Nota: 9
A icônica capa de Suffer |
Sabe como você muda, revitaliza e
influencia toda uma cena musical em pouco mais de 26 minutos? “Suffer”! Segundo Fat Mike, lendário vocalista do NOFX, este disco do Bad Religion foi o responsável por
“mudar tudo”! E ele certamente estava se referindo às profundas mudanças de
conceito e estética sonora que o “Punk Rock” sofreu após o lançamento de
“Suffer”.
Sabe aquele som Punk bem cruzão,
agressivo, cortante, com 3 ou 4 acordes no máximo, e com melodias bem primárias,
ou até mesmo, sem nenhuma melodia? Até “Suffer” ser lançado em 8 de setembro de
1988 pela Epitaph Records, gravadora do
próprio guitarrista da banda, Mr. Brett (sim,
do-it-yourself!), o Punk Rock de verdade (o contestador, e não aquele com “letras-pra-pegar-mininha”) não
era nada melódico, não tinha muitos acordes e estruturas musicais
mais elaboradas e, muito menos, coros de backing
vocals com harmonias em 3 vozes em tons diferentes.
E essas são as principais
características deste segundo full length
do Bad Religion, acrescidas ainda de
um inexplicável, porém perceptível, “ar californiano” que permeia todas as
velozes 15 faixas do play, que
juntas somam poucos, porém certeiros, 26
minutos, sendo a menor, “Pessimistic Lines”, com 1:07, e a maior, “What Can You Do” (o som do BR favorito de
Tim Armstrong, do Rancid), com 2:44.
A banda estava parada desde o fim de 1985 e só se reuniu novamente no meio de 1987 para compor “Suffer”.
A formação contava com os compositores Greg Graffin (v) e Mr. Brett (g), seus
asseclas do 1º disco Jay Bentley (b) e Pete Finestone (d), e o responsável pela
“sobre-vida” da banda no meio da década de 80, Greg Hetson na outra guitarra.
Line-up de Suffer, em 88: Brett (g), Pete (d), Hetson (g), Bentley (b) e Graffin (v) |
Eles levaram apenas 8 dias, em
abril de 1988, para gravar e mixar o disco no estúdio Westbeach Recorders, também de propriedade do guitarrista Mr. Brett
(mais do-it-yourself nessa história!),
que foi o engenheiro de som na gravação (seu
novo “emprego” pós largar o vício em crack), além de produzir a bolacha
junto com o resto da banda. Entre os fatos curiosos da gravação, que foi
vitoriosa em tirar um som bem limpo e audível, sabe-se que Jay Bentley gravou o
baixo com um amplificador de guitarra Hiwatt SA212, método que acabou empregado
em quase todos os discos do BR desde então.
O impacto pelo novo jeito de
fazer Punk Rock, ainda rápido, agressivo e com letras ainda mais contestadoras,
porém cheio de melodias e harmonias vocais, foi tão grande que “Suffer” vendeu
3 mil cópias logo de cara no 1º ano, sendo que permaneceu como o campeão de
vendas (no 1º ano) do selo Epitaph até 1994, quando foi desbancado pelo nada mais, nada
menos clássico “Smash”, do The Offspring. No Brasil, “Suffer” só foi editado oficialmente em 1998, 10 anos
após seu lançamento, em CD, pela gravadora Paradoxx Music.
Blusão com o "garoto queimando" |
A icônica capa, desenhada pelo
artista Jerry Mahoney, se tornou lendária ao trazer um típico adolescente no subúrbio
americano, literalmente pegando fogo de raiva, ou “sofrendo”, fazendo alusão ao título do disco. O “garoto queimando”,
mesmo não se tornando um “mascote” oficial do Bad Religion, acabou sendo muito
utilizado em artes de camisetas e, principalmente, em tatuagens feitas por fãs.
O guitarrista Mr. Brett disse, em
entrevistas, que o conceito lírico de “Suffer” (tradução “sofrer”) vem do escritor Fyodor Dostoyevsky, em não encarar o sofrimento como uma coisa
ruim, mas sim como um fator de onde o ser humano sai “purificado”. Já do lado
da outra força criativa da banda, o vocalista e professor universitário Greg
Graffin, as letras escritas por ele, além da contestação pura e direta,
começaram a abordar assuntos acadêmicos e Ciência propriamente dita, temas que
passaram a ser recorrentes no resto do catálogo da banda a partir de então, e que te obrigam a usar bastante um dicionário para entender algumas vezes (rs).
Encarte com as letras pintadas na parede do quarto do baixista |
Se historicamente “Suffer” foi um
divisor de águas para a cena Punk nos EUA, musicalmente ele inventava, sem
querer-querendo, um novo estilo, com músicas velozes, com pouco mais de 1
minuto de duração, compostas seguindo harmoniosamente as escalas das notas
musicais (a sequência “dó-ré-mi” é bastante utilizada), cheias de melodias
fáceis de cantar e assobiar, que agradavam não só os punks fãs de contestar o
sistema, mas também um público mais jovem, incluindo uma boa parcela de
skatistas e aficcionados em esportes radicais em geral.
Contracapa da versão em CD |
A pessimista faixa-título, tocada nos shows até os dias de hoje, abre o lado B
com suas cacofonias, preparando terreno para a mais hardcore de todas, “Delirium of Disorder”, o único som que
lembra o estilo de Punk Rock mais sujão praticado pelo Bad Religion no início
da carreira.
Foto da arte do vinil, com o BR posando em frente ao CBGB, em NY |
"Suffer" ainda conta com o hino
hardcore “Do What You Want” e sua
letra “totalmente foda-se” (“Faça o que
quiser, mas não faça perto de mim (...) Faça o que for preciso, faça o que
puder, quebre todas as regras e vá pro inferno com o Superman, morrendo como um
herói!”), talvez o maior sucesso do play e uma das favoritas de todos os
tempos pelos fãs da banda.
Bad Religion ao vivo, circa 89 |
Depois que “Suffer” saiu, a
gravadora Epitaph virou referência
nesse estilo de Punk Rock com cheiro de California e um monte de melodia,
lançando os primeiros álbuns de bandas que mais tarde se tornaram seminais,
como The Offspring, Pennywise, Rancid, Down By Law, entre
outras. Uma nova cena havia sido
inagurada e o Bad Religion era o ponta-de-lança, referência máster, tanto
musicalmente, como mercadologicamente, com o guitarrista Brett capitaneando a
Epitaph, lançando, produzindo e, consequentemente, profissionalizando
cada vez mais bandas do estilo.
Com o sucesso de "Suffer" no
underground, a carreira do Bad Religion, que estava estagnada apenas aos EUA até então, virou internacional, com a banda fazendo sua primeira tour na Europa em 1989. E a vibe pelo lançamento de algo
tão influente foi tão forte, que eles logo entrariam em estúdio novamente
para registrar, nos mesmos moldes, o sucessor, o não menos clássico “No Control”, que será comentado no próximo post. Até lá! ;)
Escute "Suffer" logo abaixo:
Esse cd e foda !
ResponderExcluirFodasso!!!
Excluirótimo review, cara. segue com mais. abraço!
ResponderExcluirValeu, mano! Já saiu o do "No Control"! ;)
ExcluirMuito bacana você busca bem as referências, no meu ponto de vista uma banda de punk rock que é o estilo que eu mais amo , não apenas toca mas transforma vidas.
ResponderExcluirValeu, Washington! :)
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