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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Sérgio Sampaio 2: "Tem que Acontecer", 1976

"Um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar de poesia é na calçada".

Foi exatamente essa frase que me fez parar e reparar na obra do Sérgio Sampaio. Essa pérola está na terceira faixa desse disco, "Tem que acontecer", lançado em 1976 pela Continental, e que, infelizmente, foi um fracasso de vendas. Triste demais, visto ser um disco maravilhoso, com canções incríveis, bem gravadas, bem produzidas, com participações especiais de gente do naipe de Altamiro Carrilho e Abel Ferreira.

Esse disco tem algumas das melhores composições do Sampaio. A já citada "Cada lugar na sua coisa" é uma pérola da MPB. "Que Loucura", "Velho Bandido" e a faixa título não perdem em nada, também. O LP é bem mais voltado pro samba, menos diverso que o anterior. Mas não é menos genial. Mais uma vez, infelizmente teve pouca divulgação, pouca repercussão, pouca mídia. A imprensa e os críticos praticamente jogaram o Sérgio pra escanteio. Sua vida desregrada de noitadas também não colaborou pra que o disco tivesse um desempenho melhor.





Mas paciência. Felizmente ele ganhou uma reedição em CD pela Warner, mais recentemente. Justamente esse disco que um dia lhe consagrou o título de "Maldito da MPB", e que também diferenciou Sampaio de tudo o que a MPB já havia produzido, não pela sonoridade, mas pela carga poética, pela forma como o cara construiu suas canções, pela maravilhosa união da música popular às histórias da vida de um brasileiro médio, sonhador e artista. A faixa introdutória já é um prenúncio de como o album vai se desenrolar. Muito samba, letras fortes, extremamente pessoais, biográficas, crônicas da vida de um jovem Sampaio:

01. Até outro dia
Sambinha na caixinha de fósforo, tamborim, agogô, bumbo, cavaquinho, e tudo que se tem direito. O violão mantém a base melódica, e Sampaio canta, melancólico, que quem manda nele é ele mesmo, ninguém mais. "Por isso eu quero pedir pra você se mandar até outro dia em outro lugar". Ai! de quem disser pra ele o quê ele deve fazer da própria vida. Uma filosofia bem próxima dos pensamentos do Raul Seixas, aliás. Uma samba que poderia ter saído de qualquer morro carioca, de qualquer bairro de periferia brasileira, mas com um tom singular, imperativo e com um leve toque de ironia (uma das especialidades do Sérgio).

02. Que loucura
Torquato Neto, em 1972
"Fui internado ontem, na cabine 103...". E depois de dizer que é um homem livre, que não será nunca comandado por ninguém, não será submisso, ele é aprisionado num hospício, acusado de ser maluco, doido mesmo, psicótico. E talvez estivesse, em pleno 76 de forte repressão militar. Ele diz que está "doente do peito... do coração", mas admite que está "maluco da ideia, guiando o carro na contramão". O som me lembra alguma coisa perto do foxtrote (ou foxtrot), numa das suas variações mais lentinhas, meio que "encaixada" numa levada mais swingada, bem mais prum sambinha. Se não me engano, um sax super choroso dá um tom bem melancólico pra canção. E no fim, uma gaitinha bem marota, substitui o sax, trazendo um clima bem mais animado.

(Há quem diga que ela foi feita em homenagem ao poeta Torquato Neto, já então morto... cometeu suicídio em 72...)

03. Cada lugar na sua coisa
Ai vem o  momento revelador. Na verdade, sua loucura é também a fonte da sua criatividade, do seu fazer artístico. E esse não pode ficar preso num hospício, nem em lugar nenhum. "Lugar de poesia é na calçada... lugar de música é no rádio... Lugar de samba enredo é no asfalto". O poder da arte e da comunicação, e a importância desses meios serem públicos, divulgados, espalhados, acessíveis. Uma peça brilhante que começa lá no alto, com flauta, violão, baixo e percussões (que aliás são incríveis e super detalhadas), e que se mantém. Essa flautinha cria um ambiente etéreo, que contrasta com a firmeza da batida dos outros instrumentos. A harmonia me lembra alguma coisa próxima ao flamenco, e escalas latinas, como a da rumba. Mas o ritmo, de novo, é o samba, que come solto no finzinho da canção, o momento mais emocionante, a explosão de sentimento, a voz do Sérgio Sampaio em vibrato, incrível! "Aonde a pé vai, se gasta a sola, lugar de samba enredo é na escola". Essa foi a música que me fez prestar atenção no Sampaio, me fez querer saber mais sobre o Kavernista misterioso, o cara do "bloco na rua". É, pra mim, uma das melhores coisas que ele já fez e também uma das melhores que a música popular brasileira já concebeu, na boa.

04. Cabras pastando
E é isso ai bicho, Sérgio Sampaio não é cobra, nem carneiro, nem cachorro, nem cordeiro. Herói ou bandido? Poeta e cabra? Talvez. Nesse "blues" (com muitas aspas) bem animado, só nos violões, o cara dá seu recado, diz quem é e quem não é, cada lugar na sua coisa. Debocha mas não nega suas origens. É uma letra muito bem sacada. O violão solo come solto, sem parar, sem descanso e contrasta muito bem com a melodia da voz. No geral, é uma canção mais simples que as outras, mas mesmo sim tem seu brilho próprio.

05. Velho bode
O bolerão come solto nessa faixa. Aquele violão de chorinho, cavaquinho no contraponto, um batuquezinho suave só pra sambizar (...sorry...) o bolero, abrasileirar o acento latino. A sanfona entra bem pra complementar a harmonia, com aquele timbre que me soa tão nostálgico, dramático.  Agora, me pergunto que bode é esse que ele tanto rejeita, que ele culpa por tudo de errado que se dá com ele, um estorvo... Que bicho é esse que tá incomodando o Sampaio? O Regime? A mídia? Uma velha namorada ou um "amigo" que vive pedindo grana emprestada? Sei não... rs


06. O que pintar, pintou
O clima volta a esquentar nessa faixa, um sambão digno de roda de morro num domingo carioca, churrasco, cerveja, festa e luxúria, afinal, "o que pintar, pintou! se a barra subir, eu subo, se a barra descer eu desço... se você disser que quer, eu digo que quero também...". Bom, deu pra sacar, né?

07. A luz e a semente
Melodias suaves de flautas e piano. Uma das canções mais bonitas do disco, adoro essa. A poética dessa música é simplesmente maravilhosa, a letra é incrível. Dá pra imaginar Sérgio caminhando de volta pra casa, depois de uma boa noitada de som, goró e prazeres da carne, enxergando os primeiros raios de sol do dia, sentindo aquele sentimento de "o dia está começando". Mesmo bêbado, vadio, vazio, sem mais nada pra beber, tropeçando pelas calçadas, desmemoriado, ele está renascendo, voltando a ser "menino" na luz do dia (a semente que vai brotar), diferente do "adulto" noturno. O mais interessante é que de fato as estruturas harmônicas e melódicas do som traduzem muito bem esse cenário matinal. Brilhante.

08. Quanto mais
Mais um sambinha, ainda mais maroto e swingado que os anteriores, com tudo que se tem direito, inclusive coral feminino cantando em harmonia, no melhor estilo "raiz". Nesse ponto não tem nada de novo ou muito original aqui, porém a letra justifica a necessidade de uma melodia ordinária, um tema musical bem popular. O lance aqui é : menos é mais (e melhor). "Quanto mais eu sofro mais coração me aparece...".


09. Tem de acontecer
A faixa título é apoteótica, tem ares de peça épica, extremamente dramática, com harmonias que lembram as escalas árabe-flamencas. Começa com um toque sutil de mistério, percussões "fantasmas", e uma explosão que leva pro primeiro verso. O conjunto de cordas, no refrão, acrescenta uma dramaticidade extra ao som, sem falar da flautinha. A letra fala basicamente da impotência de escolher ou manipular o destino dos outros, do desconforto que essa sensação gera, do desespero de querer ajudar, interferir de forma positiva, mas ser impedido pela lei da liberdade. "Mas não posso fazer nada, não sou Deus nem sou senhor...". Sérgio tenta estender mão, mas parece que a mulher abandonada não quer ou não aceita ajuda. Mais uma vez, tema e composição casam divinamente.


