peito, com ninguém menos que a sensacional Banda Black Rio reforçando. Aí já viu, baixão nervoso, metais pra todo lado, viradas de batera, tem de tudo! Já a letra é uma salada, considerada uma das mais difíceis de entender. O fio condutor é uma resposta meticulosa a quem o atacava, muito provavelmente Caetano Veloso. Existia (e existe até hoje) um antagonismo claro entre os artistas, que se reflete até hoje nos respectivos "públicos": de um lado os tropicalistas e o pessoal da MPB e ~bosta nova~, e do outro os rockeiros ~americanizados~, incluindo Raul. Até hoje as "tribos" não se bicam muito, mas hoje isso é cada vez mais papo de velho (e ainda bem). E Raul dá o troco, afirmando sua brasilidade através do araçá (que reforça a referência ao Caê), coentro, cachaça e berimbau, depois fazendo um paralelo com Randolph Scott (que era bissexual - para a época, um exemplo bem pejorativo), mas que apesar disso era "cowboy arretado", e Touro Sentado, outro fodalhão lá de cima. Em seguida fica mais clara a alusão ao Caê e sua canção Odara, que em plena ditadura falava de paz e tranquilidade, um insulto para o Raul. E ainda, até meio apaziguador, aproveita pra mandar um abraço pra bossa-novista Nara, elogiando sua voz quando a chama de "prima donna de Raul". Por fim, reconhece que pegou pesado nas indiretas: "Procure, que você vai entender". Enfim, foi um episódio de muitos no imenso fla-flu político, cultural, ideológico, e por que não futebolístico, que insiste em ficar botando na bunda do Brasil. Ufa!

"Maluco Beleza"

Outro da lista de clássicos imbatíveis. Assim como em Metamorfose Ambulante, Mosca na Sopa, Ouro de Tolo, e outras, Raul tenta "se explicar", em sua loucura e seu jeito sui-generis. Tenta viver a vida de forma leve, sem grandes expectativas, um caminho que "é tão fácil seguir, por não ter onde ir", enquanto os outros se esforçam para ser o que não são. Seria um P.S. pro Caê?

"O Dia em que a Terra Parou"

Aqui Raul tenta imaginar como seria se o mundo interrompesse sua rotina mecânica. Uma alegoria para indicar a fragilidade do "individualismo" dos dias atuais, já que todos dependem de todos. Mas também tem uma leitura mais política, quando um toque de recolher geral se transforma numa gigantesca greve, assim como as greves que começavam a pipocar por todo o País, incomodando o capital e por extensão, a ditadura.

"No Fundo do Quintal da Escola"

Agora um rockzinho mais animado, afinal o Raul não deixa de ser rockeiro por ser brasileiro! Outra faixa introspectiva, ele confronta sua atitude diletante com a dos demais que apenas seguem o ~senso comum~, comparando-se aos meninos "batendo uma bola" enquanto ele ia pro "fundo do quintal da escola". Aí passados anos, aqueles meninos ficam "se perguntando" sem nada entender enquanto ele sabe direitinho o que que tá rolando. Quase uma alegoria, mas não: de fato a escola é um dos grandes venenos que desde cedo dão pra gente tomar, assim como o futebol, a novela das 8, o cinema, o vídeo-game, a comida industrializada...

"Eu Quero Mesmo"

Outro rockzinho, e Raul se declara, não só ao rock "iê-iê-iê", mas também, claro, à Glória Vaquer, então sua esposa.

"Sapato 36"

Outra que os milicos olharam, não entenderam bulhufas e deixaram passar. Pensaram que Raul tava mandando uma cartinha pro pai por causa de um mísero sapato... levaram um esporro e não perceberam. "Você só vai ter o respeito que quer / Na realidade / No dia em que você souber respeitar / A minha vontade".

"Você"

Outra faixa linda, em ritmo latino, baixo carregando a harmonia com uma caminha de strings lá atrás. Percussão suave. De novo Raul volta pro tema do conformismo, questionando diretamente "você", sim você, você mesmo que está aí lendo. Por que é assim conformado? Por que aceita essa sua vida de merda? A responsabilidade, ou a "culpa" se preferir, por você estar aí onde está, insatisfeito, não é dos outros, nããão... a culpa é sua!! "Por que você faz isso com você?"

"Sim"

...e responde na canção seguinte. Num tom compreensivo, paternal, humano, com aquele fundo triunfal quase religioso, Raul entende que no fundo só buscamos o que é melhor, ou antes, o que achamos ser o melhor. Por maior que seja o erro e a ignorância, por trás de tudo existe a intenção, sempre o bem. E sem pensar na consequência, no custo de tudo que suportamos, dizemos essa palavra, que abre tantas portas e caixas de Pandora.

"Que Luz É Essa?"

Uma entrada no violão que pra mim soa quase progressiva. Raul esperançoso vê uma luz no fim do túnel! Será o fim da ditadura? Pode ser, no final dos 70's já apareciam rachaduras. Seria a Sociedade Alternativa? A volta do Messias? Zion? Ou apenas o início de uma nova era ~genérica~ de paz, elevação e entendimento? Nunca saberemos, mas o certo é que pra mudança chegar tem que acontecer alguma coisa. Pode até vir de fora, mas é melhor quando começa de dentro, na cabeça de cada um. Independente de religiões: "Num tem certo nem errado / Todo mundo tem razão / E que o ponto de vista é que é o ponto da questão!"

"De Cabeça-pra-Baixo"

Pra fechar o disco, outra incursão no funk. Raul imagina uma cidade onde tudo está de cabeça pra baixo, mas paradisíaca. Ou seja, é o nosso mundo real, áspero e grosseiro, que está todo errado! Mais uma vez, não temos que aceitar o mundo tal como ele é: seus defeitos não são nenhuma "ordem divina" ou superior, e sim desafios a serem corrigidos!

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!

quarta-feira, 26 de março de 2014

Nei Lisboa 7: "Cena Beatnik", 2001

A virada do século (e do milênio) é um momento de mais uma reviravolta pro Nei Lisboa. Na verdade uma guinada 180°, ele volta pro estúdio, volta pras composições autorais e volta ao espírito critico de "Carecas da Jamaica" e "Hein?!". Lançado em 2001, "Cena Beatnik" é um disco recheado de humor ácido e críticas político/sociais muito bem sacadas sobre a época, comparando em muitos momentos com os princípios do Regime Militar, em 64. É um disco em que a as letras definitivamente predominam, cada vez mais bem escritas, que vão desde o humor metafórico à crítica direta, sanguinolenta, "marginal".



