quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

EngHaw - 1° Longe Demais das Capitais


Olá, pessoas! (:

Com quase 2 anos de existência da banda, os EngHaw (que nessa época eram: Humberto Gessinger, Marcelo Pitz e Carlos Maltz) lançavam seu primeiro LP no final de 1986 pela gravadora RCA – hoje Sony Music (graças ao “empurrãozinho” de Sopa de letrinhas e Segurança, lançadas na coletânea Rock Grande do Sul) com um som, como diria o próprio Gessinger “pop demais pra ser rock, rock demais pra ser pop e MPB demais pra ser os dois...” (Na minha humilde opinião, num legítimo rock nacional oitentista) com influência desde Pink Floyd até Bob Marley, e dentre outros conterrâneos, do Nei Lisboa - que inclusive participa no vocal da primeira faixa “Toda forma de poder”

Num clima super "herdeiros da pampa pobre", os caras estreiam mostrando pro mundo um trio que vem de um lugar Longe Demais das Capitais, sem acesso nem visibilidade, sem preocupações com tecnologias e/ou modernidades, tanto de equipamentos quanto de estilo, em uma geração que coleciona guerras e já não faz revolução, num estilo super Tyler Durden. Provincianos que saíram da província, e agora já não pertencem a lugar nenhum...




Certa vez, vi uma entrevista do Gessinger, em que ele dizia que não curtia ficar explicando as letras, o que ele queria dizer com elas, inclusive gravar clipes, justamente pra deixar a interpretação da obra única pra cada um, não direcionar o entendimento e deixar as músicas bem vagas e livres de contornos, de significação específica, limitada. Isso me lembrou de outro gênio que também tem esse estilo, de fazer arte e te jogar na cara assim, sem justificativa. Só que não da música, do cinema. O David Lynch tem esse costume delicioso de juntar uma porrada de informação, sempre muito bem amarrada e envolvente, mas que pode parecer não fazer nenhum sentido se você não parar e se concentrar pra decifrar... E quem disse que precisa fazer sentido? Pra duas pessoas diferentes, uma mesma música, ou filme, podem ter mensagens infinitamente diferentes (como diria Raulzito, “cada um de nós é um universo”), e é aí que está a beleza e investida desses caras: no subjetivo.



Pensando nisso, quero lembrar a quem quer que possa ler e discordar do que escrevo aqui, que esse blog é alimentado por pessoas e suas impressões pessoais, e também, de me declarar infinitamente à vontade pra dividir a minha experiência e relação metafísica com a obra dessa banda tão densa! *-*

Uma crítica raivosa à toda forma de controle, mas também de passividade. Como toda moeda, tudo tem duas (ou mais) faces. De um lado: um povo inerte e alienado, sem posicionamento político, consciência ou senso crítico, sem ideais, com comportamentos que oscilam entre comodismo e idiotice, do outro: ditadores que dominam facilmente a massa, quase que num deboche sob um disfarce de pôr ordem, distorcendo valores ao longo de versões cada vez mais distorcidas da história, implantando uma cultura de guerra e ignorância. Desejando não fazer parte de nada disso... Esperando que venha ao seu encontro alguém que vá amenizar essa inquietude, que o transporte pra outra realidade, quem sabe...
Essa versão é bem agitada, assim como todo o CD, ela chegou até a entrar na trilha sonora de uma novela global – Hipertensão (Ora, vejam só... rs), os Engenheiros já começaram com o pé na porta! o/ 
E tem a participação do Nei Lisboa no vocal, o que eu confesso ter passado muitos anos ouvindo essa versão sem perceber! =X (obrigada por me apresentar o cara, Caio! Rs).

Eu não manjo muito de baixo, sempre achei bem difícil ouvir bem o som dele na música cheia... Mas, se você também tem essa dificuldade, essa música é ideal pra curtir o som dele! É inclusive uma das poucas músicas que já ouvi em que já reparei tanto nele num chorus...
E o que é segurança pra você? Quais seus critérios de envolvimento pra um relacionamento?
Prefere um “Don Juan, bom vivant” que te encara como serviço pro banco traseiro do carrão importado?
Pensa nisso enquanto curte o baixo... Se sim, já aproveita e dança, rs.

Essa também tem um baixo bem gostoso! Nessa época o Gessinger ainda não tava no baixo, mas ele já disse em algumas entrevistas que sempre curtiu o instrumento, e acabou tocando depois que o Pitz saiu... Acho que por isso ele é tão bem trabalhado... Ou talvez eu não manje nada e tô reparando porque sei que é ponto forte da banda.
Bom, pelo menos nesse primeiro CD dá pra sentir que é.
Qual o pior vício, a passividade de uma vida assistida na 3° pessoa pela tela da TV, acompanhando informações que você finge que se importa, ou aquela paixão que te persegue - desacompanhada da pessoa amada?
Se ela consegue te roubar a atenção do noticiário, mas some... Onde você a encontra?

Levada de reggaezinho, lembra Paralamas... Mas essa narrativa é inconfundível. Esse questionamento insistente de como é que viemos parar nesse estado lamentável de autodestruição, de valores vendidos, gosto por sangue e poder, o sentimento de não pertencer a nada disso...

Tapa na cara dos “rebeldes sem causa” que querem mudar o mundo, que acreditam numa salvação para o sistema, baseado na mídia, alimentando tudo aquilo que esta errado em troca dos seus empregos e estabilidade garantidos, tentando fazer revolução de acordo com as regras que na verdade deveriam estar sendo quebradas...

