terça-feira, 11 de março de 2014

O Rappa - O Rappa (1994)

Como comentar o primeiro disco de uma das bandas nacionais mais complexas que existem? Disco este que não fez sucesso e que não possui quase nada de dados na internet. A propósito, é o trabalho que menos gosto da banda e o que menos escutei. Difícil, não é mesmo?

O álbum de estréia da banda O Rappa não obteve a repercussão esperada por todos. Na verdade, não teve nem forças para introduzir a banda no cenário musical brasileiro. Levando o mesmo título da banda, "O Rappa" foi lançado em 1994 pela Warner Music e contou com a produção de Fábio Henriques. Marcelo Falcão no vocal, Alexandre Menezes (Xandão) na guitarra, Nelson Meirelles no Baixo, Marcelo Lobato nos teclados/backing vocals e o mestre Marcelo Yuka assume a bateria.


1 - Catequese do Medo

A faixa de abertura do disco já traz à tona um dos principais temas da banda: crítica social. Composta por Marcelo Yuka, é uma música dançante com uma letra bastante clara.

"A fome é, um esperma
por entre as pernas
da violência
E o egoismo que excitou
as diferenças em que merece
um aborto imediato"

2 - Não Vão Me Matar

Essa faixa composta pelo próprio Marcelo Falcão é uma possível crítica aos políticos. Se não for, não faço a minima ideia do que é. Conta com uma melodia mais voltada ao reggae e "falas" tipicas do rap.

"Enganam o povo com promessas
Tentando induzi-los a acreditar
Que a consciência do ser humano
De repente pode até falhar"

3 - Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro

A única faixa do disco que obteve algum destaque tem um ritmo mais rápido e remete ao preconceito racial ainda forte. Marcelo Yuka, compositor da faixa, busca mostrar que depois de décadas o racismo ainda não acabou. Na letra, amigos são parados pelos "homens" e, mesmo mostrando os documentos, os policiais não os deixam. Yuka ainda faz menção à AIDS na África e como a situação é tratada pela mídia.

"Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista"

4 - Take It Easy My Brother Charles

A quarta faixa do disco é nada mais, nada menos, que uma versão de Take It Easy My Brother Charles do mestre Jorge Ben Jor, lançada originalmente no ano de 1969 no clássico disco "Jorge Ben".

5 - Brixton, Bronx ou Baixada

Outro tema tratado pela banda O Rappa é a questão da religiosidade. Neste primeiro disco a música Brixton, Bronx ou Baixada ainda conta como uma critica social, mas apresenta também um cunho religioso. De longe é a faixa que mais gosto do disco e que ganhou grande destaque no lançamento do "Acústico Mtv - O Rappa" no ano de 2005. Marcelo Yuka e Nelson Meirelles falam das desigualdades sociais e da influência que a religiosidade tem na vida das pessoas. Também entendo como uma defesa a liberdade religiosa, musical e até mesmo politica.

"Cada qual com seu James Brown
Salve o samba, hip-hop, reggae ou carnaval
Cada qual com seu Jorge Ben
Salve o jazz, baião e os toques da macumba também
Da macumba também"

A saber:

Brixton = bairro de subúrbio de Londres, onde há uma grande concentração de negros e afro-descendentes das colônias inglesas.

Bronx = conhecido bairro negro americano.

Baixada = tirem suas conclusões.

6 - R.A.M.

Devo confessar que a sexta faixa do disco ainda é uma incógnita para mim. A única coisa que descobri é que "R.A.M" é a sigla de "ritmos, ações e manifestos" (fácil isso). Seria uma menção/defesa aos protestos da época? Uma música que busca encorajar a população a tomar as ruas e manifestar-se? Sei lá.

"Nação não é bandeira
Nação é união
Família não é sangue
Família é sintonia"

7 - Skunk Jammin

Com participação de Marcelo D2, a música cita grandes revolucionários como Gandhi, Charlie Chaplin, Bob Marley, Dalai Lama e até a Dona Zica (?). A faixa é uma abertura para a seguinte do disco, tanto é que possui apenas 34 segundo.

"Tem razão quem tem paixão
Tem razão quem fala
Com a voz do coração"

8 - Coincidências E Paixões

Acredito que Yuka se referia a uma questão religiosa nessa faixa. Ou não. Marcelo D2 volta ao final da música para o refrão chiclete, já cantado na faixa sete, citando os revolucionários e também se junta a Falcão para:

"Tem razão quem tem paixão
Tem razão quem fala
Com a voz do coração"

9 - Fogo Cruzado

A nona faixa do disco remete aos conflitos existentes dentro da própria favela, seja entre facções diferentes ou com a policia. Também cita a questão das drogas e o poder que ela traz aos traficantes.

"No Gueto o medo ilude e seduz
Com o poder da cocaína
Quem comanda o sucesso
Das bocas de fumo da esquina"

10 - À Noite

Mais uma incógnita.

11 - Candidato Caô Caô

A décima primeira faixa do disco é uma versão inicialmente lançada por Bezerra da Silva, que inclusive se junta a Falcão para interpretar a música no disco. É basicamente uma critica aos políticos.

12 - Mitologia Gerimum

Esta é mais uma faixa que ganhou destaque após o lançamento de "Acustico Mtv - O Rappa". Acredito que a música faça menção às pessoas que deixam sua cidade natal em busca de oportunidades melhores, mas que ainda assim enfrentam grandes dificuldades.

"Vou, vou, vou voltar
Prá casa de novo
Troquei poeira por fuligem
Fiz um pacto em São Cristóvão
O couro da zabumba
Guarda um pedaço"

13 - Sujo

A faixa que fecha o disco é outra incógnita para mim. No último verso há uma critica clara a sociedade, para variar um pouco. É o que sei.

"Sujo, mas não tão sujo quanto a sociedade
Frio, mas não tão frio quanto a impiedade
Bêbado, mas não tão ébrio quanto a passividade
Sujo, frio e bêbado"

Abaixo o disco na íntegra para vocês. Aproveitem. O próximo disco a ser comentado, e garanto que será de uma forma muito mais completa, será o "Rappa Mundi". Abraços.

6 comentários:

  1. Opa! Já conheço o disco, mas vou ouvir de novo e volto pra comentar. ;-)

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  2. Cara, não tinha me ligado o quanto os caras já eram extremamente engajados desde o primeiro disco. O disco é totalmente político, cheio de críticas, metáforas para as desigualdades sociais, o racismo, a opressão dos mais pobres. GENIAL demais. Parabéns pelo post!

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  3. Excelente!
    Os caras sempre foram muito engajados e críticos desde o primeiro disco!
    As letras ao ácidas e a qualidade musical surpreende.

    Ótima escolha!

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  4. Esse disco nao fez sucesso por que o povo e pobre de cultura . Preferem colocar um wesley safadao em um trono com letras nada a ver com nada. Eh um otimo disco muito melhor que os dois ulitmos trabalhos de estudio do rappa que esses sim para mim nao prestam. Os melhores albuns deles sao os 4primeiros o acustico para mim foi o inicio do fim da banda .

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  5. Melhor disco do Rappa pra mim, uma pegada bem reggae q me agrada muoto

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