Gravado pela Acit e lançado pelo selo Antídoto, "Cena Beatnik" reúne alguns temas centrais em praticamente todas as suas faixas, como a passagem do tempo, o nostalgia da infância (isso a capa não nega), o cenário política de antes e de agora (2001, lembrem-se), a incerteza do futuro, reflexões sobre o mundo, etc. Começa pela faixa título:

1. Cena Beatnik
Sonzinho tranquilo, bem pop mesmo, suave, com riffs de guitarra bem bacanas. A letra é sensacional, Nei mostra que está de volta "na luta armada, disfarçado de cantor". É o recomeço da crítica política do Lisboa. Tem um refrão bem bacana, e a ponte que o liga com o verso também é ótima, saudando os novos tempos, a "cena beatnik" dos início do novo milênio.

2. Zarpar pro Futuro
Uma reflexão sobre a passagem do tempo. Esse tema se repete muitas vezes no disco, além da boa e velha tendência do Nei de usar termos bem internacionais, neologismos, estrangeirismo, e tudo mais. "Mas veja só, minha vó anda surpresa, que pão-de-queijo agora é copywright e pão-de-ló se compra na internet". O mais interessante é que além da nostalgia, também existe um clima de "a história sempre se repete". Muito genial, bem construída a letra desse som. O som também é bem suave, pop animadinho.

3. Deu na TV
Essa tem um arranjo que me lembra muito o pop new wave dos anos 80, indo pro rockão pesado. com direito a solo de guitarra. Um pouco mais animada que as anteriores (talvez a mais animada do disco todo), e uma das mais críticas também. Uma crítica muito ácida e quase óbvia ao governo Americano e sua política de "paz e liberdade" a qualquer custo. Lembrem-se que é o mesmo ano de 11 de Setembro. Faz todo o sentido. "O presidente dos Estados Unidos, Protege o mundo livre do mundo preso, E prende todo mundo que for preciso, Pra não deixar o presidente indefeso".

4. Produção Urgente
Essa é minha favorita do disco. Pra mim tem a melhor gravação do disco todo, além de o melhor arranjo e quase a melhor letra. A construção da música é muito boa, tem um clima bem característico, a letra encaixa muito bem com o instrumental bucólico, a guitarra slide chorosa, genial. Não fugindo a regra de quase todo o disco, essa também é bem crítica, muito bem sacada. "O mundo dá tratos à bola, À mesma que destrata, Pisando na miséria imediata, Contrata para produção urgente, Um negro bem dotado, E um latino quase inteligente". E melhor que isso: "O mundo é dos vivos, O mundo é dos bancos, E os bancos dos mendigos". Pérolas.

5. Por Aí
Um popinho bem suave, romântico. Tem também a temática do tempo, da nostalgia, do passado perdido e do futuro incerto. Segue a mesma ideia do tempo circular, dos eventos que sempre se repetem. Bem filosófica, essa faixa. O Nei continua reflexivo, e conforme a idade vem vindo, mais sábio.

6. Pronta-Entrega
Outra da lista das melhores gravações do disco. As faixas mais lentas realmente ficaram melhores. Essa tem uma linha melódica muito linda, principalmente no refrão "No ar, bem devagar, No ar, fácil de ver, Noir, prêt-à-porter, No ar, fácil de amar". O baixão fretless também dá um toque muito especial a faixaTenho a leve impressão de a letra que fala sobre Porto Alegre, claro que de forma extremamente poética e sem perder o "quê" político.

7. A Utilidade das Palavras
Com uma levadinha que pende para o reggae, baixão bem marcado, violão tranquilo, Nei faz aqui uma das maiores críticas do disco, criticando de forma extremamente sutil todas as grandes instituições contemporâneas. "Vamos salvar os búfalos, De Bills e Bushes, Gates, Norman Bates, Vamos poupar instante, Da ética protestante, Do sacramento do kitsch". A solução contra essas fontes de poder está na uso das palavras, na voz, no conhecimento.

8. E a Revolução
Uma faixa linda, triste até. Aqui Lisboa é bem biográfico, fala diretamente do irmão Luiz, que militou no Partido Comunista Brasileiro, na VAR-Palmares e na Ação Libertadora Nacional, contra o Regime Militar, e desapareceu na época. É quase uma declaração de apoio ao irmão morto, uma crônica dos tempos terríveis da Ditadura. Um som mais sombrio, com uma guitarra acentuando a dramaticidade da letra, que aliás, é bem crua, visceral. Muito foda essa faixa, ainda mais em tempos de "Marcha da Família"... Um excelente alerta político. O melhor é a conclusão final: "Mais duro é perceber, Se eu fosse te falar, Do Brasil de agora, Que seria tão igual, Miséria, Doença , Polícia brutal, Luxúria, Mentira, Autoridade sem moral, Viu? Hum, hum, 68 foi barra, Como é 2001".

9. Ponto Com
Essa tem uma introdução que me lembra "Schultznietsin is Down", do próprio Nei, gravada no "Carecas da Jamaica". Mais uma lentinha, mais sombria, com uma letra também super crítica à tecnologia. A arranjo de teclados e baixo são geniais e a guitarra lamuriosa encaixa perfeitamente. Essa com certeza é a mais pessimista do disco ("A humanidade onde andará, Em marchas desiguais,, Tomando o mesmo rumo incerto, Desertos da razão, Por quem irão dobrar os sinos, Ao olhar dos pequeninos, Em êxodo, em êxtase, encanto e ossos, Nossos filhos, nosso fim, O exército sem luz, De um século do horror"). Deprê.

10. Máquinas de Fazer Máquinas
Essa faixa retoma temática do tempo, de forma totalmente brilhante. "Com máquinas de fazer máquinas de fazer nada, nada disso, Máquinas de fazer máquinas de máquinas, de fazer nada". É brilhante a analogia entre o tempo que passa e o tempo que é marcado no relógio, a passagem do tempo e a monotonia da contagem do tempo, parece que o tempo está parado, ou sempre voltando ao mesmo lugar. Tudo isso numa levada bem suave, com mais guitarra slide e timbres cristalinos de teclados.

11. Particípio
Essa tem uma letra muito foda, toda trabalhada na aliteração (repetição do "P"), com rimas sensacionais e jogos de palavras muito bem sacados. Outra faixa que lembra bem a vibe do reggae, com um orgãozinho muito bom, bem colocado. O pop suave está também presente aqui, com arranjos bem simples, mas uma construção harmônica bem interessante.

12. De Volta
Bem tranquilo, essa faixa fecha o disco. A letra, pelo que me parece, fala de uma "volta" muito aguardada. De alguém? A mulher amada? O amigo distante? Ou a liberdade, a igualdade, a felicidade? A volta dele mesmo, Nei Lisboa, como compositor? Vai saber. Num clima de nostalgia eterna, a banda manda um som muito tranquilo, de arranjo simples, o mesmo pop do disco todo, basicamente.

