Baby Consuelo / Baby do Brasil - Canceriana Telúrica (1981)
Olá
pessoal, eu sou a Ludmila e estou aqui para fechar a semana de posts especiais
em homenagem ao dia da mulher! Lembrando sempre que falar em dia da mulher, é
falar com respeito de um histórico de lutas por igualdade de direitos.
Minha
escolha sobre quem seria minha homenageada foi difícil. Mas, em algum momento,
ela tornou-se óbvia para mim. Explico:
Sabe
aquelas músicas ou artistas que você conhece lá na infância e que acabam
adquirindo um significado especial pra você, e de alguma forma, você olha pra
trás e percebe que sofreu uma grande influência deles (as) não apenas na sua
formação de gosto ou preferência musical, mas também em questões
comportamentais, ideológicas e até espirituais?
Pois
é, eu poderia citar alguns (mas) aqui que tiveram essa importância pra mim.
Raul é um. Rita Lee também. Sem falar nos Beatles, como grupo e cada um
individualmente.
No
entanto, quando fui buscar na minha memória e história pessoal algumas artistas
que pudessem ter exercido essa influência na minha formação enquanto pessoa,
enquanto mulher, mas que também tivessem alguma representatividade enquanto
artista feminina, passei por diversos nomes, mas Baby do Brasil foi o que
ficou.
Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, Baby Consuelo, Baby do Brasil, ou simplesmente Baby
é a personificação arquetípica da grande mãe. É ânima por excelência, expressa em
sua maternidade, em sua sensualidade, em sua sabedoria, em sua busca pelo
autoconhecimento. Mas também em sua constante quebra de paradigmas.
Sem
o fatalismo de uma feminilidade passiva e de reprodutora, é mãe de 6 filhos. É
uma mulher independente, guerreira, lutadora, uma artista talentosíssima e
versátil. Fortemente espiritualizada, desprendida de quaisquer papéis e normas
sociais impostas, hoje em dia é pastora evangélica. Não vejo outro
caminho que pudesse ser trilhado por ela.
Comecei
falando da minha infância, e assim justifico a escolha do álbum Canceriana Telúrica. Esse álbum me acompanhou durante a infância.
Lembro-me de como gostava daquela imagem da capa e da contra capa, aquele
colorido todo. E também do jeitão da baby, de cantar e de ser.
Eu
a admirava, ela era linda ao mesmo tempo em que não era nada convencional. Ela
não tinha nada do estereótipo de feminilidade que me era ensinado e já pesava,
mesmo criança. Mas ainda assim ela era extremamente feminina. Suas atitudes
contestadoras, aparência exótica, os cabelos coloridos, as roupas
extravagantes, e a alegria transbordante naquele sorriso imenso de uma pureza
quase infantil. Era a mulher que eu queria ser.
Mas
depois eu cresci, e por muito tempo, nem me lembrava dela, nem ouvia mais suas
músicas.
Mas
um dia, alguns anos atrás, eu pintei o cabelo de roxo. Alguém, comentando o
fato fez referência à Baby e suas cores de cabelo. Tudo voltou na minha
memória. E também nessa época, os Novos Baianos voltaram, e eu pude vê-los na Virada
Cultural. Então pude reacender minha admiração pela Baby, como mulher, como
pessoa, como artista e sua obra desde os tempos dos novos Baianos, até hoje.
Infelizmente,
não encontrei a ficha técnica do disco, nem tive oportunidade de ir procurar no
vinil, mas soube pelo Wikipedia que vendeu 1.400 Milhões de cópias – o que não é
pouco – e que Pepeu Gomes, seu marido e companheiro de Novos Baianos é o guitarrista.
O
disco também conta com o sensacional José Roberto Martins Macedo, mais
conhecido como Baixinho. Excelente
percussionista, que já trabalhava com Baby e Pepeu desde os tempos dos
Novos Baianos. Não à toa a percussão e a guitarra são a cara desse álbum.
A
faixa que abre muito bem disco é uma maravilhosa composição de Jorge Ben Jor
(que na época era só Jorge Ben):
Música
maravilhosa! Aquela levada samba-rock do Jorge (e também dos novos baianos). Uma
percussão bacaníssima, muito presente.
A
letra é linda, e me emociona ainda hoje... Como ficar indiferente à dizimação
que ocorreu e ainda ocorre dos nossos povos nativos?
“Antes que o homem aqui
chegasse / as Terras Brasileiras eram habitadas e amadas / por mais de 3
milhões de índios / Proprietários felizes Da Terra Brasilis / Pois todo dia era
dia de índio / Mas agora eles só tem / O dia 19 de Abril”
2-Paz e amor (03:59)
Composição de Baby, Pepeu e tabém de Didi Gomes, baixista irmão de Pepeu.