10. Quatro paredes
Melancólica, cantada apenas com o acompanhamento do violão (acredito que gravado pelo próprio Sérgio). O arranjo é muito rico, e mostra a habilidade do cara, e principalmente nas melodias maravilhosas da sua voz. Um segundo violão entra pra criar um contraponto mais grave e deixa o som ainda melhor. A letra é tensa... rs. Mas é muito linda. Acho que a mais bonita do disco todo, apesar de todo rancor, é super sensível.

11.  Filho do ovo
Essa é uma sacada marota sobre a vida, as idiossincrasias humanas, e a condição que nos torna todos iguais, apesar de diferentes. "Todo filme tem mocinho e bandido, tanto faz receber prêmio ou castigo. É um vasto capinzal, que alimenta todos os famintos". Genial. Mais um sambinha, o cara gostava mesmo do negócio. A novidade aqui tá no naipe de mateis (ou madeiras?) que entra no início. Interessante, dá uma sonoridade bem diferente dos outros sambas do disco. Os backings cantados em coro feminino permanecem, assim como tudo o mais, bumbo, cuíca, cavaco, enfim...

12. Velho bandido
E pra acabar... mais um samba! rs. Agora bem mais parecido com o que conhecemos popularmente como chorinho. Flautas em contraponto, violão de 7 cordas comendo solto nos graves, cavaco, pandeiro, e toda a turma da percussão brasileira. Arrisco dizer até que tem um bandolim. Sérgio deixa sua marca, finaliza sua mensagem, com mais uma letra cantada em primeira pessoa (como outras várias aqui, e todas sensacionais). Pra mim, essa tem a melhor letra, não só porque é muito bem construída, a métrica, a poesia e tudo mais, mas também porque parece uma espécie de profecia. "...sou feio, desidratado e infiel, bolinha de papel, que nunca vou ser réu dormindo, e descobri como um velho bandido que já tudo está perdido neste céu de zinco". E ainda "...e como eu fui o tal velho bandido, vou ficar matando rato pra comer, ançando rock pra viver, fazendo samba pra vender... sorrindo". Parece que Sérgio já sabia que seria "consagrado" como um maldito da MPB. É como se ele tivesse percebido que não havia lugar pra ele na indústria musical, não só no fim do anos 70, mas principalmente nos anos 80. O sonho de ter uma música sua gravada pelo conterrâneo Roberto Carlos, nunca se realizaria. E com essa faixa tragicômica (afinal o som é bem irônico) ele termina o disco.

(Na edição recente (relançamento em CD) o disco ainda conta com três faixas extras: "O teto da minha casa", "Ninguém vive por mim" e "História de boêmio (Um abraço em Nelson Gonçalves)". A primeira, uma canção rancheira, campestre, com uma gaitinha que é uma delícia e letra bem bucólica, mas não menos poética. A segunda lembra um pouco o que Sérgio gravou no disco anterior, sonzinho bem suingado, com um refrão lindo e uma letra bem genial, bem autobiográfica (pra variar, rs), gosto muito dessa faixa. E a derradeira, um sambão choroso com a cara de "Velho bandido", uma canção "irmã" dessa última.)

 É, minha gente, assim termina esse disco antológico. O segundo e penúltimo da sua carreira (pelo menos em vida). O disco seguinte, "Sinceramente", sairia somente seis anos depois, em 1982, e faria ainda menos sucesso (ou melhor, seria um fiasco maior). Mas esse é assunto pro próximo post. Lembrando que os títulos das músicas também são links pras letras. Por favor, comentem! =D

Até já!

*Disco na íntegra:


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Kiss 11 - Dynasty (1979)

Oi, eu sou o Salinas! O "retorno" do Kiss depois dos quatro álbuns solo fez muito sucesso, mas não como os anteriores. Os fãs mais antigos (sim, porque a esta altura já existia uma "turma das antigas") torceram o nariz pra sonoridade mais pop e comercial. Começando no primeiro hit, I Was Made for Lovin' You, onde eles dão uma resposta à febre da disco music que estava no auge. Mas com isso a banda ganhou muito em popularidade fora do rock: até então muita gente não engolia essa banda, por demais agressiva e sexual.

Mesmo com os discos solo, a coisa já não ia bem com o Homem-Gato, que se afundava cada vez mais nas drogas e na desmotivação. Ele foi creditado neste disco mas foi substituído no estúdio por Anton Fig, aparecendo só em Dirty Livin' na bateria e vocal.

"I Was Made for Lovin' You" (Desmond Child, Paul, Vini Poncia)

O disco começa com uma estranha levada oitavada no baixo, bem diferente do que o fã tradicional do Kiss está acostumado. Um baixo repetitivo, quase hipnótico, ritmado, feito para fazer o corpo se mexer. Estaria o Kiss se rendendo à disco music? Não, não... apenas mandando um "beijinho no ombro" das invejosas que os achavam incapazes de sair de seu próprio estilo. E haja briga entre "jaquetas de couro" e "calças boca-de-sino" pela noite de Nova York. Tecladinhos do Vini Poncia (que também produziu o disco), de leve, no "tema B".

"2,000 Man" (Mick Jagger, Keith Richards)

Agora voltemos pro bom e velho rock & roll, nem tão rápido mas parrudo, com solo matador e tudo. Uma faixa inesperadamente filosófica (guardadas as proporções), não só por ser tocada pelo Kiss mas por ter sido composta pelos Rolling Stones! Nas últimas décadas do século XX e do 2º milênio, Mick/Ace olham para o futuro, onde se vêem "tendo encontros com os computadores" (visão profética!!), vivendo a eterna e perdida batalha com as gerações seguintes, que não os entendem. Retrofuturismo estilo Kiss!

"Sure Know Something" (Paul, Vini Poncia)

A primeira faixa que explica o estranhamento dos fãs mais antigos. Numa sonoridade bem mais pop, bem mais próxima de música de motel, Paul dá o recado: a mina "quebrou o coração dele", e ele ainda não conseguiu resolver isso na cabeça. Mas não é tão simples assim, ele sabe de alguma coisa aí... nesse mato tem coelho!

"Dirty Livin'" (Peter, Stan Penridge, Vini Poncia)

Aqui Peter colocou pra fora toda sua insatisfação com a banda. Sim, no fundo o errado era ele, largando a banda por causa de bebida e cheirada. Mas ele também estava cansado dessa "vida suja" de ficar rodando por aí, horas e horas de estrada, avião, loucuras de agenda, gravações, shows, e o pior, "pessoas ao meu redor me deixando sangrar"...e tudo isso só pra deixar "mãe, irmã, irmão preocupados, com o som alto na jukebox". Só lhe resta o público, onde "desconta toda a raiva" (com seu som, claro).

"Charisma" (Gene, Howard Marks)

Momento canastrônico do disco, digo, do Gene... já tava até fazendo falta, fala aí! Ele faz um jogo sonoro (em inglês) com o som de "what is my" e "charisma", e joga pra geral: mas e aí gata, afinal o quê que te deixa louca comigo? Meu nome? Minha fama? Meu dinheiro? Meu... ~corpo~?

"Magic Touch" (Paul)

Paul ataca novamente. Aquela mina tinha o "toque mágico", ela sim era sensacional. Pena que não queria nada sério. Paul não tá a fim de perder essa mina de jeito nenhum! Essa foi outra das faixas que não agradaram o pessoal mais hard rock, com essa pegada mais popzinha, mais "namoro no sofá".

"Hard Times" (Ace)

Mas aí chega o Ace pra salvar com a pegada forte do rock & roll. Ao contrário do Peter, cada vez mais pra baixo, Ace tá feliz da vida com o sucesso. "Os tempos difíceis estão mortos e enterrados / mas me tornaram forte / me fizeram ver / que é lá que eu não quero estar". E de fato, desde os últimos discos ele vem ganhando mais espaço: aqui ele assinou e cantou duas músicas próprias e mais um cover, ou seja, um terço do disco.

"X-Ray Eyes" (Gene)

Gene ataca novamente na sua batida pesadona, agora com seus novos "olhos de Raio X". Ele consegue ver através, não do corpo da mina (bom, em se tratando de Gene Simmons, isso também), mas através das mentiras dela. "Ain, não tô afim hoje". Sei... pode ir então: vai voltar "rastejando" depois. Só achei desnecessário aquele efeitinho sonoro do raio X no final...

