quinta-feira, 26 de junho de 2014

Kiss 2 - Hotter Than Hell (1974)

Oi, eu sou o Salinas! O primeiro disco não vendeu lá essas coisas, e eles continuavam buscando seu espaço. Poucos meses depois, resolveram tentar de novo com este Hotter Than Hell.

O som fica mais pesado em algumas faixas, quase flertando com o heavy metal. Ace dá uma tônica bem mais "matadora" nas levadas e solos. As letras continuam girando em torno das mulheres: relacionamentos, idas e vindas, amores e loucuras. Mas o disco acabou ficando com cara de feito às pressas: não tem o mesmo brilho e fodidez da estreia. Eles ainda procuravam o caminho (inclusive da grana).

O lance da capa com motivos nipônicos não tem nada a ver com turnês japonesas. Elas existiram, várias, mas nos anos seguintes. Pode ter sido uma tentativa de chamar a atenção pelo elemento gráfico (também no disco), pelo colorido. O caracter lá embaixo se lê "chikara" e significa poder, força, virilidade, macheza, paudurescência etc. No canto superior esquerdo, logo embaixo do logo Kiss, aparece a transliteração em katakana. É como se escreve Kiss em caracteres japoneses. Assim como nas tirinhas amarelas de cada integrante, o japa lê aquilo e sabe como se pronuncia o nome de cada um daqueles gaijins (gringos). E em cima, no canto direito, 地獄 の さけび se lê "jigoku no sakebi", que significa "grito do inferno". Sim, a recepção japa foi a mesma: velhos escandalizados, jovens em êxtase.

"Got to Choose" (Paul)

Aqui Paul bota a menina na parede: ela tem que escolher entre ele e o outro. Não dá pra ficar com os dois: "Don't care, no, I don't, no / But you can't be his and still be mine" (não me importo, mas você não pode ser dele e continuar minha)

"Parasite" (Ace)

Ace quebrando tudo desde lá atrás... batida forte e mais rápida, quase começando a cair para o heavy metal. Gene assume os vocais e conta sobre aquele tipo de garota que gruda em você mas não porque não quer largar mais, e sim porque quer só se aproveitar até a última gota: "She thought she knew me, but she didn't know / That I was sad and wanted her to go" (ela achava que me conhecia, mas não sabia / que eu estava triste e queria que ela fosse embora)

"Goin' Blind" (Gene / Stephen Coronel)

Uma faixa mais lenta, com entrada inesperadamente poética depois da paulada anterior. Aquela cara de cair da tarde avermelhado novamente. Essa veio lá dos velhos tempos de Wicked Lester. Gene, aos noventa e três anos de idade, explica pra novinha de 16 que não dá pra eles ficarem juntos. É uma daquelas faixas que ninguém entende direito: antes a letra era "Little lady from under the sea" (mocinha que veio do fundo do mar), o que daria uma leitura de um homem falando com uma "sereia", talvez, ou então a velha história do "namoro de praia não sobe a serra". Mas depois Paul deu a ideia de colocar "I'm 93 and you're 16" (eu tenho 93 anos e você tem 16) porque soava legal. Vai entender...

"Hotter Than Hell" (Paul)

Batida arrastada, pesadona. Paul pirou o cabeção numa mina "mais quente que o inferno". Tava louco pra sair com ela e fazer ~um monte de coisas~... até que ela mostrou a aliança pra ele.

"Let Me Go, Rock 'n' Roll" (Gene / Paul)

Gene & Paul são muito responsáveis com seu trabalho. Para eles, o Rock & Roll é como uma namorada. Eles "nunca imaginaram que precisariam tanto assim de alguém"... mas peraí, ele tá falando do róquenrôu ou da namorada?!? As duas coisas... no fundo é tudo "rock and roll".

"All the Way" (Gene)

Gene agora está com uma mina que fala demais! Ele não é um cara de muito palavreado, "I'll tell you what you want to hear" (Vou te contar o que você quer ouvir)...

"Watchin' You" (Gene)

Gene tá olhando fixo pra mina agora. Esse negócio de ficar olhando é foda, ela tá sem graça, sem saber o que fazer. Mas ele também tá sem jeito, tentando olhar pro outro lado... porque os outros todos estão olhando pra eles dois!

"Mainline" (Paul)

Peter assume nos vocais desta vez. Paul mais uma vez loucão pela mina, capaz de fazer tudo por ela, etc.

"Comin' Home" (Paul / Ace)

Declaraçãozinha de amor estilo Kiss. Mas desta vez o Ace participou: ficou bem mais pauleira! Paul e Ace rodaram o país inteiro nos shows, e só agora "voltaram pra casa", o único lugar que querem estar... junto com as mulés, é claro!

"Strange Ways" (Ace)

Outra cacetada do Ace, desta vez mais lenta... em termos musicais ele é o mais foda dos quatro! Peter assume os vocais. O lance aqui é o seguinte: desta vez a mina é gringa. Por isso tudo é tão estranho, "o jeito que ela olha", "o lugar em que vive"... mas no fundo Ace gosta desses "jeitos estranhos, dias esquisitos".


Mais infos sobre o disco, aqui (em inglês - o artigo em português na wiki tá um lixo). E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Kiss 1 - Homônimo (1974)

Oi, eu sou o Salinas! O Kiss se formou lá pelos finais de 1971, com as sobras do Wicked Lester, a primeira banda de Gene & Paul. O nome veio de um campeonato de beijo, evento comum por lá naquela época. As ideias foram se formando aos poucos, ao longo de shows pela noite de Nova York. A fome de crescer era grande, e eles canalizavam toda essa energia não só no som e presença de palco, mas também na performance: personagens, maquiagens, figurinos, números.