Pois bem, "Cena Beatnik" é uma retomada do poder da composição na vida do Nei. Ele mostra que a cabeça ainda está super ativa, que as ideias fervem e que ainda á capaz de trazer novidades com muito brilhantismo, mesmo depois de 9 anos sem lançar material inédito. O que parecia um fim, foi um recomeço. No próximo post, o oitavo disco do Nei, "Relógios de Sol", de 2003. Lembrando que as títulos das músicas também são links pras letras, ok? Você pode ouvir o disco na íntegra no link abaixo. Valeu!

Full album, no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VLY6gstTRQY

sábado, 22 de março de 2014

Blind Guardian 1 - Battalions of Fear (1988)

Fala galera, eu sou o Samedi. Tive a honra de ser convidado para escrever neste blog e logo de cara senti que estava faltando algo... Ninguém até então estava resenhando bandas que tocam o bom e velho Power/Heavy Metal... Um abuso Hahah. Resolvi então começar com uma das bandas que eu mais gosto, e que influenciou muito meu gosto musical, da pré adolescência até agora... O Blind Guardian.

Eu gosto muito de letras com pegadas medievais, sobre batalhas, magos e etc... E o Blind tem como forte inspiração um dos autores que mais influenciou a literatura mundial, o Tolkien (Senhor dos Aneis, Hobbit, Silmarillion). Eles tem varias musicas inspiradas nas obras de Tolkien, inclusive um album inspirado inteiramente no Silmarillion (Night Fall in Middle-Earth). Além de Tolkien, eles tem como inspiração T. H. White escritor britânico famoso que escreveu uma saga sobre o Rei Arthur (O Cavaleiro Imperfeito, A Espada na Pedra...), Stephen King, entre outros autores...

Musicas com letras inspiradas em grandes autores já é o suficiente para conquistar muita gente, mas a banda possui excelentes músicos que evoluíram muito conforme os anos. Porém a pegada da banda também mudou muito conforme o tempo, acarretando até mesmo em discussões sobre os rumos que ela estava tomando e a saída de membros...

Bom, mas vamos começar do inicio. Blind é uma banda alemã que começou com um grupo de amigos, na época de escola. Eles viviam o underground alemão, indo em show, curtindo diversas bandas de heavy/trash  metal da época, e obviamente, formando suas próprias bandas. Algo bem natural e comum em adolescentes "rockeiros" do mundo todo. Exceto pelo fato de que as duas demos deles realmente chamaram a atenção.

A primeira demo se chamava Symphony of Doom, foi lançada em 1985, nesta época a banda se chamava Lucifer's Heritage. Das musicas desta demo, apenas a musica Halloween foi aproveitada para o futuro disco oficial da banda. A musica precisou ser um pouco melhorada e teve o nome mudado para Wizard's Crown.

Em 1986 eles conseguiram grana para investir em outra demo, chamada Battallions of Fear. Em um período mais criativo e com um novo guitarrista, eles fizeram sua primeira musica baseada na obra de Tolkien. A musica Majesty abria a demo. Falaremos mais deste som a seguir.




Com estas duas demos eles assinaram um contrato com um selo independente chamado No Remorse Records e fizeram seu primeiro álbum oficial. Nesta época eles notaram que suas demos sempre ficavam nas prateleiras de Black Metal, nas lojas de musica alemãs. Era devido ao nome da banda "Lucifer Heritage", que não condizia com o tipo de som que eles queriam passar. Portando eles se reuniram e após muitos palpites, escolheram o nome Blind Guardian, sugestão do vocalista Hansi Kursh.

E é ai que a banda Blind Guardian começa. Neste post inicial, seguindo a proposta do blog, vou falar do primeiro álbum deles, o Battalions of Fear.

Battalions of Fear (1988)




Este primeiro álbum, como não poderia deixar de ser, é bem simples, sem muitos efeitos. Ele passa totalmente a ideia de um álbum de um grupo jovem de artistas se esforçando para dar o seu melhor e mostrar sua musica. As pegadas lembram muito Helloween e Iron Maiden, obvias inspirações dos membros da banda. Porém isto não é ruim, pelo contrario, este disco alavancou a banda e chamou a atenção de nada mais nada menos do próprio Kai Hansen (Gammaray, Helloween). Eu gosto muito das pegadas dos primeiros álbuns da banda, acho que tem um som mais puro e simples, me lembra o underground... Mas enfim, sentimentalismo de lado, vamos a resenha das musicas:

1 - Majesty:
Este som é demais, pauleira pura do começo ao fim. Bem estilo speed metal, é uma musica que te deixa sem folego. E a ideia é esta mesmo. A musica fala sobre o caminho de Frodo até a Montanha da Perdição. Quem leu ou assistiu o Senhor dos Anéis, sabe que a saga do pequeno Hobbit foi sofrida e é isto que a musica passa.

Ela começa com as seguintes frases berradas pelo Hansi:

"Now the time has come for to leave this land
Take my charge with pride sacrifice"


(Agora, chegou o tempo de deixar essa terra. Tomo minha carga com orgulhoso sacrifício)

Obviamente falando do Frodo e do Um Anel. A musica segue cada vez mais tensa ("caçado pelos orcs sem Gandalf para me ajudar"). E o ritmo não para, a letra fala do olho de Sauron procurando por você, sobre ser caçado pelos Nazgul, sobre gritos em uma terra escura, estar perdido, sem lugar pra fugir, tendo que correr... Sempre que ouço me arrepio. Emoções que eu passei lendo os livros, são passadas em uma musica épica de 8 minutos. Eu acredito que este som, tenha sido um dos principais sons que diferenciou a banda de tantas outras bandas de jovens alemães na época, e chamou a atenção de gravadoras e do publico em geral. 

Por fim o refrão:

"Oooh Majesty
Your kingdom is lost
And you will leave us behind
Oooh Majesty
Your kingdom is lost
And ruins remind of your time
Run, run, run
Behind
Run, run"


("Ohh Majestade, seu reino esta perdido e você nos deixará para trás. Ohhh Majestade, seu reino está perdido e as ruinas lembram do seu tempo. Corra, corra, corra, atrás, corra, corra...")

Pauleira e velocidade pura, total speed metal, musica inspirada no livro "A Coisa" do Stephen King, onde crianças tem que lidar com uma entidade maligna, na infância, e anos depois quando ela retorna. 

"We're watching our own agony many years ago

Seven little children stand against the ghost
Believing is the answer but you've lost before
Find back to your infancy it's time to die"

(Estamos assistindo nossa própria agonia de muitos anos atrás, sete crianças pequenas contra um fantasma, acreditar é a resposta, mas você perdeu antes, encontre volta para sua infância, é tempo de morrer...") 