Letra super crítica (Oh, que coisa rara... rs) que sugere um clima de tensão, de preocupação com o rumo das coisas, com a guerra eminente, mas com um som alegrinho, irônico até, debochando do quanto caminhamos pra essa tragédia tão orgulhosos disso, como somos “rebeldes sem rebeldia, viciados em anestesia”.
A paz deixou de ser o desejo de uma civilização corrompida, que tomou gosto pela conquista do poder.

Uma verdadeira canção de amor ao avesso... Esqueça esse papo de tampa da panela e metade da laranja. Diferentemente do continente, que integra as cidades, aqui nos vemos como ilhas, separadas, individuais. Porque acreditar que precisamos nos completar em outra pessoa? Não conseguir essa “fusão perfeita” é algum crime?
“Não me leve a mal, mas eu não tô legal, quero ficar sozinho
Eu sou um bom rapaz, mas eu não sou capaz de seguir o teu caminho”.

A cara do álbum e do estado de espírito da banda! Longe demais de onde tudo acontece, perdidos como em outra dimensão, mas sugerindo uma certa satisfação nisso, nas tradições e simplicidades da “velha forma de viver”, satisfeitos em desfrutar dessa suavidade da vida fora dos holofotes. Tão ao sul, fora do alcance de todas as transformações desse mundo que não nos alimenta nenhuma esperança de melhora.  

Mais uma, mais pro reggae que pro rock, outra musica que fala do quanto o amor é complicado, sem resposta ou fórmula. Um cara um tanto rejeitado, desaprovado, mas que ainda assim, insiste.

Começa num clima melancólico, falando de vazio... vai alternando entre essa pegada lentinha e outra mais swingada... Flertando com a ideia de uma relação entre duas pessoas muito diferentes, que não se combinam nem necessariamente se amam, mas mesmo não tendo nada a ver, nos momentos de carência, também não tem nada a perder.

Eu vejo nessa musica uma reflexão de tudo o que vemos acontecer de errado à nossa volta, e nada fazemos pra mudar. A gente evolui em essência, mas não nos incomodamos com os grandes problemas que evoluem conosco, aprendemos a conviver e a ignorar... “Tudo isso já faz parte da rotina/ e a rotina já faz parte de você/ você que tem ideias tão modernas/ é o mesmo homem que vivia nas cavernas”.


Composta em parceria Gessinger/Pitz, trilha da novela Corpo Santo – exibida na extinta Rede Manchete, uma das músicas que impulsionaram o lançamento do LD. Fecha o álbum com a visão do amor nada perfeitinho, coerentemente com as demais canções de amor, em uma paixão quase adolescente “O nosso amor é uma abobrinha/ Eu escrevo o teu nome numa sopa de letrinhas/ Eu fico sonhando em ser astronauta/ Eu olho pra lua, eu sinto tua falta,
Oh!". Bem animadinha e mais pro rock! 



E aqui o link pra ouvir o CD na íntegra, faça isso por você e ouça! :)



... Até a Revolta dos Dandis!

7 comentários:

  1. Boaa!! Perdi a conta de quantas vezes ouvi no repeat ontem, pra inspirar... rs

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  2. Não tem como não dizer que os caras são fodas.
    A 1a. música do 1o. álbum é "Toda forma de poder", simplesmente maravilhosa, a melhor de toda a carreira da banda, na minha opinião.
    As pegadinhas reggae em algumas músicas, meio que uma referência do The Police são bem bacanas, e me chama muito a atenção a percussão, principalmente em "Segurança" (um bongôzinho maroto, como eu costumo dizer, rsrs)
    Mas, a voz deliciosa do Gessinger com um certo desespero apaixonado cantando "Eu preciso te ver, eu preciso te ver..." na música "Eu ligo pra você", é pra se encantar de vez com a banda e não largar mais!

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  3. Caaaraa, eu to aprendendo muito com isso, fuçando e tal... E eu não conhecia essa "eu ligo pra você", e simplesmente me apaixonei por ela! Foi a minha descoberta do disco... rs.

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  4. cara, encontrei essa página na procura de decifrar a música "longe demais das capitais". Minha visão é parecida com a sua mas ainda custo a crer que ela esteja "correta"... Conformismo perante a velha forma de viver ñ é bem a cara do HG... Cara, ouve de novo, tenta ver se dá pra tirar mais coisas, novas perspectivas... eu vou fazer o mesmo rsrrs. abr e parabéns pelo blog!

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  5. Olá, Emerson! Poxa, valeu mesmo! Gratificante demais saber que alguém lê, hahaha. Então cara, essa música é muito HG, né?! Incógnita total.. rs. Eu concordo com você que essa pode não ser a interpretação "correta", considerando a fidelidade quanto ao que ele realmente quis dizer, mas eu não acredito muito numa ideia de "correto", nem que ele tenha tido essa intenção também, de passar uma "verdade". É complicado tentar falar das intenções de um compositor, inevitavelmente a gente (que ama tanto o trabalho do nosso ídolo) acaba meio que entrando nela, pegando pra gente, pra nossa vida, e vendo através do que a gente vive... Eu escrevi isso, a minha visão dela, em Janeiro de 2014, e hoje já não sei se vejo também como uma coisa de conformismo. Mas sei lá, né, como vc sugeriu, acho que a delícia disso ta justamente em ouvir de novo, tirar mais coisas, ter novas perspectivas pra cada momento em que a gente ta quando para pra "saborear" elas.. Enfim, muito obrigada mesmo pela atenção! :) Abraço!

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