Mas as coisas eram difíceis no começo. A grana era curta, os shows mal se pagavam, e nem todo mundo recebia a novidade abertamente. A conquista dos fãs foi um trabalho de formiga, lentamente, e uma das estratégias para isso foi, depois de dúzias de shows e mais de 2 anos batendo cabeça por aí, lançar um disco com as principais canções de trabalho.

Como resultado, este é um dos melhores discos do Kiss. Som cru, com toda a força do rock & roll. As músicas vinham lá de trás, trabalhadas há anos. O disco define muito a "cara" da banda, não só visualmente na capa (que também se inspirou no modelo de With the Beatles, assim como Raulzito e os Panteras e tantos outros), mas também no som, uma cacetada auditiva, com tempero de juventude, farra e sexo.

Paul e Gene dividem a autoria da maioria das letras. Apenas uma ou outra são de Ace ou Peter. Os estilos são bem diferentes: enquanto Paul fala mais sobre relacionamentos, Gene, "cem por cento putão", só pensa naquilo. Ace foca em sua eterna bebedeira. Peter acaba indo por uma linha parecida com Paul, sobre sentimentos e tals. Conforme veremos a partir de agora:

"Strutter" (Paul)

A primeira música do primeiro disco... pra mim tem um significado especial. Naqueles primeiros compassos eu imagino o cara numa sexta feira à noite de "quase dezembro" de 1973, toma aquele banho, se veste, dá tchau pra mãe que tá vendo novela, e vai andando pelo rua, outono já esfriando (no hemisfério norte). Quase tropeça numa pedra pelo caminho, entra no estúdio, parede de tijolinhos, a porta se fecha. Cumprimenta o pessoal, jogam um pouco de conversa fora, bom, vamos ao trabalho. Silêncio. Baquetas se erguem no ar, e num bullet time as pontas delas, já meio gastas, descem lentamente até tocar os tambores: "Praco-praco-praco-pum", guitarras, e nasce um mito. (Ok, não foi assim: o mito já tinha nascido há tempos, eles já eram até meio conhecidos na cidade.)
A levada já dá o tom não só do disco, mas da obra do Kiss: rock & roll alegre, com riffs do Ace reluzindo por entre os versos, refrão forte, solo de guitarra. Receita pra virar hit! A letra fala de uma garota "espertinha", dessas que deixam todo mundo maluco. Tem aquela fila de caras chamando pra sair, mas não está nem aí pra nenhum deles.

"Nothin' To Lose" (Gene)

Nessa faixa os roqueirões das antigas têm orgasmos múltiplos com a chance de esculhambar com o povo do funk. Ora, nesta letra Gene fala sobre nada menos que sexo anal, porém sem citar diretamente, muito menos usando palavrões: "back door" (porta de trás). Mas ainda assim no padrão machista da época: "She didn't wanna do it / But she did anyway / But baby please don't refuse / You know you got nothin' to lose" (Ela não queria fazer aquilo / Mas fez mesmo assim / Mas meu bem por favor não recuse / Você sabe que não tem nada a perder).

"Firehouse" (Gene)

Alarme de incêndio! Tem coisa pegando fogo. Ali na escada de incêndio, na casa das máquinas, onde ficam as ~mangueiras~, hehe... vocais no começo simulam as sirenes do carro de bombeiros, e a própria sirene aparece no final. Em geral é nesta música que Gene faz seu número de cuspir fogo.

"Cold Gin" (Ace)

Entrada lenta na guitarra, baixo arrastadão, vocais meio bêbados. Claro, pois "É a única coisa / Que nos mantém juntos". Ace, o guitarrista bêbado, detonando em mais um solo. Tem quem diga que já naquela época tinha tretas entre eles, e só bêbados conseguiam ficar de boa entre si pra ensaiar e gravar. Outra leitura é que só a ~bebida~ (farra, putaria, mulheres, dinheiro etc) seria capaz de fazê-los passar por tudo aquilo que passaram em busca da fama. Ou ainda, é um ~facilitador~ quando o relacionamento já não tá lá aquelas coisas...

"Let Me Know" (Gene & Paul)

Declaraçãozinha de amor estilo Kiss. Ele quer ser o "motorista de domingo, o homem da segunda, o táxi da terça, o garoto da quarta", mas se ela não se decide não adianta... ela só tem que escolher o que fazer, e ele a leva lá o quanto antes.

"Kissin' Time" (Bernie Lowe, Kal Mann)

Esse é o tema dos campeonatos de beijo que rolavam nos Estados Unidos nessa época. Em todas as cidades, casais fazendo maratonas labiais pra ver quem aguentava mais tempo sem largar os beiços um do outro. Essa música não veio no disco original, mas como as vendas não estavam lá tudo isso, resolveram lançar esse single (mais uma versão desta música, que já tinha sido regravada) e "encaixar" nas prensagens seguintes... e funcionou.

"Deuce" (Gene)

Um dos riffs mais fodões, logo na entrada. "Deuce" em inglês significa "diabo" mas também significa "dois". O cara quando trabalha duro até tarde, vale por dois. A mulher dele tem que entendê-lo e apoiá-lo, e na visão da época, "fazer o que ele diz". Na Nova York dos anos 70, deuce era também uma gíria para fellatio. Imagina se Gene Simmons daria um ponto sem nó...