Refrão empolgante, daqueles feitos para cantar bem alto e em coro: 

"Guardian, Guardian, Guardian of the Blind
Now it feel the curse of heaven
Guardian, Guardian, Guardian of the Blind
Now it feel the curse of the child"

("Guardião, guardião, guardião dos cegos. agora ele sente a maldição dos céus. Guardião, guardião, guardião dos cegos, agora ele sente a maldição das crianças.")

3- Trial by the Archon:
Uma rápida musica instrumental que transporta o ouvinte até o inicio da ótima Wizard's Crown. 

4- Wizard's Crown:
A antiga musica "Halloween" do Symphony of Doom, primeira demo da banda, que foi reaproveitada, melhorada e se tornou a ótima Wizard's Crown. 
A musica fala sobre feiticeiros, rituais e magias, dizem que ela fala a respeito do Aleister Crowley
O refrão é o mais grudento do album, daqueles que fica na cabeça mesmo depois que a musica acaba...

"Halloween - The wizard's crown I'll take - on Halloween
Halloween - But there is no return - on Halloween..."

("Halloween, eu levarei a coroa do mago no Halloween, mas não há volta no Halloween...")

5- Run for the Night:
Outra musica muito boa, com ótimo refrão. Vejo muitas referencias ao senhor dos anéis aqui, apesar de não ter encontrado nada oficial dizendo que a musica é inspirada em Tolkien (embora muitos outros escritores e ouvintes concordem comigo e colocam esta musica na lista, como as que tem referencia de Tolkien).

"Senhor da escuridão se apoderando da coroa do mundo todo" (Sauron ?), "Suas criaturas irão me matar e envenenar minha alma" (frodo envenenado pela lamina dos Nazghul ?), "Eu vejo a colina mas ela está tão longe, eu sei que não posso alcança-la" (Montanha da Perdição ?), "Ele esta destruindo minha vontade, até quando posso ficar aqui ?" (Sauron dominando o portador do anel ?)...
Enfim, inspirada ou não em tolkien, Run for the Night é uma ótima e empolgante canção. 

6- The Martyr:
Acho muito irônico esta musica no album, por que no inicio a banda se chamava "Lucifer's Heritage, e por causa deste nome, as demos da banda ficavam nas prateleiras de black metal. E esta musica fala sobre Jesus Cristo haha
Musica mantem o ritmo rápido do resto do album. A letra é ótima, mostra toda a Paixão de Cristo, os 3 reis magos, os apóstolos, a traição de judas e por ai vai. 

Gosto destas passagens:

"Messiah - Liar - Our burning desire
He is the king without a crown
We will set him to his throne
Give me 30 p. of silver and I'll be your man"


(Messias, mentiroso, nosso desejo queimando. Ele é o rei sem coroa, nós o fixaremos ao trono dele (cruz). Me de 30 moedas de prata e eu serei o seu homem (Judas)") 

"Now drink my blood for the new testament
This is my body you eat
One of you twelve is the one who betrays
Better that he's never born"


("Agora beba o meu sangue para o novo testamento. Este é o meu corpo que você come. Um de vocês doze é aquele que traí. Melhor que ele jamais nascerá.")

7- Battalions of Fear:
Finalmente chegamos na musica tema do álbum. Vocês puderam notar até aqui o quão amplo são os temas das musicas da banda, neste álbum. Mesmo com um instrumental e ritmo muito parecido com outras bandas de maiores sucessos na época. As letras falam de aventura medieval (Tolkien), de livro de terror (Stephen King). de ocultistas (Aleister Crowley) e até de Jesus Cristo... 

Agora é a hora de um tema politico. Battalions of Fear é uma critica a politica de Iniciativa Estratégica de Defesa do antigo presidente dos USA, o Ronald Reagan
Um programa de defesa lançado em 1983 que visava proteger o USA de ataques nucleares da URSS (auge da guerra fria) e que era conhecido como "guerra nas estrelas". Este programa iria demorar 20 anos para ser implantado com sucesso e gastaria quase 200 bilhões de dólares. Ronald Reagan pretendia colocar um "escudo espacial" (rede de satélites) protegendo os USA, com a capacidade de mandar misseis interceptadores direto do espaço. Se fosse concretizado o programa daria monopólio espacial ao USA, além da primazia nuclear, ou seja, eles poderiam atacar a URSS sem se preocupar em serem atacados de volta. Isto acabaria com o equilíbrio de poderio nuclear da guerra fria, conhecido como MAD (Destruição Mutua Assegurada) dando vitoria e total controle aos USA. 

Este programa causou muita polemica na época, muitos consideravam mirabolante e utópico, enquanto outros consideravam terrível e ameaçador. O ex presidente Bush tentou revitalizar parte do programa no governo dele, mas se focando em misseis em terra. O que voltou a gerar polemica, atualmente o programa foi parcialmente parado pelo atual presidente do USA, Obama.  

Voltando a musica, ele é empolgante, e tem todo o gosto de uma musica de revolta e critica. 

"Battalions of fear
They search and they scream for the American dreams
Battalions of fear
The way of R.R. to show he is the star
Battalions..."


("Exércitos do medo. Eles procuram e eles gritam pelo sonho americano. Exércitos do medo. A forma de R.R* de mostrar que ele é uma estrela. Exércitos...")

*Ronald Reagan

8- By the Gates of Moria:
Musica instrumenta, inspirada no senhor dos anéis. A musica é derivada da sinfonia numero 9 do "Novo Mundo" do compositor Tcheco Antonin Dvorak. Este esquema de incorporar musicas clássicas a alguma outro tipo de musica (musica pop, heavy metal) se chama "Rock me, Amadeus". E é usado por diversos artistas. Até por que boa parte das musicas clássicas são de domínio publico.

9- Gandalf's Rebirth:

Outra musica instrumental, como faixa bônus. Apesar de não ter letra, acredito que o nome seja referencia ao momento que Gandalf ressurge como "o Branco", após a batalha contra o Balrog nas Minas de Moria. 




Bom, e assim termina o primeiro Album do Blind Guardian, no próximo Album, o Follow the Blind, já é possível ver um amadurecimento da banda, além de contar com a participação do Kai Hansen. 

Espero que tenham gostado, infelizmente eu não tenho tempo para postar toda semana, mas em breve faço a resenha do Follow the Blind.

Grande abraço galera.

Bards we are! Bards we will be!

