Não, eu não conheci Nirvana “antes do Nevermind”. Mas conheci logo depois do seu lançamento, lá pelos idos de 1992. O
suficiente para acompanhar de perto a revolução em que acabou se tornando.
No entanto, a primeira lembrança mais forte que tenho da banda é o show que fizeram no Hollywood Rock, em 1993. Eu não estava lá,
mas acompanhei tudo pela televisão, ou melhor, acompanhei o que a Globo exibiu.
Surpreendentemente, a emissora, que estava transmitindo ao vivo, não fez
qualquer intervenção quando Kurt Cobain cuspiu nas câmeras, arriou as calças, e
no final, de vestido de renda preta, visivelmente sem condições de ficar em pé,
termina o show “sem mais nem menos” e sai, praticamente rastejando.
Só 3 caras e um #putasom (como diz o Salinas). Atitudes
subversivas, críticas contra o sistema, transgressão de gênero, feminismo, pose
de anti herói, rock star ao contrário. E baixista e baterista “segurando legal”
enquanto o Kurt pirava. Tudo o que eu precisava para me apaixonar de vez pela
banda, pelo som, pela atitude, pelo visual.
Tenho ainda trechos desse show, que gravei em fita VHS. Há
muito tempo não assistia, mas nessas férias a nostalgia me pegou e fui tirar a
poeira do vídeo cassete. Rever o show foi inspirador para voltar à discografia
da banda, e, daí o pontapé inicial para criar o blog.
Se ainda não viu esse show, há trechos dele no documentário
Live! Tonight! Sold Out!! que é
bem legal. Mas também está na íntegra no youtube. É basicamente uma
hora e meia de porrada. Vale muito a pena. É o Nirvana no auge. E ainda tem a
incrível canja do Flea (do Red Hot Chilli Peppers) tocando trompete!
Mas, enfim, me coloquei a tarefa de comentar a discografia dos caras, e vamos a ela:
Mas, enfim, me coloquei a tarefa de comentar a discografia dos caras, e vamos a ela:
O primeiro disco, Bleach, foi lançado em 1989, pela Sub Pop,
gravadora independente de Seattle, terra dos caras. Tanto a gravadora, como a
cidade ficaram conhecidos, na época, como o berço do chamado estilo “grunge”.
A álbum traz um rock n’roll direto, sem firulas, faixas curtas no melhor estilo Ramones (one-two-three-four!), power chords, guitarras sujas e pesadas, vocal rasgado, letras minimalistas e sombrias sobre uma juventude sem esperança. Bem ao estilo da Sub Pop e do produtor Jack Endino, que depois desse estouro ficou mundialmente famoso. Foi o álbum mais vendido da gravadora e a consagração do grunge.
A álbum traz um rock n’roll direto, sem firulas, faixas curtas no melhor estilo Ramones (one-two-three-four!), power chords, guitarras sujas e pesadas, vocal rasgado, letras minimalistas e sombrias sobre uma juventude sem esperança. Bem ao estilo da Sub Pop e do produtor Jack Endino, que depois desse estouro ficou mundialmente famoso. Foi o álbum mais vendido da gravadora e a consagração do grunge.
O primeiro fato que chama atenção: olhe para a foto da capa.
Peraí… 1, 2, 3, 4? Como assim, 4 pessoas? Pois é. Existe ali um guitarrista a
mais, Jason Everman, que só aparece na foto e nos créditos como guitarrista,
mas não tocou em nenhuma faixa. E o que ele fez? Ora, patrocinou a gravação do
álbum, é claro!
A formação ainda não tinha o Dave Grohl na bateria. Kurt Cobain (vocal e guitarra) e
Krist Novoselic (baixo) já tocavam juntos a algum tempo e vinham procurando e testando vários bateristas,
quando um amigo os apresentou a Chad Channing, que toca no álbum.
Três faixas foram gravadas anteriormente, como uma demo, em janeiro de 1988, com com Dale Crover, do Melvins, na bateria. É possível perceber uma sutil diferença na gravação dessas faixas, que chegam a soar um pouco mais cruas. São elas:
a faixa 2: Floyd the Barber – 2:18
a faixa 2: Floyd the Barber – 2:18
Pesada, sombria, com um baixo mais pesadão, lembrando um
post-punk, e bateria bem marcada, mas com uma pegada meio pop. A letra fala sobre um seriado americano “Floyd the barber”.