"Love Theme From Kiss"

Instrumental. Levadinha marota, timbre de guitarra brilhante, com umas viradas no baixo aqui e ali. Cair da tarde, céu avermelhado.

"100,000 Years" (Paul)

Depois do instrumental poético volta a batida mais urbana rock & roll. Paul se atrasou pro rolê e agora tá dando um sabonete na namorada, que pergunta onde ele esteve... mas calma, "você se importa se eu sentar aqui?" Vish, já eras, ela já tá calminha de novo...

"Black Diamond" (Paul)

Peter Criss assume os vocais aqui. A ideia de Paul é lembrar a noite de Nova York, onde ele via todas aquelas prostitutas pelas esquinas. Mas havia uma em especial, a rainha de todas elas... era um "Diamante Negro". E no final o solo acaba naquela famosa batidinha que vai diminuindo o ritmo. Na verdade não são os músicos que diminuem o ritmo, mas a mixagem depois. O som é "esticado" aos poucos, o que dá aquele efeito de ir baixando o tom até que no final não se ouve mais nada. Uma tentativa de fechar o disco em grande estilo... que nada, é só pra aproveitar sobra de espaço mesmo.

Mais infos sobre o album, aqui. E nas casas quem do ramo boas não encontrar no Youtube quebrar pode o galho:




Até lá!


quinta-feira, 12 de junho de 2014

Kiss - Introdução

Ás do Espaço, Homem-Gato, Filho das Estrelas e Demônio
"Vocês queriam o melhor, vocês terão o melhor! A banda mais quente do mundo.... Kiss!" As maquiagens, figurinos, performances, pirotecnia e momentos únicos, como Gene Simmons cuspindo sangue enquanto toca baixo e a bateria levitadora de Peter Criss, ficaram na mente dos fãs.

Ao todo são 24 discos de estúdio, incluindo os quatro discos solo de 1978, e alguns ao vivo. Foram 11 entre 74-79 (média de 2 discos por ano!), oito entre 80-89 (quase 1 por ano), três entre 90-99 (um a cada 3 anos) e dois nos 2000s.



Tudo começou quando o baixista Gene Simmons conheceu o vocalista Paul Stanley. Eles tocavam em pequenas bandas e batalhavam espaço no circuito roqueiro de Nova York no começo dos 70's, e resolveram criar uma nova banda. Pensavam grande desde o começo: queriam a fama mundial, o estrelato, o topo. Queriam ser diferentes das bandas de seu tempo. Do teatro e kabuki veio a ideia de criar personagens e usar roupas espalhafatosas para tocar. A ideia, mais que música, era algo teatral e performático: um espetáculo.


(E de uma vez por todas, as maquiagens não têm nenhuma relação com Secos & Molhados. Foram pessoas diferentes em lugares diferentes tendo a mesma ideia na mesma época, e eles não foram os únicos: convenhamos que, em plena época da psicodelia e liberação de costumes, pintar a cara para tocar música não é tão ~extravagante~ assim)


Gene criou o "Demônio", um monstro com asas de morcego e pés de dragão, que cospe sangue e fogo. Paul criou o "Filho das Estrelas", um ser andrógino e sensual com roupas provocantes. Procuraram baterista pelos classificados de jornal e encontraram Peter Criss, que já tinha sua bagagem tocando em bodegas por aí e criou o "Homem-Gato", com motivos felinos e correntes. Por fim, apareceu Ace Frehley, um guitarrista meio doidão, também pelos classificados, e criou o "Ás do Espaço" (talvez justamente por ser ~aéreo~), usando como tema as estrelas e o universo.


Com esses personagens eles criaram um rock & roll bem festivo, em geral com letras sobre mulheres, farra e sexo. Começaram como todo mundo, tocando em bares sujos, rodando pelo interior, dormindo mal e comendo pior. Até que conseguiram juntar grana pra gravar em 1974 o disco homônimo e, poucos meses depois, Hotter Than Hell. Em 1975, ainda raspando o cofre, sai Dressed to Kill, e logo em seguida tiveram a ideia de gravar Alive!, um disco ao vivo, coisa que na época era novidade: a força sonora das performances finalmente os colocou em todas as lojas de disco do país.

A partir daí, o caminho das estrelas estava pavimentado. Em 1976 sai Destroyer, tido por muitos como o melhor disco deles até hoje, e meses depois Rock and Roll Over. Os discos saíam um atrás do outro, o negócio era vender disco. Os shows acabavam sendo "teasers" (muito antes dos publicitários hipsters que hoje usam esse termo sequer nascerem) para incentivar o público a comprar os discos. Em 1977 saem Love Gun e o ao vivo Alive II. E dá-lhe vendas: em 1978, para comemorar o disco duplo de platina, sai Double Platinum.

"Então tá, Peter. Faz seu disquinho aí."
Nesta época começam os desentendimentos. Gene e Paul eram os "donos" da banda desde o começo, mas Peter e Ace começavam a se incomodar por terem menos espaço para compor nos discos. No começo tudo bem, mas quando a grana entra não tem jeito. O "gerentão" Gene então teve a ideia considerada por muitos uma tacada de mestre: em 1978 a banda lançou nada menos que 4 discos solo, um de cada membro, no mesmo dia(!!!!). Com isso as tensões internas diminuíram pois cada um gravou seu disco como quis, e todos ganharam muito dinheiro pois fã nenhum se contentou em comprar apenas o disco de seu "favorito".