P.S - Quem tiver interesse, acessem o Blind Guardian Brasil, lá contem muita informação sobre a banda. #Fikadika ;)

quinta-feira, 20 de março de 2014

Raul Seixas 8 - Raul Rock Seixas (1977)

Oi, eu sou o Salinas! Raul não ficou contente com o lançamento atrapalhado de seu tributo ao rock & roll no início da carreira, e agora, depois de pelo menos 2 grandes sucessos (Gita e Há 10 Mil Anos Atrás), já estabelecido e conhecido no País inteiro, resolveu tentar de novo.

Novamente vemos alguns clássicos do roquemrôu, mas estes são menos conhecidos que os 24 Maiores Sucessos (devem ser os seguintes da lista). E na última faixa Raul deu o seu recado anárquico, encerrando o disco com Asa Branca. Uma leitura disso é que o baião e os ritmos populares, do Nordeste ou não, têm muito a ver com o rock, enquanto forma de expressão da juventude, e em última análise, do povo. Sem elucubrações, sem grandes floreios técnicos. Como ele próprio disse anos depois, "Pois há muito percebi que Genival Lacerda tem a ver com Elvis e com Jerry Lee".

Um ponto que chama atenção é que o rock, tendo muito a ver com o contexto da época, claro que acaba esbarrando no machismo. E ele está expresso em várias faixas, o que de certa forma se choca com o pensamento libertário e evoluído do Raul. Mas apesar disso, música é música, e ele quer fazer um tributo aos músicos. Por outro lado, tem outras tantas faixas que a menina simplesmente some sem deixar rastros. Isso também diz muita coisa...

"My Way" (Jerry Capehart)

A faixa que abre o disco não tem nada a ver com a canção homônima de Frank Sinatra (que foi regravada por Elvis Presley, Robbie Williams e dezenas de outros). Não, claro que o negócio aqui é rockão antigo!! Raul machista, chamando a gaja pra sair já avisa: vai ser tudo "do jeito dele". Na boa, o autor dessa letra parece um menino mimado: "I was born a tiger, I always had my way / Nobody's gonna change me this or any other day". Enfim, nos anos 50 ~todo mundo~ achava isso legal né...

"Trouble" (Jerry Leiber / Mike Stoller)

Cuidado com esse cara, minazinha... esse aí é treta! "Nunca procurei problemas... mas nunca fugi deles". (mas dependendo do tipo de ~problema~, é exatamente o que ela quer!! Ê, mulherada...)

"The Diary" (Howard Greenfield / Neil Sedaka)

Diretamente dos bailinhos, Gloria Vaquer quebra o galho e manda os vocais. No começo você até fica achando que ela está falando do seu diário, onde anota as "coisinhas que o menino fala e diz", mas depois dá pra ver que o eu-lírico é o menino, que tá apaixonadão e querendo saber se é ele que tá no diário!

"My Baby Left Me" (Arthur Crudup)

Raul volta com a corda toda (e um walking bass lá no fundão) pra mais um medley. Animadaço, apesar de a mina dele ter ido embora "sem nem uma palavra", ele tá mó tristão na janela...

"Thirty Days" (Chuck Berry)

...mas ele não deixou barato. Logo em seguida trocou uma ideia com a "cigana no telefone" e ela vai mandar um "vudu mundial" pra mina voltar em 30 dias!! Já naquela época rolava isso de ~trago seu amor de volta~ (e na letra original, se não funcionasse o vudu, Chuck Berry ia acionar até o xerife, o FBI e as Nações Unidas... tudo pelo ~amor~!)

"Rip It Up" (John Marascalco / Robert Blackwell)   

Parece que a treta já tá esquecida... Raul acaba de receber, e vai gastar tudo no sábado à noite! Não é de hoje que todo mundo espera alguma coisa desse dia... e um solinho genial de teclado no final!!

"All I Have to Do Is Dream" (Boudleaux Bryant / Felice Bryant)

Mais uma faixa lentinha... é legal essa alternância de agito com momentos mais românticos. Ai que gostoso ficar sonhando com a minazinha... Mas de repente o ritmo dá uma acelerada muito 70's...

"Put Your Head on My Shoulder" (Paul Anka)

... e volta pro rosto coladinho, com aquele timbre de "gato miando" no teclado. Awnt, encoste sua cabecinha no meu ombro, baby, e vamos ficar apaixonados!

"Dear Someone" (Cy Coben )

E pra fechar o medley, agora temos uma cartinha de uma fã. Ela mandou uma linda foto, e que linda hein... mas não colocou o nome! Raul desesperado pede pra ela mandar uma nova carta, desta vez com nome e contato, né! (Mas cá pra nós, eu acho que ele vai é ficar esperando...)

"Do You Know what It Means to Miss New Orleans" (Eddie DeLange / Louis Alter)

Depois de tanto mela-cueca, um jazzinho pra descontrair. Raul está morrendo de saudade de New Orleans, as "vinhas cobertas de musgo", os "sabiás cantando", o "Mississipi preguiçoso" e por aí vai... mas a gente não cai mais nessa: claro que tem mulher na jogada! Se ele tá com saudade de lá, é porque foi lá que teve rolê...

"Lucille" (Albert Collins / Richard Penniman)

Agora a coisa animou de vez no rock de novo! Outra mina que some do nada e deixa o Raul perdidão.

"Corrine Corrina" (Bo Chatmon / J. Mayo Williams / Mitchell Parish)

Raul aproveitando o lado B pra mandar uns palavrões! Aqui ele conta de quando ele pegou a Corrine, eles estavam no banco de trás do carro e ele... bom, depois dessa ele ficou odiando a coitada! Meio machista, essa, hein Raul...

"Ready Teddy" (John Marascalco / Robert Blackwell)

Mais um medley de rock botando pra quebrar! Começa com uma faixa falando sobre a zoëra dos bailes de rock, que, claro, já naquela época não tinham limite.

"Hard Headed Woman" (Claude Demetrius)

Raul machista de novo, botando a culpa dos problemas do mundo na "mulher de cabeça dura". Dá até exemplos, Adão e Eva, Sansão e Dalila, Jezebel. Ô Raul, a galera não conhecia esse seu lado não, viu?

"Baby I Don't Care" (Jerry Leiber / Mike Stoller)

Agora Raul tá com uma mina meio "quadradona": não curte ir dançar, não curte andar de carro pela madrugada, não conhece nenhum passo de dança novo. Mas pelo jeito, ele não tá nem aí!

"Just Because" (Jay Vaquer / Raul Seixas)

Agora uma bem rapidinha na pegada do rock! A gaja andou espalhando por aí que é a gostosona e quis deixar o Raul na mão dela, mas não deu outra: o cara caiu fora bem antes!

"Bye Bye Love" (Boudleaux Bryant / Felice Bryant)

Agora mais um medley. Raul terminou de novo com a gaja, não quer mais saber dessa história...