"Save Your Love" (Ace)

Ace fecha o disco terminando com a mina como um verdadeiro roqueiro. Não ia dar certo essa competitividade entre eles, ele até achou que ela já tinha percebido isso. Só que ela tentar passar à frente dele, mudar sua cabeça, aí já é demais! Agora "guarde seu amor, não preciso dele". Deixe aí "na prateleira", quem sabe talvez, apenas talvez, apareça outro.

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Kiss 10 - Peter Criss Solo (1978)

Oi, eu sou o Salinas! Em 1978 os ânimos já estavam exaltados dentro do Kiss: Paul e Gene eram os chefões indiscutíveis, assumiam a banda como um negócio, assinavam a maioria das faixas e sempre apareciam mais nos shows, programas de TV, mídia, etc. Ace e Peter, por mais importantes que fossem como guitarrista solo e baterista, não tinham a mesma pegada "comercial" e acabavam ficando sempre em segundo plano, inclusive nos discos, onde tinham pouco espaço para incluir suas canções.

Foi então que Gene Simmons teve a grande ideia de lançar nada menos que QUATRO discos solo, um para cada membro da banda. Nestes discos cada um poderia gravar o quê, como e com quem quisesse. Os quatro discos foram lançados no mesmo dia (18 de setembro), e os fãs se viraram para comprar todos, pois fã nenhum do Kiss se contentaria só com um dos solos. Resultado: Ace e Peter deram vazão à sua criatividade musical (e ainda bem para nós, pois "Ace" é o melhor dos quatro!) e a banda ganhou muito dinheiro!

O disco solo de Peter Criss é inesperadamente bom para alguém que sempre foi visto como o "coitadinho" do grupo. O mais emotivo dos quatro, subalterno apenas cumprindo ordens da chefia, queria ser lugar como compositor e nunca deixavam. Quando saiu seu disco, Paul e Gene fizeram questão de deixar claro que o acharam um lixo, mas a verdade é que o "Peter" não deve nada aos demais solos. Boa parte das canções, do próprio Peter, veio das antigas bandas dele, Lips e Chelsea. Mesmo assim, o disco acaba passando uma sensação de "hmm, tá bom vai, é até um disquinho bom". Mas não tem a paudurescência do Ace, nem a canastrice do Gene nem a paixão do Paul, ah, sei lá...

Talvez por causa justamente dessa publicidade negativa, o disco teve a menor repercussão entre os 4 solos. Mesmo assim, foi o único a ter 2 hits ("You Matter to Me" e "Don't You Let Me Down"), enquanto os demais tiveram apenas um.

"I'm Gonna Love You" (Peter, Stan Penridge)

A batida surpreende a todos logo no começo, bem menos rock & roll e muito mais R & B. Um baixo malandrão e batida no piano dão o tom. Em seguida entra a voz rouca do Homem-Gato, só faltando pedir pelamordedeus pra mina não o largar. E ele consegue a proeza de deixar cair o andamento na faixa de abertura do próprio disco dele! Não, Peter... não é assim...

"You Matter To Me" (Michael Morgan, Vini Poncia, John Vastano)

Um dos hits do disco, e a minha faixa favorita! Fraseado simpático no teclado abrindo a faixa, pra uma levada mansa e amorosa. Backing vocals masculinos no refrão. Peter usa metáforas pra explicar o quanto a mina "é importante pra ele".

"Tossin' And Turnin'" (Ritchie Adams, Malou Rene)

Cover da canção gravada por Bobby Lewis, Marvelettes, e mais tarde por Joan Jett (John Legend também tem uma outra canção com esse nome). Diferente das faixas mais maneirinhas anteriores, os acordes mais graves passam o "noturno" da situação. Solo de sax, back vocals femininos. Woodblocks na bateria simulando um tic-tac de relógio. Peter teve uma noite longa. Não consegue dormir, levanta, acende luzes, vai à cozinha, volta... mas não adianta, fica só pensando na mina e "se revirando" nas cobertas.

"Don't You Let Me Down" (Peter, Stan Penridge)

O outro hit do disco. Batida lenta, romântica, rostinho colado. Outra declaraçãozinha de amor estilo Peter Criss.

"That's The Kind Of Sugar Papa Likes" (Peter, Stan Penridge)

Agora uma mais animadinha. Peter mostra seu lado canastrão. Já tinha dado um pé na menina no passado, mas agora tá afim de novo. "Você é o tipo que açúcar que o papai aqui gosta"...

"Easy Thing" (Peter, Stan Penridge)

Agora uma ~rock ballad~. Peter, o cantor romântico, lembra que o amor é tão difícil de encontrar e tão fácil de perder. Você sentirá que o amor é real, apenas quando o perder. Guitarras lentas, base de strings lá no fundão e backing vocals dão a atmosfera.

"Rock Me, Baby" (Sean Delaney)

Outra animadinha depois da balada, a batida Crissística R & B com piano e metais acompanhando. Peter já sacou a da mina, se escondendo nessas de "não precisar do amor de ninguém", e tá a fim de ~balançar~ com ela.

"Kiss The Girl Goodbye" (Peter, Stan Penridge)

Outra rock ballad lentinha, mas agora só no violãozinho, com umas percussões e back vocals acompanhando. Peter não pode ficar, tem que ir embora mas vai voltar! Dá um "beijo de até logo" na garota, e tenta não deixá-la triste, querendo encontrá-la novamente quando voltar.

"Hooked On Rock N' Roll" (Stan Penridge, Peter, Vini Poncia)

A minha outra faixa favorita! Peter agora não está preocupado com garotas que vêm e vão. Declara seu amor, sim, mas ao rock & roll, aos blues, enfim à música. O melhor da levada Crissística está aqui, enquanto Peter conta sua história desde criancinha, quando foi "vacinado com uma agulhinha e está viciado em Rock & Roll"!

"I Can't Stop The Rain" (Sean Delaney)

E pra fechar o disco, uma última baladinha, outro clássico do Peter Criss. Vê a chuva cair e pensa na mina, "o único amor que teve", que deixou escapar...

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo desta vez vai ficar chupando o dedo, pois não tem no Youtube!

E é isso!


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Kiss 9 - Ace Frehley Solo (1978)

Oi, eu sou o Salinas! Em 1978 os ânimos já estavam exaltados dentro do Kiss: Paul e Gene eram os chefões indiscutíveis, assumiam a banda como um negócio, assinavam a maioria das faixas e sempre apareciam mais nos shows, programas de TV, mídia, etc. Ace e Peter, por mais importantes que fossem como guitarrista solo e baterista, não tinham a mesma pegada "comercial" e acabavam ficando sempre em segundo plano, inclusive nos discos, onde tinham pouco espaço para incluir suas canções.

Foi então que Gene Simmons teve a grande ideia de lançar nada menos que QUATRO discos solo, um para cada membro da banda. Nestes discos cada um poderia gravar o quê, como e com quem quisesse. Os quatro discos foram lançados no mesmo dia (18 de setembro), e os fãs se viraram para comprar todos, pois fã nenhum do Kiss se contentaria só com um dos solos. Resultado: Ace e Peter deram vazão à sua criatividade musical (e ainda bem para nós, pois "Ace" é o melhor dos quatro!) e a banda ganhou muito dinheiro!

Na minha humilde opinião, este é o melhor dos 4 discos solo! Aqui não tem mela-cueca nem canastrice, é só cacetada do começo ao fim! Ace Frehley, o guitarrista bêbado, provou neste disco que, musicalmente, poderia carregar a banda nas costas, se os chefes deixassem. Para a bateria ele chamou Anton Fig, que logo substituiria Peter no Kiss, e mais tarde foi para a Frehley's Comet quando Ace saiu. E no baixo, Will Lee, que também conseguiu alguma fama em outras bandas. O som é o mesmo hard rock do qual o próprio Kiss faz parte, porém com muito mais energia, e sem canalizá-la tanto para o lado sexual. Claro, existem as mulheres, mas Ace (que ganhou esse apelido no colégio por ser ~especialista~ em roubar as peguetes dos colegas) coloca o foco no som, o principal atrativo do disco. "New York Groove" foi um grande hit na época, comparável à "Beth" de Peter Criss. Apenas "I Was Made for Lovin' You" repetiu o sucesso 1 ano depois, em Unmasked.