Nela, Kurt conta como foi torturado pelos personagens do programa
ao procurar a tal barbearia do Floyd. Cômico, trágico, irônico, crítico.
a faixa 6: Paper Cuts – 4:06
a faixa 6: Paper Cuts – 4:06
A cara da Sub Pop, ou do que a Sub Pop procurava como identidade: pesadona, com guitarra bem suja e com muita distorção, bateria bem
marcada, gritos e vocais rasgados. Microfonia e dissonâncias à lá Sonic Youth. Me lembra um pouco aquela história de que o Black Sabath queria que suas músicas provocassem medo nas pessoas, como num filme de terror. Essa música consegue um clima bem sombrio. Um pouco de Sister of Mercy com Led Zeppelin com guitarras muito pesadas.A letra fala de negligência. Descreve uma situação de total
abandono, do ponto de vista da vítima. É tão cruel que é difícil definir se trata-se de um cachorro, ou uma criança.
Um pegada mais acelerada, um pouco mais Hardcore, mais parecido com o que o L7, que era da mesma gravadora, estava fazendo. Também me lembra bastante o Pixies, uma grande influência da banda. Talvez pela linha do baixo. Não sei bem. A letra, pra variar, é carregada de muita raiva, contra tudo e todos.
Essa faixa foi somente incluída no álbum em seu relançamento, em1992 (já em CD) pela Geffen Records, juntamente com
a faixa 12: Big Cheese – 3:42
a faixa 12: Big Cheese – 3:42
Única composição parceria de Cobain e Novoselic no álbum, originalmente lançada como Lado B do Single Love Buzz, em novembro de 1988, mas já com Channing na bateria. Fala sobre chefe, escritório, esse tipo de coisa opressora e controladora. Todas as outras composições do álbum são de autoria de Kurt, exceto o lado A do Single em questão, uma cover, que entrou para o álbum como
Cover da banda Shocking Blue (compisição de Robbie van Leeuwen), que até antes de escrever esse
post, eu apenas conhecia pela música Venus. Aliás musicão! Muito boa mesmo. Não é a toa que foi
utilizada em diversos covers e samplers. Mas é aí que impressiona a genialidade do grupo ao realizar
o cover. Como conseguiram se distanciar do original, acelerando, sujando e
conferindo sua identidade à música, mas sem se perder da original. Não é a toa que no mês seguinte ao lançamento do single, já estavam em estúdio para gravar o álbum. Que se inicia pela
A faixa que abre Bleach traz a estrutura básica do Nirvana, baixão marcado, guitarra pesada com muita distorção, o tom irônico do
vocal, que depois, mais rasgado, fica mais próximo do grito. Um grito contra
todas as opressões, como a própria letra, um tanto desesperançosa - "If you wouldn't care I would like to leave / If you wouldn't mind I would like to breathe
- Se você não
ligar, eu gostaria de sair / Se você não
se importar, eu gostaria de respirar". E um solinho pra arrematar.
Fácil, daquela melodia quase grudenta. Um hit. Já se prevê
aí o sucesso do disco posterior. Guitarrinhas um pouco mais limpas, vocal rasgado e limpo se alternando e
a bateria, ora suave, quase jazzy, ora bem marcada. Apesar de todo o peso, a levada é bem pop, e a letra é ótima. Irônica e um tanto cômica, descreve uma situação muito real do cara que está apaixonado, mas precisa "entrar na fila" pra poder ficar com a garota.Uma delícia de música, com uma levada meio anos 70, como muitas bandas estavam procurando fazer.Por aqui, só pegou mesmo a versão do acústico.
Uma porrada! Gosto demais dessa. Adoro os vocais gritados.