"Be-Bop-A-Lula" (Gene Vincent / Bill "Sheriff Tex" Davis)

...mas já arranjou outra, "my baby, doll, my baby, doll"...

"Love Letters in the Sand" (Charles Kenny / J. Frederick Coots / Nick Kenny)

...e ela já terminou com ele de novo. Ficaram só as lembranças das "cartas de amor escritas na areia", apagadas pelas ondas...

"Hello Mary Lou" (Gene Pitney)

...mas Raul já se apaixonou de novo. Esse não tem jeito mesmo!

"Blue Moon of Kentucky" (Bill Monroe)

Depois de falar só de mulherada e baladinha, Raul fecha o disco com uma cacetada. Nos tempos de hoje, em que "tudo é rock", isso pode não ser tão relevante assim, mas pra ele isso era coisa muito séria. Ele pegou um clássico do Elvis Presley, pedindo pra "lua brilhante do Kentucky" trazer sua amada de volta, numa levadinha bem country, só no violão. Mas aí, de repente...

"Asa Branca" (Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga)

...na mesma levada, ele encaixa nada menos que o maior clássico do Luiz Gonzaga! Aqui ele fala da seca, que acaba com a terra e faz até a ave-título ir embora. E também ele, rapaz, resolve sair dali, mas "assegurando" a seu amor que um dia voltaria.

Mas afinal, e daí que ele juntou um rock e um baião? A sacada do Raul é que os dois estilos, de lugares tão distantes e de contextos tão diferentes, têm uma coisa em comum: são a forma de expressão da juventude daquela época. São retratos do brasileiro (e do americano, e de qualquer país), fodido e sonhador, seus vícios e anseios, conversas de elevador. Tanto um como o outro! Se por um lado o Brasil estava quase saindo da situação agrária, com muitos indo para as cidades em busca de uma vida melhor, nos Estados Unidos, mesmo com o baby boom do pós-guerra (o caldo cultural que originou o rock), não era diferente: com seus outros tantos jovens, empregados ou não, também sonhando com o amor, realizar seus sonhos, enfim desejando um futuro melhor. Não importa se o país é rico ou não, as pulsões, sofrimentos e incertezas da juventude são as mesmas, em qualquer época, em qualquer lugar. De novo, hoje em dia isso é ultrapassado (ou não), mas em 1977, numa época que metade achava que música brasileira era "coisa de comunista" e a outra metade achava que rock era "coisa de alienado", Raul fez a ponte, provando que a arte pode transcender as picuinhas político-ideológicas de seu tempo.

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso! No próximo post vamos falar de outro grande sucesso de Raul, O Dia em que a Terra Parou. Até lá!


terça-feira, 18 de março de 2014

O Rappa - Rappa Mundi (1996)

Eis que em 1996 a banda O Rappa lança o seu segundo disco de estúdio, o "Rappa Mundi". Disco este responsável pela introdução da banda no cenário musical brasileiro e por grandes sucessos, como Pescador de Ilusões, A Feira, Miséria S.A., O Homem Bomba e Eu Quero Ver Gol. A produção do disco fica por conta de Arnolpho Lima Filho, ou apenas Liminha, ex baixista da banda Os Mutantes e conhecido produtor musical. O disco foi lançado, novamente, pela Warner Music.


1 - A Feira

A letra composta por Marcelo Yuka fala sobre o tráfico de drogas, citando os clientes que compram as "ervas", o fato de não ser autorizado e ter de fugir do "Rappa", afirmando que quem fornece a droga ganha mais e que a clientela é vasta (Vem maluco, vem madame/ Vem Maurício, vem atriz/ Prá comprar comigo). Apesar da letra não ser nem um pouco ortodoxa, a música teve grande destaque no ano de seu lançamento, e nos anos seguintes, caindo na boca do povo.

"É dia de feira
Quarta-feira
Sexta-feira
Não importa a feira
É dia de feira
Quem quiser pode chegar"

2 - Miséria S.A.

Eu entendo essa música como sendo uma pessoa entrando em um ônibus ou trem, que seja, e pedindo esmola.

"Senhoras e senhores estamos aqui
Pedindo uma ajuda por necessidade
Pois tenho irmão doente em casa
Qualquer trocadinho é bem recebido"

3 - Vapor Barato

Composta por Jards Macalé e Waly Salomão, Vapor Barato ficou conhecida na voz da cantora Gal Costa. Em 1996, a música ganha novamente destaque, dessa vez na voz de Marcelo Falcão.

"Sim!
Eu estou tão cansado
Mas não pra dizer
Que eu estou indo embora
Talvez eu volte
Um dia eu volto
Quem sabe!
Mas eu preciso
Eu preciso esquecê-la"

4 - Ilê Ayê (Que Bloco é Esse)

Ilê Aiyê é o mais antigo bloco afro do carnaval da cidade de Salvador, sendo conhecido como o primeiro bloco afro do Brasil. Na sua primeira apresentação, no carnaval de 1975, o Ilê Aiyê apresentou a música Que Bloco é Esse, de Paulinho Camafeu. Música esta regravada pela banda O Rappa para o disco do qual comento. A música, uma de minhas favoritas, trata do orgulho de ser negro.

"Branco, se você soubesse o valor que o preto tem.
Tu tomava um banho de piche, branco e, ficava preto também.
E não te ensino a minha malandragem.
Nem tão pouco minha filosofia, porquê?
Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia aí aí Meu Deus."

5 - Hey Joe

Composta por Billy Roberts em 1962, Hey Joe ganhou destaque em versões de grandes bandas/cantores, como The Leaves, Jimi Hendrix e Patti Smith. No brasil, a banda O Rappa, em parceria do rapper Marcelo D2, gravou uma versão traduzida e adaptada. A música foi uma das responsáveis por inserir a banda no mercado musical brasileiro, além de ser uma de minhas favoritas de todos os textos (e de me fazer meus olhos marejarem todas as vezes que a escuto, o que está acontecendo neste momento).

"Menos de 5% dos caras do local
São dedicados a alguma atividade marginal
E impressionam quando aparecem nos jornais
Tapando a cara com trapos
Com uma uzi na mão
Parecendo árabes árabes árabes do caos.
Sinto muito cumpadi
Mas é burrice pensar
Que esses caras
É que são os donos da biografia
Já que a grande maioria
Daria um livro por dia
Sobre arte, honestidade e sacrifício, sacrifício
Arte, honestidade e sacríficio"

6 - Pescador de Ilusões

Tida como o maior sucesso da banda O Rappa, a faixa foi composta por Marcelo Yuka e teve dois grandes momentos de sucesso: no lançamento do "Rappa Mundi" e do "Acústico Mtv - O Rappa". A música pode estar falando da vida e de como este é um processo solitário e de que podemos encontrar as respostas nas pequenas coisas. Somos todos pescadores de ilusões, nesse grande emaranhado de ilusões compartilhadas. Há quem diga que Yuka falava de seu sonho de fazer sucesso, de gravar um disco que estourasse no Brasil. Eu gosto de pensar que a música trata de alguém que sonha com algo, que está encontrando dificuldades em conquistar seu sonho e "ainda assim estar pronto pra comemorar".