"Rip It Out" (Ace, Larry Kelly, Sue Kelly)

A primeira faixa já entra com o pé no peito e força total! A distorção nas notas longas, logo no começo, joga a levada Kissística pra debaixo do tapete. Solo matador, com um "bridge" antes na bateria. Ace esculhamba geral com a mina: está cansado dela enganá-lo e não quer mais saber (embora sofra por isso), "I think it's better if we just part and don't say goodbye... I hope you suffer!".

"Speedin' Back To My Baby" (Ace, Jeanette Frehley)

Batida bem marcada no bumbo da bateria, levada estradeira na guitarra. Ruidagem de carros, outro solo matador. Ace saiu por aí com o "rádio no último", pra tentar esquecer a última briga com a namorada. E começa a pensar, eles sempre brigam "quando tudo parece estar bem". Será que deveria parar? Ou dar meia-volta? E no fim resolve "voltar a toda". Essa Jeanette Frehley era mulher dele na época, mas depois eles se divorciaram. (Provavelmente com treta, pois a ex não é sequer citada na Wikipédia...)

"Snow Blind" (Ace)

Levada mais lenta. Como de hábito no rock, várias bandas já gravaram músicas com esse nome, todas relacionadas à cocaína. E com o Ace, logo ele, o bêbado do grupo, não seria diferente: "estou cego na ~neve~, acho que estou perdido no espaço". A dinâmica aumenta no solo, seguido por viradas de bateria.

"Ozone" (Ace)

Ace, o aéreo, andou lendo sobre a camada de ozônio e achou tudo a ver. Outra faixa lenta, falando sobre o ~ozônio~, que ele adora, e que o deixa "alto, voando, e se sentindo bem".

"What's On Your Mind?" (Ace)

Depois de duas faixas viajandonas sobre drogas, a batida volta a subir. Ace, novamente sóbrio, já está com problemas novamente com sua garota. A coisa não tá legal, a sintonia entre eles já não é a mesma. Ace não sabe "o que se passa na cabeça dela", e isso tá acabando com ele.

"New York Groove" (Russ Ballard)

Batida malandra, bumbo marcando as passadas dançantes. O grande hit do disco, até hoje lembrada por lá. Ace ficou muitos anos longe, mas agora, com um "punhado de dólares", voltou ao "balanço de Nova York"! Hoje em dia não parece ter nada tão especial na esquina da "3 com a 53" além de algumas lojas e lanchonetes, mas na época devia ter algum rolê daora...

"I'm In Need Of Love" (Ace)

Batida lenta novamente, com efeitos de reverb e slide na guitarra. Ace está apaixonado e "precisando de amor"... ou estará novamente se referindo aos seus (outros) vícios? Outro solo matador com a dinâmica aumentando em relação ao resto da música.

"Wiped-Out" (Ace, Anton Fig)

Entrada caótica, com bumbo e uma estranha gargalhada. Ace conta a história de quando ele estava numa festa, de boas bebendo, quando apareceram "dois grandes olhos azuis que brilhavam", mas ele estava bêbado demais e não conseguiu ficar em pé pra falar com ela... mas mesmo assim ela topou ir "voar pra outro lugar, a muitas milhas dali, no ~espaço~", se é que me entende...

"Fractured Mirror" (Ace)

E pra fechar o disco, um instrumental. Um sino bem "domingo de manhã após a bebedeira" dá a entrada. O violão fica repetindo um riff enquanto os demais instrumentos vão aparecendo: caixa, uma guitarra distorcida, o baixo, e até um teclado mais pra frente. E no final eles vão indo embora, um a um, até que no fim fica só o mesmo riff do começo, em fade-out...

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Kiss 8 - Gene Simmons Solo (1978)

Oi, eu sou o Salinas! Em 1978 os ânimos já estavam exaltados dentro do Kiss: Paul e Gene eram os chefões indiscutíveis, assumiam a banda como um negócio, assinavam a maioria das faixas e sempre apareciam mais nos shows, programas de TV, mídia, etc. Ace e Peter, por mais importantes que fossem como guitarrista solo e baterista, não tinham a mesma pegada "comercial" e acabavam ficando sempre em segundo plano, inclusive nos discos, onde tinham pouco espaço para incluir suas canções.

Foi então que Gene Simmons teve a grande ideia de lançar nada menos que QUATRO discos solo, um para cada membro da banda. Nestes discos cada um poderia gravar o quê, como e com quem quisesse. Os quatro discos foram lançados no mesmo dia (18 de setembro), e os fãs se viraram para comprar todos, pois fã nenhum do Kiss se contentaria só com um dos solos. Resultado: Ace e Peter deram vazão à sua criatividade musical (e ainda bem para nós, pois "Ace" é o melhor dos quatro!) e a banda ganhou muito dinheiro!

Aqui Gene deu vazão, de uma vez por todas, ao seu personagem "The Demon". Um monstro indefinível, ameaçador e intimidante, que se alimenta de mulheres, lindas garotas, virgens ou não. Curiosamente, ele não toca baixo nesse disco (mas mantendo a conhecida pegada arrastada, centralizando a pulsação na cozinha), deixando isso a cargo de um dos muitos amigos (músicos e outros) que ele chamou. Uma verdadeira festinha (certamente regada a muita bebida e mulherada), incluindo Joe Perry, Bob Seger, Rick Nielsen, Donna Summer e até a então-peguete Cher. A primeira faixa, "Radioactive", foi o hit do disco.

"Radioactive" (Gene)

Gargalhada sinistra. Strings descendo em dissonâncias e cromatismos, o máximo de tensão, desgraça total. Grunhidos demoníacos, vocais femininos (com uma estranha pegada asiática). E no meio disso tudo surge uma inesperada batida alegre e bacanosa, de volta ao baixo-bateria-guitarra. Óculos escuros, dirigindo pela estrada ao sol. A guitarra faz um efeito "borbulhante", estranho mas daora, ao entrar nos refrões grudentos. Uma declaraçãozinha de amor sacana, estilo Gene Simmons, pela sua mina "radioativa" de tão gostosa. No CD original o corte entre faixas ficou errado, a música foi parar na faixa 2 junto com a música seguinte. Posteriormente o disco foi remasterizado, e esse erro, corrigido.

"Burning Up With Fever" (Gene)

"One, two, three, four!!" meio esganiçando. Acordes esquisitíssimos, tudo torto, num violão sussa. Em seguida a batida lenta e arrastada, assinatura do Gene. Viradas bacanas no baixo rouco. Ele está "queimando de febre, e a febre é você", garota, mas só vai fazer isso "uma vez"... e "não vai ficar na fila"!

"See You Tonite" (Gene)

Outra entradinha tranquila no violão, seguida por uma batida mais lenta, meio country. Gene se apaixonou naquela outra noite, e "hoje à noite" quer ver a mina de qualquer jeito, senão vai "chorar e chorar". Coitado, nem lembra o monstro sedutor. A música fecha bonitinho num power chord.

"Tunnel Of Love" (Gene)

Agora sim o monstro abriu as asas. Entrada só no baixo e bateria, com toda a canastrice e sacanagem que só Gene Simmons é capaz de colocar numa música. Hoje Gene está a fim de fazer uma visita ao "túnel do amor"... e os back vocal femininos deixam muito claro que ele não se refere ao parque de diversões.

"True Confessions" (Gene)

Outra batida Genezística no baixo e bateria. Gene pira nos segredinhos sujos do passado da mina, "confissões verdadeiras"... quem não curte um dirty talk? Uma estranha parada no meio do refrão pra mandar uns vocais quase de igreja, acho que pra dar a ideia do "confessionário", rs...

"Living In Sin" (Gene, Sean Delaney, Howard Marks)

Entrada só na bateria, Gene falando no ouvidinho... quase dá pra sentir o bafo quente no pescoço (pensando bem, esse começo é zoado... kkkk). O lance é que a mina ficava mandando cartas quentes pra ele, e o encontrou no tal "Holiday Inn". Ela liga pro quarto dele... (e quem faz a voz é a própria Cher) Queria confirmar os boatos que Gene Simmons gosta de conhecer suas fãs ~pessoalmente~, mas nem chegou a terminar a pergunta: "às vezes meu amor vai longe demais"... apesar do xaveco do Gene no começo, é a minha faixa favorita do disco, e a que melhor define o nosso baixista comedor-demoníaco.