O desespero de uma juventude desacreditada e sem perspectiva. O riff é contagiante, repetitivo sem ser chato. A bateria mais complexa,
tem algumas quebradas no tempo. Prestei mais atenção nessa músicas quando ouvi a versão ao vivo no From the Muddy Banks of the Wishkah - pretendo comentá-lo aqui ainda. Traz novamente o estilo Pixies. Frases repetidas, letra minimalista, refrão gritado. Ironia na letra: You're in high school again! / No Recess! - Você
está no colégio de novo! / Sem férias.
Uma pegadinha mais punk. A descoberta da “fórmula” que
consagrou o Nirvana: canta–para–canta, as pausas bem colocadas da bateria
e os bends sublinhando o vocal. (o famoso "uém" do Smells Like Teen Spirits).A letra fala sobre crescer e tal, de uma forma bem pessimista... parece ser sobre o próprio Kurt.
Nada diferente, porrada do começo ao fim. Viradas de
bateria muito bem colocadas e guitarras bem pesadas. Letra que fala do confronto de gerações, brigas com os pais, busca pela independência, de forma bem minimalista, já consolidada aqui como característica do Kurt.
Bateria nervosa, guitarra bem pesada. Mas sem o clima sombrio. É um pouco mais feliz, mas aquela felicidade irônica, que o Kurt soube expressar como ninguém. Fala de relacionamentos convencionais. Casais que vivem para
manter a aparência e jamais são capazes de demonstrar o que realmente sentem. Seja ódio, seja amor.
Mantém a mesma pegada, bateria e linha de baixo bem marcados, riff de guitarra pesado e minimalista. Aqui também tem aquela pausa característica, que dá toda uma dinâmica especial para a música. A letra é uma crítica ao machismo, coisa que Kurt sempre combateu, inclusive se engajando em questões feministas e pró-aborto.
Boa demais. O baixo pesadão, marcado, sombrio dá o clima. Um
tom melancólico que acompanhou a banda desde o início, e daí pra frente. Aquele tom meio gótico, meio Black
Sabbath dando o clima de filme de terror. A letra, ao meu ver, fala sobre se iludir, acreditar em coisas que dizem para você fazer, mas que não trazem sentido para sua vida.
Encerra muito bem esse álbum, que é um prenúncio da revolução e o sucesso da banda, pois já tá tudo lá, o baixão marcado, as guitarras bem pesadas e sujas, riffs dissonantes e minimalistas, bateria segurando a onda enquanto o guitarrista pira, vocais ora limpos, ora rasgados, ora gritados. É a essência do Nirvana, mas, claro, não é total novidade. Já havia um pouco de tudo isso em Pixies, Sonic Youth, Mudhoney, Melvins... Mas o Nirvana tinha um “q” diferente. Foi capaz de misturar tudo o que essas bandas traziam, adicionando algo de The Smithereens e CelticFrost a essa fórmula, conforme disse Krist Novoselic em alguma entrevista.
Bem, parece que Kurt não gostava muito desse álbum, que não
respeitava muito as músicas. Parece que escreveu tudo de última hora, irritado com a pressão da gravadora, e que essa estética mais grunge era coisa do
Jack Endino, que eles não tavam muito nessa pegada.
Verdade ou não, a fórmula deu certo, e se manteve no absurdo sucesso do já consagrado clássico segundo álbum, Nevermind. Que será comentado em breve neste mesmo bat-canal.
Verdade ou não, a fórmula deu certo, e se manteve no absurdo sucesso do já consagrado clássico segundo álbum, Nevermind. Que será comentado em breve neste mesmo bat-canal.
#FullAlbum aqui:
Me sinto com 12 anos, cheia de empolgação, revolta e vontade de aprender guitarra!! *---* Vlw, Lud! Matou a pau!!!!
ResponderExcluirHu-Hu!!!
ResponderExcluir\m/
Aulinha de slap do Flea e as loucuras do Dave Grohl!!! hahahahaha
ResponderExcluirToca Nirvana! \m/
PS: valeu pela ref!
toda uma geração de camisas de flanela! XP
ResponderExcluirSabe q eu não conhecia esse disco antes de ouvir junto com vc? É genial. Interessante perceber como é mais cru e pesado que o Nevermind. Aliás, to ensioso pelo post sobre ele... ;-)
ResponderExcluirLogo mais, logo mais...
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