Levada
bem anos 80 com a cara do Brasil pós-tropicalista. Sintetizador
e Percussão dando a cara.
Letra
bastante espiritualizada, O tema neo-hippie Paz e amor parece celebrar um
Brasil “Pós Ditadura”, com muita esperança no futuro, como que acreditando numa criança
que nasce. Solos deliciosos do Pepeu, cheio de virtuosismo, sem ser chato.
3-Telúrica (04:22)
Letra de Baby e Jorginho Gomes, outro irmão de Pepeu, excelente baterista.
Um
reaggaezinho swingado, com aquela guitarra cheia de efeito do Pepeu, dando um
“peso”, mas sem exagero. Na medida. Bastante percussiva, a voz suave de Baby no pré refrão
convida a uma reflexão
“Não
aceito preconceito / Para ser telúrica.”
Tá
e você aí se perguntando “mas que raios é telúrica”?
Pois
é, pode procurar no dicionário: telúrico é aquilo que se é da, ou refere à
Terra. Assim,
baby, reafirma-se como canceriana, do elemento Terra, e homenageia sua condição mulher, afinal, somos filhos de Gaia a
grande mãe.
4-Viva o malê de malê (04:03)
Composição de Pepeu e Charles Negrita, também percussionista, que também já tocou com os Novos Baianos.
Sincretismo
religioso é o que há. E é o que podemos identificar desde sempre na obra de Baby: a multidimensionalidade do místico, da espiritualidade, da reverência às
manifestações divinas. Sejam Krishna, Buda, Xangô, Jesus Cristo.
Aqui,
a força do candomblé é vem com tudo.
5-Um auê com você (04:44)
Composição de Baby
Baladinha,
para corações apaixonados. Mas ainda com aquela certa inocência infantil, que
surge na suavidade e doçura da voz de baby, quase sussurrada.
É
tipo um bolero, tem uma pegada meio latina principalmente na percussão muito
marcante.
Mas também tem a cara dos anos 80, com a presença de um sintetizador dando toda uma ambiência ao som. Bom fechar os olhos e viajar.
Mas também tem a cara dos anos 80, com a presença de um sintetizador dando toda uma ambiência ao som. Bom fechar os olhos e viajar.
6-Canceriana (04:41)
Outra composição de Baby.
Sintetizadores
com cara de “som espacial”, numa pegada samba-rock, pra falar de temas
místicos, signos do zodíaco, espiritualidade. Nada mais brasileiro, psicodélico
e pós-tropicalista.
7-Juventude (05:04)
Composição de Pepeu e Baby.
Um
riff de guitarra, uma pegada mais “rock n’ roll” pra falar de juventude. Nada
mais clichê. Se não fosse a percussão lá, dando as caras e numa batucada
tipicamente brasileira, enquanto a guitarra de Pepeu segue moendo no solo.
Letra
bacaníssima, um elogio à juventude.
"Navegar até a ilha / Mas enquanto não chegar / Vencer as ondas dessa vida /Que o tempo não pode esperar"
8-Salve, salve (04:04)
Composição de Pepeu, Baby e Galvão, outro ex-companheiro dos Novos Baianos.
E
essa canção então? Uma delícia de música para fechar o álbum com chave de ouro.
Começa
com um toque de Umbanda (talvez seja isso, pois reconheço meu total
desconhecimento nessa área, infelizmente)
E
segue nessa mesma batida, mas introduzindo a guitarra e todos os outros
instrumentos lá em cima, para dar vivas aos Reis Nagô, aos orixá e à Bahia de
São Salvador.
Tem
uma pausa linda lá no meio, preenchida por um teclado que passeia.
Ouvi
com fones de ouvido e nitidamente percebi que ele vai rapidamente de um canal
pra outro e volta (ou seja, passa do lado direito para o lado esquerdo, e
volta). Puta sacada. Preenche de um jeito incrível.
Enfim, esse álbum é uma obra completa, muito bem trabalhada, muito rica em sonoridades e harmonias.
É a Baby (ainda Consuelo) no auge de sua carreira solo, mostrando-se uma cantora madura, uma compositora talentosa, uma artista completa.Não encontrei o álbum todo para ouvir no youtube, infelizmente. Mas, consegui baixar por aqui.
legal, acho que nunca tinha parado pra ouvir um disco da Baby fora dos Novos Baianos... XP
ResponderExcluirNossa parabéns por essa mulher linda. Nunca tinha observado a Baby, mas ela é realmente revolucionária do seu jeito.
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