"Always Near You/Nowhere To Hide" (Gene)

Outra pegada lenta no violão e voz, com um brilho de strings, e bateria. Ele está "sempre perto" da menina, ela não consegue se esconder à noite, é só pensar nele, "tocar nele". No final da música aparecem novamente os backing vocals angelicais.

"Man Of 1,000 Faces" (Gene)

Uma das poucas faixas em que ele não fala de mulheres, e sim da própria auto-determinação em realizar seus sonhos. Pegada mais "patriótica" e orgulhosa, com naipes de metal acompanhando a banda e dando aquela grandiosidade, mas diferente dos backing vocals religiosos de outros momentos. Gene é o "homem de mil rostos", dos mil empregos (professor de inglês, salva-vidas, datilógrafo...), que por muito tempo alimentou seus sonhos, e "conseguiu torná-los reais".

"Mr. Make Believe" (Gene)

Começa lentinha só no violão e voz e depois anima. Gene hoje não está tão monstruoso assim, a canastrice ficou no bolso. Hoje ele só quer que a gaja dê mais uma chance pro "Sr Faz de Conta"... no final entra uma guitarra distorcida a mais, fazendo um balanço bacana.

"See You In Your Dreams" (Gene)

Gene resolveu re-gravar uma faixa do Rock & Roll Over (já comentada), que pelo jeito ele não tinha gostado muito. E que sorte a nossa! Esta versão tem muito mais paudurescência, backing vocals pra tudo que é lado, solo matador do Rick Nielsen (se bem q meio com cara de Ace Frehley)... ficou sensacional!

"When You Wish upon a Star" (Ned Washington, Leigh Harline)

E, pra fechar o disco, harpas, flautinhas, orquestra... um musical da Disney? Gene Simmons, ao menos uma vez na vida, tira a máscara de demônio e aparece apenas como o menino Chaim Witz, que um dia acreditou nos seus sonhos... sim, apesar de tudo, ele também tem coração! :'-) (vocês são mancada... sabem que eu sempre choro com essas coisas... kkkk...) 
Reza a lenda que alguém disse a ele que nunca conseguiria cantar uma "linda canção" de verdade: de fato, a voz rouca não ajuda muito, mas que ficou bonito ficou! Esta linda canção é nada menos que o hino da Walt Disney Company, com quem Gene se identifica enquanto estrangeiro na América e enquanto "self-made man".

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Kiss 7 - Paul Stanley Solo (1978)

Oi, eu sou o Salinas! Em 1978 os ânimos já estavam exaltados dentro do Kiss: Paul e Gene eram os chefões indiscutíveis, assumiam a banda como um negócio, assinavam a maioria das faixas e sempre apareciam mais nos shows, programas de TV, mídia, etc. Ace e Peter, por mais importantes que fossem como guitarrista solo e baterista, não tinham a mesma pegada "comercial" e acabavam ficando sempre em segundo plano, inclusive nos discos, onde tinham pouco espaço para incluir suas canções.

Foi então que Gene Simmons teve a grande ideia de lançar nada menos que QUATRO discos solo, um para cada membro da banda. Nestes discos cada um poderia gravar o quê, como e com quem quisesse. Os quatro discos foram lançados no mesmo dia (18 de setembro), e os fãs se viraram para comprar todos, pois fã nenhum do Kiss se contentaria só com um dos solos. Resultado: Ace e Peter deram vazão à sua criatividade musical (e ainda bem para nós, pois "Ace" é o melhor dos quatro!) e a banda ganhou muito dinheiro!

Paul Stanley, no seu disco solo, seguiu aquilo que já conhecemos nos discos anteriores: enquanto Gene partia sempre para o sexo em suas letras, Paul fazia o contraponto mais romântico. E neste disco não foi diferente: muito xaveco, muita melação e muito amor pra dar. Em algumas faixas ele tá de bem com a menina, noutras tá de mal, mas em todas o tema gira em torno dos relacionamentos. No som, fora um piano aqui, um back vocal ali, não há grandes novidades. Entre os 4 discos solo, é o mais parecido com o próprio Kiss. "Hold Me, Touch Me" foi o único hit do disco.

"Tonight You Belong To Me" (Paul)

Introdução lenta e suave, só no violão e voz. Na segunda estrofe começa uma levada bem Kissística. Claro que o vocal do Paul é o mesmo! Eles se conheceram há muito tempo, e depois de idas e vindas, agora mais velhos, se reencontram novamente. Paul sabe que novamente será tudo passageiro, mas não importa: "esta noite você pertence a mim". Solinho apaixonado estilo fodalhonice-machosa-80s.

"Move On" (Paul, Mikel Japp)

Agora uma cacetada pra levantar os ânimos! Faixa bem mais rock & roll, com solo matador do Bob Kulick (sim, é o irmão do Bruce, que viria a entrar pra banda no futuro). O que importa é não ficar parado: já desde bebezinho a mãe lhe dava o conselho, "vá em frente". E Paul, obediente, segue o conselho direitinho, sem se importar com o amanhã.

"Ain't Quite Right" (Paul, Mikel Japp)

Agora outra faixa mais lenta. Bateria lenta, pontuada por notas da guitarra, e o baixo acompanhando. Paul está apaixonado pela garota, mas tem algo errado... "Pela manhã tudo parece ok / mas à noite eu sonho em te deixar novamente" Ele prefere ir passando os dias e curtindo os bons momentos com ela, mas  jamais revelará seu segredo.

"Wouldn't You Like to Know Me?" (Paul)

Levada bem rock & roll e radiofônica. A mina largou o Paul por causa de outro cara, e agora tá de mimimi. Tá achando que é assim fácil? "Tentei chamar quando você não estava em casa / Ninguém gosta de passar a noite sozinho".

"Take Me Away (Together As One)" (Paul, Mikel Japp)

Entrada meio sombria no violão, e o tom sombrio se mantém durante toda a música, com levada arrastada. Paul parece arrependido de algo que fez, mas com certeza foi algo grave, pois ele perdeu a garota. Agora ele "não pode mudar ou rearranjar o que fez", mas não importa. "À deriva", ele irá "continuar seu caminho".

"It's Alright" (Paul)

Outra faixa animada (ele parece seguir a regra de alternar uma música "pra baixo" e uma "pra cima"), e com bastante cara de música feita pra virar hit do rádio. Paul parece não se importar com mais nada mesmo... "Pode vir", garota, "se você quer um pouquinho de amor, não tem nada que eu não possa tentar". Mas não esqueça, "vou te deixar pela manhã... isto é apenas uma noite".

"Hold Me, Touch Me (Think of Me When We're Apart)" (Paul)

O grande hit do disco. Levada elegante no piano, Paul cantando limpo, o grande cantor romântico do ano. Outro solo apaixonado. Ele fala no ouvidinho dela dormindo: "encoste em mim, toque em mim, e pense em mim quando estivermos longe... até que chegue o amanhã, vamos sonhar com o ontem".

"Love In Chains" (Paul)

Outra cacetada antes da saideira... levada mais lenta, mas com muita presença: a minha faixa favorita do disco! A menina não dá chance pra ninguém, muito menos pro Paul... ela está "acorrentando o amor". Enquanto "se sente como uma rainha, seus sentimentos apunhalam seu coração e ninguém vê".

"Goodbye" (Paul)

E pra fechar, outro hit do rádio. O baixo faz um balanço interessante no começo, e nos refrões. Paul mistura a vida real, os shows e o próprio disco quando se despede: "eu sei quando estou terminando meu trabalho, e agora vou ficar com você", seja nos camarins após o show, seja na cabeça de quem ouviu o disco. Ainda mais com a faixa acabando em fade...


Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo vai ficar chupando o dedo, pois não tem no Youtube!