A esta altura, os quatro personagens já estavam completamente difundidos nos corações e mentes pelos Estados Unidos. Havia todo tipo de produto licenciado pela banda, de canecas a camisinhas. Histórias em quadrinhos (relançadas no Brasil) os colocavam como heróis com super-poderes, que enfrentavam inimigos e alienígenas, com raios, riffs, eletricidade e muita cor e brilho. (um boato, aparentemente verdadeiro, afirma que a tinta usada continha sangue dos integrantes... mas que depois a gráfica errou e que o sangue deles foi parar numa revista de esporte! kkkk) 

"Tirar a máscara? ...OK!..."
Em 1979 gravam Dynasty, que foi o último disco da "era de ouro" com a formação original. Peter resolveu seguir seu próprio caminho, e Eric Carr assume o posto criando um novo personagem, A Raposa. Gravam então Unmasked em 1980, brincando com a mística das pinturas e com o fato de nunca terem sido vistos (até então) sem elas. Em 1981, com Music from "The Elder", flertam com o rock progressivo.


Os discos seguintes não conseguem emplacar tantos hits como os primeiros. Killers foi uma compilação sem-vergonha de clássicos, só pra vender disco. Creatures of the Night é o mais conhecido no Brasil, por ter coincidido com o primeiro show deles por aqui em 1982. Tempos depois, Ace deixa a banda, e em seu lugar entra Vinnie Vincent, criando mais um personagem, o Guerreiro Ankh. Mas ficou pouco tempo, passando o bastão para Mark St John, que logo passou para Bruce Kulick. Com o entra-e-sai, acabou esse negócio de criar personagem: quem entrasse usaria um existente.

Anos 80: sem as máscaras, muito "glam". Há quem goste.
Nos anos seguintes vieram Lick It Up (no qual finalmente tiraram as máscaras), Animalize, Asylum e Crazy Nights. Alguns fãs enxergam esta época como a "fase desgraçada" do Kiss, pois apesar de muito mais técnicos, estes discos não têm a pegada festiva e os hits que fizeram a cabeça dos fãs no começo. A sonoridade mudou, apesar de continuar no rock, porém saindo do festivo e indo mais para o glam rock, deixando de lado os personagens e ficando mais "sensual", forçando a barra usando e abusando de clichês e atraindo um público mais feminino. Em 1988 sai outra coletânea sem-vergonha (mas com 2 músicas novas), Smashes, Thrashes & Hits, e em 1989 sai Hot in the Shade. Mas em 1991 Eric Carr morre por doenças no coração, deixando o cargo para Eric Singer. No ano seguinte, em Revenge, eles incluem seu solo de bateria, como homenagem póstuma. Nos anos seguintes, só pra vender disco, sai mais um ao vivo, e um acústico MTV.

Em 1996 eles fazem a "Reunion Tour" na formação original, com Peter e Ace. Depois disso eles ficaram na banda por um tempo, mas o fato é que já tinham suas carreiras fora do Kiss, não tinha mais a mesma graça. Peter acabou chamando Eric Singer de novo, e Ace passou a guitarra para Tommy Thayer, formação que permanece até hoje.

A partir daí o ritmo começa a diminuir. Sai o ao vivo da formação original, e em 1997 sai Carnival of Souls, conhecido como "o disco grunge do Kiss". E em 1998 Psycho Circus, que voltou para o bom e velho rock & roll. Depois de uma década sem novos discos, apenas em 2009 sai Sonic Boom, e em 2012 Monster, novamente com esse papo de retorno às origens, etc. Com 2 discos em 3 anos, será q os ~Cavaleiros a Serviço de Satã~ (aff...) estão voltando ao ritmo frenético dos anos 70? É esperar pra ver!

Quanto a mim: tendo um tio roqueirão à moda antiga, cuja banda número 1 é o próprio Kiss, eu conheço desde pequeno. Cresci ouvindo o som vindo lá do quarto dele, vendo sua coleção de recortes de jornal sobre a banda. Isso antes de ter computador e internet. Depois disso, foi aquele tal de baixar músicas e vídeos, ficar gravando cd de backup, organizando pastas e etc. Mas é aquilo, eu só conhecia a superfície, os clássicos, e as preferidas do meu tio. Mas agora resolvi parar e conhecer o som deles DISCO A DISCO.

Venha com a gente nesta viagem poderosa, entre riffs trovejantes, solos de bateria, vocais alucinados, animação, explosões, e claro, sexo, drogas e rock & roll!


terça-feira, 10 de junho de 2014

Nei Lisboa 8: "Relógios de Sol", 2003

Olá! Nesse post eu vou falar do oitavo disco do Nei Lisboa, o "Relógios de Sol", lançado pelo selo Antídoto, da ACIT, em 2003. Depois da paulada política do disco anterior, o "Cena Beatnik", o cara se volta totalmente pro romance, o amor e as mulheres (da sua vida, e da sua imaginação criativa). Esse disco é tão bem produzido e gravado quanto o anterior, as harmonias continuam com a carinha inconfundível do Nei, só que agora tudo mais soft, mais pop do que nunca.


De qualquer forma, o Nei não foge a tradição de trazer diversas influências musicais pros seus discos. Como sempre, você vai poder ouvir o melhor das baldas pop nacionais junto com jazz, blues e ritmos latinos. A primeira faixa já dita o tom de basicamente todo o álbum. Uma balada muito linda, romântica, aquele refinamento das letras bem típico do Lisboa, melodias muito boas mesmo.