"Se eu ousar catar
Na superfície
De qualquer manhã
As palavras
De um livro
Sem final! Sem final!
Final
Valeu a pena
Êh! Êh!
Sou pescador de ilusões"

7 - Uma Ajuda

Nada a declarar (me julguem).

8 - Eu Quero Ver Gol

Paixão de Falcão e Xandão, Eu Quero Ver Gol fala nada mais, nada menos, do que futebol. Entende-se que personagem da canção é carioca, fanático por futebol, praia e farra. O perfil tipico de um morador de favela carioca. O que ele quer mesmo é só ver o time dele ganhar, ele vai torcer, xingar, vai passar sua vibração pro seu time ganhar.

"Méier-copacabana é o bonde ideal,
No ponto final o rebu é total
Pular pela janela pro bonde é normal
Zuando no asfalto, zuando na areia"

9 - Eu Não Sei Mentir Direito

Uma das letras mais divertidas da banda, Eu Não Sei Mentir Direito fala de um cara que não consegue mentir e que, mesmo assim, se dá bem na vida. Vejo a música como uma crítica ao famoso "jeitinho brasileiro".

"Que se manifestava naturalmente difícil
Ele disse que sou confuso mas sou claro
E é por isso que eu cheguei inteiro até aqui
Justamente eu, justamente eu
Justamente eu que não sei mentir direito"

10 - Homem Bomba

Alguém me disse uma vez que essa música fala do trabalhador que, ao final de cada mês, acende o pavio de uma bomba, entendida como a busca de sobrevivência financeira. Neste período, ele procura formas de se distanciar dos problemas justamente para a bomba não explodir. É uma boa conclusão.

"Como meu sangue nunca vai
Nunca vai, vai virar vinho
No final do mês
Se acende o pavio
Então
Bum! Bum! Bum!
O Homem Bomba"

11 - Tumulto

Acredito que a música fala dos grandes problemas sociais que enfrentamos no Brasil, como a falta de água em certos locais, e de como as pessoas da comunidade tomam para si os problemas do outros. Muitas vezes se envolvendo em tumultos que nem mesmo envolvem toda a comunidade, mas que são combatidos juntos através de manifestações e tudo o mais.

"Tumulto, corra que o tumulto está formado
Vem cá, vem vê, vem cá, vem vê-ê
Que dentro do tumulto pode estar você
Panela batendo, toca fogo no pneu, põe barricada
Velhos, senhoras e crianças
A molecada pula, debocha e dá risada"

12 - Lei da Sobrevivência

Composta por Falcão, a faixa pode estar falando de não deixar o tempo correr, de ficar esperando as coisas acontecerem. É preciso correr atrás, plantar para colher e poder comer bem.

"Eu não quero ficar
Esperando
O tempo passar, passar"

13 - Óia O Rappa

A faixa fala claramente do rapa, grupo de policias que apreendem as mercadorias dos ambulantes.

"Que barra pesada
Os cara tão aí
E a tal turma do Rappa
Rapadura de engolir
Que barra pesada
Os cara tão aí
E a tal turma do Rappa
Vai ser dura de engolir"

Abaixo está uma playlist com todas as músicas do disco. Enjoy! O próximo disco a ser comentado é o "Lado B Lado A"! Até.

domingo, 16 de março de 2014

Pitty - 2° Anacrônico

Olá, pessoas! (:

*Nota: Bom, a ideia inicial era escrever sobre a PITTY (especificamente, sobre o “Admirável Chip Novo no Especial:Semana da Mulher, mas decidi discografa-la, a pedido do companheiro de blog David Bruno. (Um beijo, seu lindo!).

Dois anos após o lançamento do bem sucedido “Admirável Chip Novo”, é lançado em 2005 o segundo álbum “Anacrônico” no formato DualDisk (CD e DVD), que trás de brinde o documentário “Sessões Anacrônicas”, retratando o cotidiano das gravações do CD, e a galeria de fotos “Seu Mestre Manou”.


A arte na capa é obra do artista plástico
Edinho Sampaio. São as “drongas”, segundo a própria Pitty: “garotas de hoje, mas com um toque retrô (ou de ontem com um toque futurista), com uma malícia não declarada, uma inocência pervertida. Esquisitinhas, com gengivas, olhos e dentes estranhos. Pessoas estranhas, mas interessantes.” Fazendo o link com o tema do anacronismo.


Com mudança na formação: Sai da banda Peu Souza, então guitarrista que participou do primeiro trabalho, inclusive da turnê do mesmo, e entra Martin Mendonça, guitarrista que já era brother da banda, e foi super elogiado por seu trabalho e soma ao grupo pela vocalista. A essa mudança pode ser atribuída à diferença de sonoridade, que chega mais pesada, e à Pitty tocar bem mais guitarra que no álbum anterior.





Com 13 faixas e 5 singles (Anacrônico, Memórias, Déjà Vu, Na Sua Estante e De Você), o disco vendeu cerca de 700 mil cópias, superando o sucesso do primeiro CD!






Pesado! Arranjo e riffs te seduzindo a todo tempo... Parece uma brincadeira, uma grande ironia com o termo “saideira”, tão adotando aos fins de rolês alcoólicos, considerando que é a primeira faixa do CD. Remete a aquele momento que você para com a “diversão” e tem que encara as pessoas com seriedade pra se despedir. Quase sempre são os momentos em que o mais importante é assimilado.
“Se sente na pele que chegou a hora/ Saber a qual é, olhando no olho
Pra alguns isso assusta, mas é tão necessário/ Pra ter a noção do que é real”.
A obra se auto explica: 
“Ei! Não vá ainda embora... beba mais um copo/ 
É que logo agora vai começar a história...”.

Faixa-título, alta densidade... Um rock mais contido que vira porrada no refrão. A música fala de mudanças. As pessoas continuam as mesmas, mas tudo em volta delas se modifica, se transforma, e transforma a vida de cada uma delas junto... Mudam os valores, os conceitos, a visão de tudo.
Anacrônico se refere ao que é oposto à cronologia, avesso à sua época.
Foi o primeiro single lançado, e o clipe reafirma bem a ideia de desconforto, de conflito de mentalidades... Se passa num manicômio, e a protagonista vive numa brisa (é sério!). E na sua brisa, é atormentada por bonecos, há um julgamento, uma sentença de execução, e então é inserido na cabeça dela (literalmente) os novos valores a serem adotados... Por fim, ela própria é uma boneca, que vive enjaulada. Baita metáfora!