E é isso!


quinta-feira, 31 de julho de 2014

Kiss 6 - Love Gun (1977)

Oi, eu sou o Salinas! Love Gun repete a fórmula do disco anterior, sempre girando no tema mulheres. Até a capa foi feita pelo mesmo Ken Kelly, mas desta vez com menos aventura e mais hormônios. Neste disco finalmente conhecemos a voz do Ace, que também já estava cheio de só tocar guitarra e queria compor, assim como Peter. Com estas duas exceções, e mais a última faixa que é uma regravação, Paul e Gene assinam as outras 7 faixas.

Esse desequilíbrio já começava a incomodar Ace & Peter, que apesar da banda estar na crista da onda, acabavam ficando sempre em segundo plano. Este é o último disco com a formação realmente original.

"I Stole Your Love" (Paul)

Entrada bem pauleira, quase heavy metal. Paul foi só um brinquedo para a gaja, mas virou o jogo e agora faz jus à capa do disco, com ela a seus pés, e dá aquela esculhambada: "You played with my heart, played with my head / I got to laugh when I think of the things you said / 'Cause I stole your love" (você brincou com meu coração, minha cabeça / eu dou risada quando penso no que você disse / porque eu roubei seu amor). Ace também entra com tudo no solo. Um ótimo começo de disco!

"Christine Sixteen" (Gene)

Pra variar um pouco, Gene desta vez está apaixonado também! Não dá pra acreditar, desta vez ele não fala só sobre sexo e sair comendo todo mundo... essa Christine devia ser mesmo sensacional! E olha que é novinha, só tem "dezesseis" anos... só que não, porque a Christine não existe. Foi só uma "resposta" do Gene à música do Paul, "God of Thunder" (já comentada): Paul já tinha perdido essa música para Gene, por ordem do produtor Bob Ezrin, e Gene sapateia em cima dele "provando" que qualquer um consegue escrever essas musiquinhas melosas de apaixonado. Pianinho safado pra dar o clima.

"Got Love for Sale" (Gene)

Uma levada meio "saltitante" e bem bacana. Agora sim o bom e velho Gene de sempre. Marqueteiro, ele apregoa seus ~serviços~ para as moças que estiverem interessadas. Usa até classificados, "Have Love Will Travel" (que numa tradução livre ficaria como nos nossos classificados de jornal, algo como "TENHO AMOR - DISPONÍVEL P/ VIAJAR"). Esta frase apareceu pela primeira vez no seriado Have Gun - Will Travel, sobre um matador de aluguel que viajava pelo país em busca de ~clientes~, e desde então se tornou um snowclone, usada nos mais diversos contextos.

"Shock Me" (Ace)

Ace agora vem todo "elétrico", cheio de metáforas de eletricista na letra. É efeito do que a mina faz com ele, quando coloca esse tal "couro preto". "You even make me glow / Don't cut the power on me (...) My insulation's gone, girl you make me overload / Don't pull the plug on me, no, no" (Você me faz até brilhar / não corte a minha energia (...) Estou sem isolamento, garota, você me dá sobrecarga / não puxe a tomada, não, não). Na verdade Ace buscou inspiração num show em que tomou um choque elétrico.

"Tomorrow and Tonight" (Paul)

Esta levadinha Kissística vai pros jovens suburbanos, que todo dia ouvem "professores, chefes e padres" e ficam excitados "quando a semana acaba". Você está feliz, garota? Tô te esperando, são quinze pras dez, vamos pra cidade, é hoje à noite, é amanhã! Foi uma tentativa de repetir a fórmula de Rock and Roll All Nite (já comentada).

"Love Gun" (Paul)

Outro hino! Entrada simples na bateria levando pra um dos riffs mais conhecidos de toda a obra do Kiss. Os não-fãs do Kiss reconhecem esta música por ter sido usada na trilha deste filme. E parece que Paul andou aprendendo o modus operandi do Gene, com suas analogias fálicas. O ~revólver do amor~ do Paul está preparado e apontado para você, garota... e não tem como escapar, porque é você quem puxa o gatilho! Levada Kissística, com solo matador do Ace entrando num crescendo.

"Hooligan" (Peter, Stan Penridge)

Outra composição do Peter. Pois é, ele sempre pareceu o mais bonzinho e inofensivo dos quatro. E de fato, o emotivo baterista era o único que cantava serenatas pra namorada. Mas pouca gente sabe que ele cresceu no gueto, um cara de gangues. Até a "avó o chamava de hooligan". Criou o personagem do Homem-Gato como homenagem às sete vidas que teve que gastar pra virar alguém.

"Almost Human" (Gene)

É só Gene dar as caras e o som fica mais grave e pesadão. Tem até gongo chinês agora, percussões na levada arrastada. Viradinhas bacanas de baixo. Gene, oscilando entre humano e monstro, está "faminto de amor", o amor "suave e tenro de um sonho vivo". Ele até que tenta ser apenas romântico...

"Plaster Caster" (Gene)

Outra cacetada. Gene agora canta limpo, diferente da criatura "quase humana" da faixa anterior. A história aqui é sobre uma artista, uma escultora (que existe de verdade), cuja obra é composta de... uma coleção de pênis de roqueiros. (btw, o site dela é sensacional, desde as animações Flash estilo web'95 até o texto, recheado de trocadilhos sexuais) Gene é a mais nova aquisição da coleção dela, mas ele tem que voltar várias vezes, pois o trabalho é difícil... o gesso ~nunca~ está suficientemente duro.

"Then She Kissed Me" (Jeff Barry, Ellie Greenwich, Phil Spector)

E pra finalizar, uma balada lindinha, lá dos anos 60 (ou seja, uns 15 anos atrás), originalmente gravada pelas Crystals, e foi regravada por bastante gente, mas bastante gente mesmo, contando a história de um casalzinho, desde o primeiro beijo até o casamento. Nada de guitarras amplificadas, urros inumanos ou baixos marotos. Um solinho bem sussa, uma bateria mais animadinha no final, "e aí ela me beijou".

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Kiss 5 - Rock 'n Roll Over (1976)

Oi, eu sou o Salinas! Seis meses depois do estardalhaço de Destroyer, o Kiss resolveu que já era hora de lançar mais um disco. Mas o resultado não repetiu o mesmo sucesso.

As faixas estão muito mais focadas na sexualidade, todas giram no tema "mulheres". Gene passa o rodo na geral e Paul também dá suas escapadas. E o produtor Eddie Kramer não seguiu a fórmula mais elaborada de Bob Ezrin, com coros de crianças, filarmônicas e etc, voltando pro som mais cru, dos primeiros discos, só no baixo-bateria-guitarra. Mas o resultado não impressionou muito, exceto pelos hits "Hard Luck Woman" e "Calling Dr Love". Peter canta em duas faixas neste disco (mó progresso, hein), e os solos de Ace mantêm a fodidez.

"I Want You" (Paul)

Paul, como de costume, já começa o disco apaixonadíssimo. Pelo jeito a gaja não o trata muito bem: "You can lie and deny / But you know you're gonna pay" (você pode mentir e negar / mas sabe que vai pagar). Mas não importa, ele sabe que um dia irá consegui-la. Solinho apaixonado, já meio que antevendo aquele som machoso-sexual-80s.

"Take Me" (Paul, Sean Delaney)

Safadeza já no primeiro riff, levada Kissística total! Paul tá pegando o jeito do Gene: "Put your hand in my pocket / Grab into my rocket" (Ponha a mão no meu bolso, pegue no meu ~foguete~). Mais uma vez fazendo referência ao fellatio, no "luar refletindo em seu cabelo". Na boa, vamos combinar: desta vez foi até poético...

"Calling Dr. Love" (Gene)

Agora sim chegou o pegador-mor da banda, com sua batida lenta e arrastada no baixo. Gene obteve seu doutorado e agora, garotas, tem a cura para todos os seus problemas. Pode chamá-lo de "Doutor Amor"...

"Ladies Room" (Gene)

Novamente Gene mandando sua mensagem pras "colegas de auditório", digo, groupies. Já sai marcando encontro lá nos camarins, onde tem uma salinha reservada só pra isso, a "sala das moças"...

"Baby Driver" (Peter, Stan Penridge)

Agora é a vez do Peter falar de uma caminhoneira que ele conheceu aí pelo interior. Som bem de estrada mesmo, aquela levada constante na harmonia. Mas essa mina era foda, mesmo pequenininha levava sua "carga pesada", "descendo (o pedal) até o chão". Depois de tanto erotismo nas faixas anteriores, você fica até esperando algo mais entre a caminhoneira e Peter, mas ele finge que sabe de nada, inocente...