1. Primeiro Amor
Começa com um riff muito bonito no violão. Popinho bem romântico, muito bem arranjado. Piano comanda a levada do som, o baixão completa com muita leveza. O refrão é mais marcado, por guitarra e bateria. Um sintetizador bem suave, macio, complementa a harmonia. E a letra, claro, não nega essa aura de romance. Dá pra dizer sim que letra e música tem a doçura de um primeiro amor. "Vai ver, o teu final feliz é minha próxima atração".

2. Vai Chover
Seguindo o mesmo espírito da canção anterior, essa faixa não é menos romântica. Começa o barulhinho de chuva e um trovão inicial. Uma levadinha de bongô torno tudo um pouco mais rasteiro, uma declaração de amor inocente, um pop até que bem dinâmico, com variações de andamento e tudo mais. O violão mantém a harmonia, entrecortado por uma harmonia genial de backing vocals. O tecladinho ainda tá lá, dando um brilho extra. Ela cresce no refrão com uma linda frase: "Cada vez que vai chover, eu volto pra estrada pra te ver". Conta, basicamente, a história de um casal que caminha na chuva, e encharcados, foram se abrigar num velho moinho. Tiram as roupas, botam pra secar, e PIMBA! Começa um grande amor. S2

3. Relógios de Sol
A faixa título tem uma das letras mais interessantes do disco.O Nei brinca bastante com as palavras, cria estruturas poéticas, brinca com elas, intercala, volta, etc. O mais incrível é que a música não tem refrão, mas ainda assim tem alguma coisa cíclica, ao mesmo tempo em que é ascendente e dinâmica. Incrível como em cada "fim" de sessão o instrumental marca a última palavra, "pão" e "mão". O instrumental, aliás, incrível também, com o violão na harmonia e melodia principais. Interessante são as participações ocasionais dos sintetizadores. As percussões, bem suaves no estilo "chocalhinho", e um bumbão bem espaçado, garantem a pulsação. Bom demais, bem pensada e estruturada. Bem gravada.

4. Cine Avenida
A letra é bem clichêzinha, mas com a cara do Nei, e na sua voz é de fato um "clichê singular", rs. Na pegada do disco, mais uma romântica, com uma carinha mais malandra. O instrumental é muito massa e levada é meio ska, no estilo dos Engenheiros do Havai. Ênfase no tecladista, que porra!, manda bem pra caralho! Os arranjos pro synth são demais. Muito bacana também a "ponte" pro refrão com um solo de guitarra, a banda aumenta a pegada, toca mais forte.

5. Pra te Lembrar
Essa faixa, em especial, teve notoriedade na imprensa e no cenário nacional, principalmente por ser trilha do filme "Meu tio matou um cara", o tema romântico. Nessa versão, a música é interpretada por Caetano Veloso. A mais bela canção do disco, sem dúvida alguma. Um piano maravilhoso entra com a voz do Nei, contrapondo. Que melodia linda. Adoro também como o baixo vai se costurando no melodia do piano. Muito bem arranjado, puta merda... A forma como a pulsação cresce, vai aumentando a sensação de ápice, de clímax, é genial. Adoro essa música. E a letra então... de chorar. =*(


6. Bar de Mulheres
Jazzinho maroto, discurso de rapaz desarmado frente a uma mulher poderosa, independente, a Diana, "Já és Simone e Sartre, E não precisas mais de mim... Se amas por nós dois, de mim já não precisas mais". Bem caricata, essa faixa, começa com baixão jazzy e "clicks" de dedos estalando. Genial o pianinho bem com a aquela cara "cabaré", baixão comendo solto, guitarra no contra do piano, dando swing, passeando pelas escalas, a bateria inconfundível. Muito foda. Nei mantém a "tradição" de sempre botar um jazz no meio dos seus discos.

7. Isso São Horas
Climão latino nessa faixa. Uma conga, talvez, comendo solta, solinho de violão na escala flamenca. Genial como o som cresce eu fica com uma cara bem rock-latino, no melhor estilo Carlos Santana. O cara sempre fazendo referências. Claro que o tema do som não podia ser menos "caliente". O Lisboa paga de tiozão sem vergonha e canta pra sua novinha. "Que idade tem a minha bonitinha, sabe que eu podia ser papai". Hahaha! Ai ai, esse Nei...

8. Babalú
E claro que não podia faltar também o blues, mas um clássico do repertório do Nei Lisboa. Todo disco tem um blues, rs. Esse não é menos genial. Mantém a temática romântica, mas aqui num tom mais debochado, falando de uma garota com quem ele mantém  uma relação meio "conturbada", mas ele sente falta dela, sim. O som já começa com uma guitarrinha havaiana, muito massa. O violão mantém a harmonia, enquanto a bateria vai dando dinâmica. Os backing vocals aqui são bem divertidos, "Babalú!", rs.

9. Amor Executivo
Amor executivo, é esse que você se doa por inteiro mas ainda sim ela insiste em te "atiçar". Pelo menos é o que diz o Nei nessa canção super bem sacada. Não sei dizer ao certo que tipo de som é esse, alguma coisa meio pro cool jazz, mas pra mim também está perto disso e disso. Bem suave, com um belo solo de sopro (talvez um sax alto), brincando com a melodia da guitarra.