Quinto e último single lançado do álbum. Não foi considerada muito “radiofônica”, por isso não teve aderência das rádios... Eu diria que a filosofia dela não é radiofônica, não a sonoridade.
Fala dessa proporção Posse x Medo. Quanto mais as pessoas têm, mais querem, e mais temem... E não percebem que elas mesmas alimentam esse ciclo.
“E é com a mãe aberta/ Que se tem cada vez mais
A usura que te move/ Vai te puxar pra trás.”
O clipe (que faturou o Prêmio ABC – Academia Brasileira de Cinematógrafos – em 2009) foi produzido em 2008, e mostra uma rebelião de zumbis, que fogem de uma espécie de instituto de pesquisa até o encontro da banda tocando, e TCHARÃÃ... A banda também virou Zumbi! MUAHAHAHAHA.


Segundo single do álbum, e faixa de maior sucesso do CD. Entrou para a trilha do filme dirigido por Cacá Diegues, “O Maior Amor do Mundo”, e para a telenovela global “Caminho das Índias”. Ganhou o prêmio Bizz 2007 como Música do ano, e o clipe os prêmios de Melhor Videoclipe do Ano no Prêmio Multishow de Música Brasileira de 2006, e melhor videoclipe na escolha da audiência no VMB no mesmo ano.
O tema (ou acontecimento) principal do videoclipe é o polêmico “jogo do copo”, em que se joga sobre um tabuleiro e através de ajuda sobrenatural, se obtém respostas.
Quem nunca teve um amigo expert nesse jogo? Isso! Aquele mesmo, que tinha uma bateria em casa, mas nunca mostrou pra ninguém, ganhou do pai uma 38 e ia à Disney todo ano, mas o filme da máquina fotográfica sempre queimava... Lembra? Rs.
Mas e você, teme as suas memórias?


Uma das faixas mais intensas do CD, gosto de pensar nela como a “Temporal” do álbum, só que mais pesada e sombria. Foi o terceiro single lançado, e trilha da novela da Rede Record “Bicho do Mato”. É uma autoanálise de alguém que se sente esgotado, mas que se sabe/sente vivo! E embora essa vivacidade tenha se perdido pelo caminho, a consciência ainda existe e se faz presente, esperando o momento de tomar forma.
Ganhou o prêmio de Melhor Videoclipe de Rock no VMB de 2006.


Rapidinha e sufocante, a faixa nos familiariza com as tomadas de fôlego da vocalista, que não escapam nem às edições de áudio do álbum. E que, cá entre nós, é um charme! ;)

Primeira faixa gravada pela banda em inglês, o que a camufla enquanto segunda canção de amor (sombrio) do CD. Uma vez a Pitty disse (Se não me falha a memória, no Ao Vivo MTV) que ela tinha vontade de colocar um saco de papel da cabeça pra cantar a romântica “Equalize”. Em Ignorin’ U a camuflagem do idioma – no lugar do saco de papel – nem seria necessária, já que ela não é necessariamente romântica, mas fala de amor, de um jeito rebelde. E deu um puta charme!
“I am nor waiting for a prince on a White horse just to save me
(Não estou esperando um príncipe em um cavalo branco pra me salvar)
I Know I have to do by myself
(Sei que tenho que fazer isso eu mesma)
And this time I Will be free
(E nessa hora eu serei livre)
So I Will ignore you”
(Então eu irei ignorar você)

Forte crítica ao sistema! Esse “jogo” que todos nós jogamos de alguma forma. As nossas regras sociais de felicidade, divertimento, interação social... Tudo o que nos é passado com a ilusão de integração, nos toma o controle da própria vida visando apenas lucro de terceiros, sem garantia de ausência de sequelas.
A música começa num arranjinho, quase hipnótica, e então explode no chorus.  

Fazendo conexões, essa seria a irmã pesada e sombria de “Equalize”, ambas são as únicas faixas explicitamente de amor de cada álbum. Porém, como no Anacrônico o conjunto todo é mais “sombrio”, a canção de amor também é. Total #BrokenHearted.
É o quarto single a ser lançado, e tudo indica que o segundo maior sucesso da banda até hoje. Clipe vencedor do prêmio de Melhor Videoclipe de Rock no VMB de 2007.


Bom, será que eu já esgotei minha cota de utilização da palavra “sombria”? Pois é, não consigo pensar em outro termo pra descrever essa faixa, rs. Ela fala da naturalidade e afeição com o que pra tantos representa algo ruim, triste, pavoroso... No clima meio grunge, delícia.
E, filosofando um pouco, no fundo estamos sempre no escuro. Não se pode ver o que é real, verdadeiro. Somos reféns das palavras, atitudes, bem como o interior de cada um, não é o visual que realmente faz a pessoa, e você só consegue ver isso, quando deixa de olhar pra fora. Só no escuro.

A voz de tudo o que foi feito de brutal ao longo da nossa triste história... Num estilo que me remete
à “Perfeição” - Legião. A música enfatiza a Inquisição, mas todas as atrocidades que foram cometidas às pessoas, sempre de cima pra baixo, da igreja, dos governantes, dos magnatas por trás da mídia... Ironicamente, sejam essas ordens veladas ou não, vem de pessoas que de uma forma ou de outra nós permitimos que continuem com o poder pra isso. E elas manipulam tudo isso sem sujar as mãos.
“Quem ordena a execução, não ascende a fogueira”.

Raivosa, um grito de guerra com um trecho suave no meio, que vai crescendo e ataca novamente, acabando na clássica “escravos de Jó”.
“Eu não vim aqui pra pedir/ O que eu quero eu vou conquistar
Se agora é hora de ir/ Tô na estrada, sigo em frente
Eu não penso em fugir/ E nem mesmo me consolar
Tenho medos e mesmo assim/ Tô na estrada, sigo em frente
Sou Guerreiro.”

Posso estar sendo traída pelos meus ouvidos (não muito bem treinados), mas me parece a melodia calminha no meio de “Guerreiros são Guerreiros”. E, numa continuação muito bem amarrada, trás o questionamento fatal:
“E depois, então/ Que conquistar o último desafio/
Quando aprender a voar/ Quando achar que já tem tudo/
O que vai querer?/ O que vai querer depois?/ O que vem depois?”

Eu postei os clipes dos singles, mas pra quem quiser ouvir o áudio to CD completo, é só dar o play! :D


Volto em breve com o “{Des}Concerto”!

Tchau! o/