"Love 'Em and Leave 'Em" (Gene)

Gene, mesmo antes da fama, já tinha histórias pra contar... depois dela então, muito mais. Estava ele em sua limusine, quando uma garota encosta e pergunta em que hotel ele está. Ele combina "entre as dez e as duas", e olhe lá. Ela até levanta a saia pra tentar impressionar, mas com Gene não adianta... "ele as ama e as deixa".

"Mr. Speed" (Paul, Delaney)

Paul não quer mais saber de romancezinho e mimimi... agora é ~ação~ mesmo! Ele tá com uma mina que não tem muita ~experiência~: "You try pleasin', but gettin' on your knees don't make it / You try teasin', but baby you can't even fake it, no" (você tenta me dar prazer, mas de joelhos você não consegue / você tenta provocar, mas não consegue nem fingir)... o jeito é apelar pra famosa rapidinha (em termos de ~movimentos pélvicos~), e nisso ele é bom. Por isso que ele ganhou o apelido, "Sr Velocidade".

"See You in Your Dreams" (Gene)

Esta música foi regravada pelo próprio Gene em seu disco solo (ainda a ser comentado). Vai pra todas as groupies que não foram escolhidas desta vez... a festa acabou, elas querem ir pra casa. "Well dry your eyes, it's alright / See you, feel you in your dreams tonight" (Enxugue os olhos, não tem problema... a gente se vê, se sente, nos seus sonhos). Ahan, ahan, entendeu entendeu?

"Hard Luck Woman" (Paul)

Peter assume os vocais na declaraçãozinha (às avessas) estilo Rod Stewart Kiss. (Na verdade era mesmo para o Rod Stewart cantar nesta, mas Gene bateu o pé e, rouco por rouco, Peter deu conta do recado). O apelido da menina é Rags (Trapos), coitadinha, é uma "mulher sem sorte". E ainda por cima o Peter me larga a menina, dizendo que não é que ela não tem sorte, é só "até ela encontrar o cara certo".

"Makin' Love" (Paul, Delaney)

Uma cacetada pra fechar com estilo este disco que cheira a sexo! Pegada bem forte, quase heavy metal, com solinho arregaçante do Ace. Paul detesta quando ela fala pra esperar, quando diz não... ele quer o "sinal verde" logo! "Don't hesitate / I really want her by my side / The whole night through / We do all the things that we wanna do" (não hesite / quero ela do meu lado a noite inteira / pra fazer tudo que quisermos").

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar no Youtube pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Kiss 4 - Destroyer (1976)

Oi, eu sou o Salinas! Destroyer vem na esteira do sucesso de Alive!. Pela primeira vez eles lançam um disco como uma banda de verdade, com dinheiro, batendo o pau na mesa. Acabaram-se as vacas magras, agora eles podiam chamar um produtor de peso, como Bob Ezrin, que já tinha trabalhado com Alice Cooper e Lou Reed, pra dar um "up" geral no som. Ele não deixou por menos: incluiu pianos, coros de crianças, filarmônica de Nova York e o cacete a quatro, pro disco ~destruir~ tudo mesmo.

Na capa também puderam contratar um artista pra fazer, de uma vez por todas, algo à altura da banda. O ilustrador Ken Kelly, que também faria capas de discos para o Manowar e outras bandas, e que era conhecido por suas capas para o gibi Conan, foi procurado por Gene. Pediu para vê-los ao vivo para ter inspiração e recebeu um ingresso vip para um show. O resultado final (acima) é uma boa amostra da impressão que ele teve da banda.

Com tudo isso, esqueça aquele som cru, baixo-bateria-guitarra dos primeiros discos. Todos, incluindo o próprio Ezrin, queriam mostrar serviço com os novos recursos musicais, sem perder a pegada Kissística. Este é um dos melhores discos de toda a obra do Kiss!

"Detroit Rock City" (Paul, Bob) 

O cântico dos cânticos do Kiss. O filme Detroit Rock City foi feito anos depois, baseado (não só nesta) música do Kiss, e é do caralho !Acho que eles tiveram a mesma brisa que eu tive no "praco-praco-pum" da Strutter, no primeiro disco. Num "sábado às nove da noite", o cara toma banho, dá tchau pra mãe que tá jantando e ouvindo desgraça na rádio, pega a chave do carro e vai dar um rolê. Muda de estação e começa a cantar junto o som, tá curtindo a vibe no caminho pra Detroit, a cidade do rock! Acordes poderosos, explosões, brilho e fogos de artifício, e ele atrasado pra pegar o "show da meia-noite". Vai a 152 km/h (ou "95" milhas), mas ainda assim "lento demais", quando de repente dá de frente com um caminhão e "sabe que vai morrer", e Bob mostra a que veio, enfiando na faixa o próprio som da trombada! Até vejo os muleks na época, babando, "Carai...." Fica a mensagem, já em 1976, pra evitar o excesso de velocidade (e outros hábitos: "primeiro eu bebo, depois eu fumo, e ligo o carro"), pois o acidente foi real. Sim, exatamente o acidente que é noticiado na rádio, no começo da faixa (texto exato nos comentários). Ocorre que a vítima daquele acidente, aquele cara, era um do Kiss, e estava indo para um show deles. Isso jamais passaria em brancas nuvens... :'-) 

"King of the Night Time World" (Paul, Kim Fowley, Mark Anthony, Ezrin)

Dos escombros da batida, erguem-se novamente os instrumentos e a música. É o rei da vida noturna, da "cidade grande e da diversão à meia-noite", rolês de carro com sua garota, "a rainha dos faróis dianteiros" (estariam ~acesos~? Tem quem veja novamente referências a fellatio aqui), em oposição a uma vida aborrecida de escola e deveres domésticos para com os pais. Na primeira estrofe, estranhamente, depois da intro o baixo some...

"God of Thunder" (Paul)

A música é do Paul, e originalmente era pra ele cantar, mas Bob passou o momento e os vocais pro Gene (pra desgosto de Paul... reza a lenda que depois surgiu uma rixa entre ele e Gene por causa dessa música). Harmonia bem mais pesada e lenta, totalmente no baixo. Uma respiração monstruosa ao fundo. Anunciado por um acólito infantil (que na verdade é David Ezrin, filho do Bob, fazendo barulhinhos com um walkie-talkie), o Demônio abre as asas, e com seu baixo (que com os anos se transformaria num baixo-machado) se apresenta como o "senhor das terras selvagens, um moderno homem de aço, filho dos deuses e criado por demônios", comandando você mulher, bonita e virgem, a entregar seu corpo e alma. (principalmente o corpo...) Tem quem veja pedofilia naquelas crianças gritando ao redor do Demônio -- eu pessoalmente acho muito improvável que Gene tenha interesse em crianças, no meio de tanta mulher (mais de 5 mil em 30 anos, segundo ele mesmo), e mesmo nesse caso, mais improvável ainda que a banda fosse colocar mensagens secretas a esse respeito nas letras. Nos shows, é neste momento que Gene faz seu número de cuspir sangue. (Em algum ponto deste post há um link secreto, para você que gosta dessa parte, com mais meia hora de sangue.)

PS: pra quem não sabe, walkie-talkie é uma espécie de "proto-celular" que funcionava só entre duas pessoas, muito usado em guerras, e que virou brinquedo nos anos 80 e 90.

"Great Expectations" (Gene, Bob)

E na sequência, uma entrada orquestral, um clima bem mais angelical e do bem. Outra cortesia do Bob, colocando a Filarmônica de Nova York e o coro de crianças, com as guitarras distorcidas lá no fundo. Mas não se engane: Gene usa tudo isso só pra mostrar que sabe muito bem o que se passa na cabeça da mulherada quando o vê: "elas vêem o que sua boca, língua e dedos podem fazer", e alimentam suas "grandes expectativas" de serem as "únicas" ao lado do Deus do Trovão...