10. O Mundo em Seu Lugar
Essa tem um dos melhores arranjos do disco. Adoro esse clima meio soturno que ela mantém, com algumas dissonâncias sobressaindo, e o total contraste com as partes mais melodiosas, tonais. Ênfase no violão e na presença eterna de um sintetizador bem etéreo de fundo. Muito bom. A letra também é linda, muito bem estruturada, bem no jeitão do Nei, de repetir estruturas mudando a mensagem. Fala de um amor que "desarruma" a vida, mexe com os sentimentos, mas de independente de qualquer bagunça, é desejado, lindo, e deixa saudades. Mais uma vez, o amor e o romance dominam uma faixa do disco.

11. Bom Futuro
Essa tem a letra que eu mais gosto, super positiva, otimista. Nei dá instruções de como ter um "Bom Futuro", dizendo que o mais importante é a simplicidade das coisas cotidianas, manter a vida tranquila, é esse o segredo, e todos os problemas futuros (que na verdade existem sempre, no passado e presente também) devem ser ignorados agora. "Leve um mapa pra esquecer, Onde a estrada terminar, Depois a gente se vai voltar, Quem sabe o dia de amanhã?".


E assim termina o disco mais romântico da carreira do Lisboa. Engraçado que além desse romantismo todo, existe também um novo tipo de sabedoria na poesia dele, a partir desse disco. Uma sabedoria da vida em si, a valorização do tempo, da idade, dos bons e maus momentos, das pessoas que nos que fazem sorrir e das que nos fazem chorar. Valeu galera, espero que vocês tenham gostado. Só pra te lembrar, cada título de música é também um link pra letra. No próximo post, o nono disco do Lisboa, "Translucidação", de 2006. Aguarde! Até já!

Disco pra ouvir na íntegra:


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Raul Seixas 19 - E Fim de Papo!

Raul em 2011? (peguei aqui. Btw, puta texto!)
Oi, eu sou o Salinas! O nosso querido Raulzito morreu com apenas 44 anos, vítima da tal pancreatite aguda. Claro, ele detonou né... sempre bebeu demais, usou drogas, viveu do jeito que pregou, sem seguir regras, sem dar bola pra ~conselhos~, criando uma "Sociedade Alternativa" para si próprio. Tem quem diga que ele foi a própria Geração da Luz que anunciou: veio, fez o que tinha que fazer e voltou, tudo na "velocidade da luz". Tem também quem diga que o satanista Paulo Coelho cooptou o "volúvel" Raul Seixas e o empurrou para o mal que, na verdade, lhe caberia. Mistérios eternos.

Mas... e se ele fosse vivo ainda?

Em 2014, completam-se 25 anos sem Raul. Ele estaria com quase 70 anos, provavelmente ainda na ativa. Ele continuaria não tão bem assim de saúde, mas "aos trancos e barrancos" perceberia afinal que a morte acenava, mas não tão de perto assim. Já estaria aí com uns 20 e poucos discos, naquela pegada de um a cada 3 ou 4 anos. Uns grandes sucessos, outros nem tanto, mas estaria ali. Hoje, numa comparação não em termos musicais, mas de situação no mundo musical, seria meio que um Tom Zé ou um Hermeto Pascoal, fazendo seu som, criando suas parcerias (já imaginadas aqui), surpreendendo seus fãs a cada disco, fazendo shows esporádicos em Sescs por aí, aparecendo em Viradas Culturais, ultrapassando gerações, mas nada de unânime: muitos conhecendo "só de nome", outros achando chato. Não que já não tenha gente assim, mas o "mito" Raul não seria tão forte com ele ainda vivo.

Uma coisa é certa: a "Metamorfose Ambulante" pouco mudaria seu modus operandi. Claro que em algum momento a indústria o procuraria pra ficar só fazendo aquele feijão-com-arroz, mas é pouco provável que ele topasse. Ele continuaria apontando o dedo ao seu redor, e principalmente, para cima.

Mesmo com o fim da ditadura, assunto não ia faltar. Logo após sua morte, a democracia brasileira, então uma criança de seus 5 anos, teve bronquite e falta de ar: o impeachment de Fernando Collor pelo confisco das poupanças (Mas depois voltou... e pra desgosto dos velhinhos, tá aí firme e forte.) Imagina se o Raul ia perder a chance de esculhambar essa putaria. E sem ditadura atrapalhando. Mais tarde, em apenas 2 meses, o Brasil teve uma grande tristeza e uma grande alegria. Morre o ídolo Ayrton Senna, e no mês seguinte a seleção ganha a Copa de 94. Raul decerto captaria essa montanha-russa midiática  de sentimentos. O mesmo com Mamonas Assassinas (que ele detestaria. Ou não) e com Renato Russo (que ele apenas respeitaria. Ou não). O mesmo com o "agora vai" com o Plano Real, privatizações do FHC ("eu avisei"), LulaFome Zero, Bolsa Família, Dilma, PAC, Mensalão e protestos de junho. Sempre com aquele ar de deboche desconfiado.

Com Marcelo Nova, ele fez o prenúncio da desgraça, a avalanche de ~estilos~ e ~tendências~ que começou já nos anos 80, e não parou mais. Sertanejo ("acabaram com a herança do violão"), brega ("apelido carinhoso"), axé ("vergonha da minha terra"), forró universitário ("mais universitário que forró"), boy bands ("de mulher pra mulher"), emos ("depois dos 90's tinha um alçapão"), funk ("pisotearam James Brown"). O mangue beat seria um dos poucos que talvez (apenas talvez) teria seu respeito. Também não ignoraria a "indústria do medo" que se instalou na televisão e nas mentes.