"Flaming Youth" (Ace, Paul, Gene, Ezrin)

Outro hit do disco. Paul, até meio sem graça depois de tanta testosterona que exala do Demônio, canta um hino à juventude. Não é autobiográfica, pois os pais de Paul, assim como dos demais, nunca se opuseram às suas ambições artísticas. Mas muitos jovens se identificam com os versos "Meus pais pensam que sou louco / odeiam o que eu faço / se ao menos soubessem / que a juventude flamejante vai tocar fogo no mundo"! Subida legal da harmonia no refrão, conforme a bandeira vai cada vez "mais, mais, mais alto"! Tem quem veja uma referência aos gays: "flaming youth" seria a comunidade gay, com sua bandeira indo cada vez mais alto (ou no caso, o ~mastro~) e saindo do armário em "break out my cage", etc.

"Sweet Pain" (Gene)

Mas Gene ainda tem muito hormônio pra gastar. "Vou lhe mostrar o amor de um jeito diferente... você vai achar gostoso, vai sim". Sadomasoquismo? Ou apenas ~dimensões avantajadas~? Em todo caso, "a dor tem sua razão de ser, você vai aprender a me amar e à minha doce dor".

"Shout It Out Loud" (Paul, Gene, Ezrin)

Mais um hit, não só do disco, mas uma das músicas-símbolo do Kiss. Uma banda que preza e prega o rock & roll festivo faz seu hino à festa: junte todo mundo, apague as luzes, deixe o volume no último e bote pra quebrar, com muito agito e pegação! (ok, exagerei nos lugares-comuns, mas é isso, não adianta)

"Beth" (Peter, Stan Penridge, Ezrin)

Finalmente uma composição do Peter Criss. Agora pára tudo, momento romântico. Cama harmônica, piano, orquestrinha, aquele som bem de balada, bem bonitinho mesmo. O baterista sai lá de trás e vem pra frente do palco. E explica longamente para a namorada que não pode voltar pra casa, pois está com os garotos, "procurando pelo som". A música foi escrita por Peter e seu colega Stan Penridge, nos velhos tempos da Chelsea, antes mesmo do Kiss, e foi feita para a Becky, a namorada de outro colega da banda, que vivia ligando durante os ensaios. Aí depois mudaram pra "Beth", e até hoje é hit inconfundível. Mesmo sendo do coitado do Peter, que sempre ficava de canto, só obedecendo os chefes Gene e Paul...

"Do You Love Me?" (Paul, Fowley, Ezrin)

A pergunta se repete por toda a música: "você me ama? De verdade?" Né, porque né... você gosta de tudo em mim: minha "limusine", meus "cartões de crédito", minha "guitarra elétrica", meu... "~salto~" de 17 centímetros ("sete polegadas")... mas ainda não tenho certeza.

"Rock and Roll Party" (Gene, Paul, Ezrin)

Faixa "secreta" nos últimos segundos do disco. Bob Ezrin junta toda a orquestração que colocou ao longo do disco, efeitos especiais, aplica um tremendo eco na voz de Paul, como uma espécie de "opinião" da banda a respeito de tudo o que passaram até ali: "Vou te dizer como é... parece que temos uma festa só nossa.... uma festa rock & roll...."

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho nas boas casas do ramo:



E é isso.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Kiss - Alive! (1975)

Oi, eu sou o Salinas! Não costumo entrar muito em detalhes sobre discos ao vivo das bandas. Considero apenas o que chamo de "Cânone original": só discos de estúdio (e no caso de artista já falecido, só o que saiu com ele vivo). Sem discos ao vivo, compilações, best of, relançamentos, remasterizados, faixas póstumas, bootlegs... nada disso. Mas desta vez é diferente.

Os fãs do Kiss, depois de 3 discos, foram percebendo que o vinil não passava aquela loucura ensandecida, a performance, os fogos de artifício, as explosões, enfim aquilo. Aí a banda teve a ideia de lançar um disco com os registros ao vivo das performances em show. Se não dava pra pegar a imagem, que pegasse pelo menos o som!

E foi o grande divisor de águas. Uma banda boa, mas que só comia grama e eventualmente acabaria desistindo, com esse disco se transformou num grande nome do rock, ganhando discos múltiplos de prata, ouro, platina, diamante. Ouvir Kiss DISCO A DISCO e não ouvir Alive! é sacanagem!

Eles escolheram 16 músicas, entre diversas gravações feitas durante os últimos meses de shows. O resultado acabou "pendendo" mais para o primeiro disco: quase metade do Alive! veio do disco homônimo, 7 faixas. Botaram quase o disco todo. (Esse disco é muito foda mesmo...) Só ficaram de fora: Let Me Know, Kissin' Time e Love Theme From Kiss.

Outras 5 faixas vieram do Hotter Than Hell. Ou seja, pegaram metade desse disco. Ficaram 5 de fora: Goin' Blind, All the Way, Mainline, Comin' Home e Strange Ways.

E do Dressed to Kill vieram as outras 4 faixas. Resolveram pegar menos músicas desse disco, ficaram 6 de fora: Room Service (pena... eu curto muito essa música), Two Timer, Ladies in Waiting, Getaway (essa também devia ter ido), Anything For My Baby e Love Her All I Can.

Como as músicas já estão todas comentadas nos posts anteriores, vou focar só no que tiver de diferente. Longe de querer ficar apontando eventuais erros ou coisas de disco ao vivo. É só pra marcar presença. Coloquei um pequeno "ícone", baseado nas capas, ao lado de cada faixa. É pra ajudar a saber de qual disco veio cada uma. Quem conhece reconhece!

"Deuce" (Gene, Paul)
Logo na saída J.R. Smalling, o roadie, brada no microfone uma das marcas registradas do Kiss: "Vocês queriam o melhor, vocês terão o melhor! A banda mais quente do mundo... KISS!" As primeiras notas e logo em seguida a explosão com fogos de artifício!

"Strutter" (Paul, Gene)
O "praco-praco-praco-pum" que começou tudo.

"Got To Choose" (Paul)
Um pouco mais rápida que no estúdio. Peter dá umas atrasadas durante a música...

"Hotter Than Hell" (Paul)
No refrão dá pra perceber melhor as vozes modulando. Paul aproveita pra dar uma descansada dos agudos enquanto os outros arrebentam!

"Firehouse" (Paul)
Sirene de bombeiros já começando no último refrão, antes do número do Gene cuspir fogo no finalzinho!

"Nothin' To Lose" (Gene)
Entrou bem mais rápida que no estúdio! Gene manda aquele "plus a mais" no vocal e acaba dando umas esganiçadas... batera dá uma moída extra no solo!

"C'mon and Love Me" (Paul)
Esta as groupies adoram... no show não pode faltar!

"Parasite" (Ace)
Na volta do refrão parece que dá outra desacelerada... eita nóis, Peter! heheh

"She" (Gene, Stephen Coronel)
Versão estendida do riff mais progressivo do Kiss, vindo lá das profundezas da Wicked Lester. Muito legal, parece que vão acabar mas continuam, várias puxadas de tapete... deve mesmo ter sido do caralho pra quem estava lá!

"Watchin' You" (Gene)
O solo aqui também tá mais incrementado.

"100,000 Years" (Gene, Paul)
O registro de um mito: o solo de bateria do Peter Criss. Não espere a virtuosidade de um Neil Peart ou a paudurescência de um Keith Moon mas, porra, parem de zoar o Peter, é um solo do caralho sim.

"Black Diamond" (Paul)
Claro que não esqueceram o final... mas em vez daquela desacelerada de estúdio, é um festival orgásmico de explosões, pra fechar em grande estilo!

"Rock Bottom" (Ace, Paul)
A entrada no violãozinho pro pessoal dar uma respirada né... logo em seguida volta a pauleira com tudo!

"Cold Gin" (Ace)
Paul tem uma pergunta pra geral: quantos aí gostam de saborear o álcool? ...ou será que preferem suco de laranja de caixinha? Logo em seguida vem a resposta, com esta porrada! Ace também incrementou esse solo.

"Rock And Roll All Nite" (Paul, Gene)
Pra botar a galera fervendo antes da saideira!

"Let Me Go, Rock N' Roll" (Paul, Gene)
E pra fechar, "Deixe-me ir, Rock & Roll!" com um último bônus. Quem disse que a galera quer ir embora? "Kiss, Kiss, Kiss, Kiss..." Nesse dia (que, btw, foi daora) o guardinha voltou bem tarde pra casa...

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não estava lá no dia, nem encontrou nas boas casas do ramo, pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!