Isso no Brasil. Mas o mundo também vinha cada vez mais conectado, mais rápido, mais alucinado. Queda do Muro de Berlim, fim da Guerra Fria (de quem as ditaduras no Brasil e outros países da Latinoamérica são filhos bastardos), Bósnia, Ruanda... que no fim são efeitos colaterais da tal ~globalização~. Veria com maus olhos a criação do Mercosul, e daria seu pitaco sobre a Alca ("Eu avisei de novo..."). Veria a história se repetindo no 11 de setembroOsama, Saddam Hussein, Gaddafi, Obama, primavera árabe. Os verdadeiros teriam seu respeito: MandelaBhuttoTeresa. Tiraria um sarro de Bill Clinton, e também da crise econômica. Nenhum dos dois Papas teria lá muito crédito dele; talvez o último tivesse algum respeito. Teria os mesmos deslumbres que toda a geração dos 90's teve, mas sempre com seu pé atrás, com o Hubble, Dolly, internet, transgênicos e ambientalismo.

Raul morreu solteiro, depois de nada menos que 5 esposas (Edith, Gloria, Tania, Kika e Lena), que lhe deram 3 filhas (Simone, Scarlet e Vivian, respectivamente da primeira, segunda e quarta). A fama, a agitação, e claro o protagonismo do palco decerto lhe garantiriam periodicamente novas pretendentes. Ele porém, introvertido, era do tipo que brigava pra depois voltar apaixonado querendo fazer as pazes. Era um cara difícil. No bolão, meu chute é que ele estaria lá pela oitava esposa, e com mais duas filhas. Mais velho, mais sossegado, a última talvez tivesse até a sorte-azar da estabilidade.

Depois da morte de Raul, Kika assumiu suas memórias e o "cargo" de responsável pela obra. O fato de ser mãe da Vivian, que também seguiu o caminho da música, influenciou também. E hoje existem alguns processos rolando entre ela e as outras ex do Raulzito, rolos, Ecad, claro, todo mundo quer garfar. Essas tretas jurídicas não existiriam se Raul ainda estivesse vivo, e provavelmente Kika teria ficado só com os registros daquela época (1979-84), não o "baú" inteiro. Talvez ele mesmo processasse a ex por causa desses registros.

Raul Seixas falou de muita coisa em suas músicas. As 174 composições de estúdio (excluindo "24 Maiores Sucessos..." e "Raul Rock Seixas", mas incluindo O Rebu e extras) podem ser agrupadas em grandes eixos: Amor, Filosofia, Crítica Social (com um subconjunto "Cacetadas na Ditadura") e Biográficas. Algumas faixas caem em duas categorias, como por exemplo "Ouro de Tolo", que é ao mesmo tempo biográfica e crítica social, mas escolhi a que mais se encaixa (lista completa nos comentários, pra quem quiser conferir).

E por fim, as palavras mais usadas pelo Mestre em suas letras. Mesmo soltas, dizem muita coisa:


E num espasmo final de criatividade, vendo essa nuvem me vieram à cabeça as seguintes frases, que talvez tenham muito a ver com tudo que Raul queria dizer:

PORQUE AMOR AMOR QUERO QUERO TUDO TUDO SEGREDO SEI LÁ FAZ LUZ NINGUÉM SABER TODOS AGORA HORA PRÁ TODO VER COISA NADA VAI TÁ VOU AQUI SABE POUCO  
OH GENTE HOMEM CÉU TÃO NADA VIDA SEMPRE PODE DIZER QUISER TER CAMINHO AR NOITE e se deixar fico aqui a noite toda... isso é sensacional!

Por fim, quero agradecer a todos que contribuíram para a realização desta Discografia Comentada: Caio & Lud que me chamaram pro DaD, Sergey Brin & Larry Page, Jimmy Wales, Chad Hurley, e é claro o Raulzito. Sem ele nada disto existiria, afinal ele é o "início, o fim e o meio".

Ufa! E chega de falar de Raul por uns tempos. Ainda por cima ganhei estes dois livros na semana passada, já tô vendo que vai rolar "update" em alguns posts...

Nos próximos posts vamos conhecer a banda mais quente da Terra... Kiss! Até lá!


terça-feira, 3 de junho de 2014

EngHaw - 8° Filmes de Guerra, Canções de Amor

Olá, pessoas! (:


1993 é o ano de lançamento do oitavo disco dos Engenheiros, o Ao Vivo “Filmes de Guerra, Canções de Amor”, seguindo o ritmo adotado pela banda até o momento, de um álbum ao vivo a cada três de estúdio. Produzido por Mayrton Bahia, que já havia produzido a lendária Legião Urbana, e gravado ao vivo na sala Cecília Meirelles, no Rio de Janeiro (com exceção das inéditas “Realidade virtual”, e ”Às vezes Nunca”, que foram gravadas em estúdio), em Julho de 1993.






Bom, eu não seria nada original se dissesse que é considerado por muitos, um dos melhores (quiçá o melhor!) álbum da banda, tanto entre os Ao Vivo, Acústicos e de Estúdio, pelas inéditas, pelas reinventadas (dá pra considerar praticamente como um disco de inéditas, considerando as ótimas versões que conseguem melhorar ainda mais as músicas já lançadas...), pelo estilo semi-acústico (Com a percussão feita sem bateria, com guitarras acústicas, piano, acordeon), nem lá-nem-cá, a contribuição da Orquestra Sinfônica, regida por Wagner Tiso, o amadurecimento, a despedida do guitarrista Augusto Licks, dando fim à “Era GLM”... Também, seria igualmente inútil dizer que eu o acho, de fato, brilhante! Visto que minhas opiniões elogiosas à banda são altamente suspeitas, dado o meu fanatismo... Então, deixo à seu critério o julgamento.   

Infelizmente, não encontrei um vídeo com o disco completo, exceto esse aqui... 
Mas já dá pro gasto, rs.

Enjoy!


Inédita e “abre-alas” do disco, com uma pitada clássica, acompanhada da orquestra sinfônica de Wagner Tiso, num clima perfeitamente ambientado à letra, te transportando à auto mar, “onda após onda, após onda... O barco ainda flutua. Ao sabor do acaso, apesar dos pesares...”.
Como todos os discos, seguindo a lógica artística da banda, o projeto é iniciado no clima proposto: à deriva.
“Então, preste atenção: O mar não ensina, insinua. Estamos no mesmo barco, sob a mesma lua
Ao sabor da corrente, tão fortes quanto o elo mais fraco
Âncora, vela, qual me leva? Qual me prende?
Mapas e bússola, sorte e acaso, quem sabe do que depende... (?)”.

Resgatada do 2° disco (Arevolta dos Dândis – 1987), e reinventada num blues acústico, a música perde a agressividade e ganha uma cara mais sínica, como quem passa do revolucionário irado ao crítico maduro...
“As coisas mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão”.

Agora, voltando ao 3° disco (Ouça o que eu digo, não ouça ninguém – 1988), a canção ganha sua versão cheia de charme com a guitarra do Licks, acompanhando irresistivelmente cada verso. A percussão suave do Maltz regendo o clima manso da nova versão, e o Gessinger, bom, sendo o Gessinger...
“Pra entender... Nada disso é tudo, e tudo isso é fundamental!”

A segunda inédita lançada no acústico, com a gaita que a banda tanto gosta de usar, brilhando junto com o vocal, (e provavelmente só por este motivo não é tocada pelo multifacetado vocalista...), e à certa altura ganha também o acompanhamento de um triângulo...
“Quanto vale a vida, longe de quem nos faz viver?
São segredos que a gente não conta, são contas que a gente não faz
Coisas que o dinheiro não compra, perguntas que a gente não faz...”
Depois, virando um reggae engata um meddley com “Terra de Gigantes”, de onde vem o questionamento que dá nome a ela, e mais pra frente ganha um trechinho de “Refrão de um bolero” e “Perfeita simetria” .

Ainda resgatando o disco de 1988, é a vez da crônica ser cantada quase como um repente, com triângulo e belos novos arranjos em guitarras acústicas e uma percussão, acredito eu que em um bongô, e o belo acompanhamento das palmas, que energia...
“... Tudo isso já faz parte da rotina, e a rotina já faz parte de você... Que tem ideias tão modernas!
E é o mesmo homem que vivia nas cavernas...”.

A belíssima música do 5° disco (O papa é pop – 1990) substitui o piano pelo acordeon pela primeira vez, nascendo uma de suas versões mais belas.

Lançada no 6° disco (VáriasVariáveis – 1991), eu me arrisco a dizer que essa versão humilhou a primeira. Não que a original fosse ruim, mas essa versão aqui realmente... Só ouvindo. Coisa linda!
“Uma voz sublime, uma palavra sublime, um discurso subliminar
Entre sombras, entre escombros da nossa solidez...”.

A canção que dá nome ao 4° disco, o primeiro acústico (Alívio Imediato – 1989), a sua reinvenção ganha não apenas nova melodia, mas também letra alterada em alguns trechos.
“Que a noite traga alívio imediato, e que os muros e as grades caiam...”.

Sem medo da redundância, eu me atrevo a afirmar que este disco re-lança a melhor versão pra esta, também do 6° disco. Acompanhada pela orquestra, e com o Gessinger ao piano, a versão se tornou mais popular que a de lançamento.

Também acompanhada pela orquestra, original do 5° CD, a música ganha o seu glamour clássico, mas sem perder o tom marcial com a percussão em marcha no final.

Terceira inédita lançada neste disco, é gravada em estúdio, e plugada. Uma combinação de ritmos dentro dela, com sax, acordeon, triângulo e pesados riffs de guitarra em perfeita harmonia, cada um em seu momento. A letra é mais uma dessas demonstrações geniais do raciocínio subjetivo e subliminar do letrista, méééstre!
Às vezes nunca é a materialização sonora daqueles momentos que não aconteceram ainda, mas na sua cabeça são praticamente sólidos! Entendeu? Não? Então ouve...
“Às vezes não entendo o que você quer dizer quando fica calada,
você sempre soube (eu não sabia)
Quando a frase acaba, o mundo silencia
Às vezes não entendo onde você quer chegar quando fica parada
É como ficar esperando cartas que nunca vão chegar...”

A quarta música inédita, também gravada em estúdio, e com ares de encerramento, como que projetada pra fechar o disco... E um encerramento irônico, iniciado e terminado com um coral de acompanhamento.

“É preciso fé cega, e pé atrás. Olho vivo, faro fino, e tanto faz...”.

Até o "Simples de Coração"
Tchau! o/