Nota: 9
Tudo que se poderia esperar do “Bad
Religion-pós-Suffer” está em “No Control”:
as músicas curtíssimas, a simplicidade, os vocais melódicos,
os vários coros de backing vocal
com 3 vozes em harmonia, a energia infinita e aquele inconfundível,
inexplicável-porém-perceptível “ar californiano”. Talvez a única
diferença, que fez justamente o disco não soar como uma repetição, mas sim uma
continuação de “Suffer”, foi a alta velocidade
da maioria das músicas, o quê, futuramente, acabou fazendo o disco ser
considerado o mais “hardcore” da
carreira do Bad Religion.
“No Control” foi lançado pela Epitaph Records, do guitarrista Brett, e veio ao mundo no dia 2 de novembro de 1989. Aqui no Brasil, a edição oficial saiu só em
1998, via Paradoxx Music. Inicialmente, o disco não vendeu tão bem como “Suffer”,
mas sempre figurou entre os mais vendidos do catálogo da banda, sendo que em
1992, havia atingido a marca de 80 mil cópias vendidas, atrás dos
discos “Generator” (1992), com 85 mil, “Suffer”, com 88 mil, e “Against The
Grain” (1990), com 90 mil. A arte da
capa, uma colagem de fotos dos membros da banda, com cores muito gritantes
e oitentistas, e sem a fonte e logo do BR, foi feita pelo artista Norman Moore, que trabalhou em outras
capas da banda em lançamentos futuros.
De acordo com entrevistas, as
músicas de “No Control” foram compostas
durante a tour de “Suffer” e seus intervalos entre 88 e 89, com Brett assinando oito faixas e
Graffin as outras sete. Brett chegou a afirmar que, devido ao ótimo momento que
a banda vivia com “Suffer”, sua criatividade estava em alta: “Estava trabalhando como engenheiro de som
em discos para minha gravadora e, em um intervalo para um café era capaz de
escrever uma música inteira em menos de meia hora”, revelou.
O lado A do vinil, que é quase
inteiro composto por Mr. Brett, possui justamente as duas melhores músicas de Greg
Graffin: “Change of Ideas” e a
faixa-título. Na primeira, o cantor conseguiu a façanha de condensar uma música
com dois versos e um refrão matador em apenas 54 segundos – nada mais Punk Rock
– registrando um hardcore rápido e incrivelmente bem “amarrado” melodicamente
falando.
Ainda no lado A, temos a simples
e certeira, mas não menos clássica e fantástica, “I Want to Conquer the World”, composta por Brett. Sua letra, apesar de divertida
ao falar sobre o quê ele faria se fosse “o dono do mundo”, também pode ser
encarada de maneira pessimista (algo bem comum no Punk Rock), como um grito de
desespero ou agonia, como se a única solução para “consertar” o planeta fosse
ele mesmo assumindo o poder. Em entrevistas, o músico simplesmente alegou que
trata-se apenas de uma música “antiguerra”, mas os versos acabaram por entregar
muito mais que isso.
Além dos quatro clássicos, “No
Control” ainda traz uma pá de canções legais, como a cadenciada “Sanity”, com sua letra bem poética
(para os padrões de uma banda punk); a “desenfreada” “Sometime It Feels Like”, com suas cacofonias mostrando as primeiras
experiências de Mr. Brett ao compor “músicas abstratas” – ele incrivelmente
encaixa partes de “antimúsica” no meio da melodia do som, fazendo a música literalmente
“falar”; as hardcores “Big Bang” e “Progress” com seus coros de backing vocals subindo os tons; e as
interessantes “Henchman”, que começa
no ritmo “Punk 77” e descamba pra um “HC insano” no final, e “Billy”, com sua fortíssima letra autobiográfica
feita por Brett sobre seu vício em crack (ele viria a ficar 100% sóbrio somente em 1999, após muitas idas e vindas no seu "inferno")! Nunca li nada à respeito, mas essa música pode muito bem ser uma continuação da faixa "Billy Gnosis", lançada no fraquíssimo "Into The Unknown", de 1983.
“No Control”, que certamente está em os favoritos de qualquer fã do Bad Religion que se preze, não só manteve
o patamar atingido pela banda no disco anterior, como também provou que eles ainda
eram capazes de soar bem hardcore (como
em seu início de carreira), mesmo fazendo músicas calcadas em melodias e em
escalas musicais. E, como ainda havia caminhos para explorar nessa fórmula de
fazer Punk Rock criada por eles mesmos, mantiveram o mote “em time que está ganhando, não se mexe!” no disco seguinte, “Against the Grain”, de 1990, que será o
próximo resenhado. Até lá! ;)
O colorido oitentista da capa de "No Control" |
Para aproveitar o verdadeiro
rebuliço que “Suffer” (1988) causou
na cena Punk Rock americana e mundial, o Bad Religion não perdeu tempo! Logo após o fim da sua primeira tour europeia, a
banda entrou novamente no estúdio do guitarrista Mr. Brett, o Westbeach Recorders, em Los Angeles,
para registrar suas novas músicas. Era junho de 1989 e o velho ditado, “em
time que está ganhando, não se mexe!”, tão comum no futebol (e odiado no mundo corporativo), cai
como uma luva para descrever esse momento que o Bad Religion vivia e o fruto proveniente dele: “No Control”, o 4º full length de sua carreira, uma verdadeira pedrada hardcore, com
menos de meia hora de músicas curtas, rápidas, simples e melódicas até o osso!
Propositalmente ou não, assim
como em “Suffer”, a banda conseguiu
a façanha de cravar novamente a marca de 15
faixas em 26 minutos com “No Control”. E não foi apenas nos
números e nos métodos de gravação que o BR repetiu a mesma fórmula. Musicalmente,
além de manter a formação, com os compositores Greg Graffin (v) e Mr. Brett,
mais Jay Bentley (b), Greg Hetson (g) e Pete Finestone (d), o grupo mostrou uma incrível consistência,
fazendo o disco novo soar não só como uma continuação natural de seu antecessor,
mas como se fosse um verdadeiro “lado B”, ou um “disco 2” de um álbum duplo. Claro
que isso pode soar como “repetição”, mas não foi o caso aqui...
Foto de 89 (sem o baterista) no encarte de uma versão pirata de "No Control" |
Encarte da versão em K7 de "No Control" |
Contracapa do CD |
Os assuntos nas letras mantiveram
o tom altamente crítico e os alvos de “Suffer”, mas as “intervenções acadêmicas” nas músicas compostas por Greg Graffin, que havia acabado seu mestrado e estava começando seu doutorado na “facul”, tomaram
proporções bem maiores em “No Control”, com o vocalista chegando ao ponto de citar e a colocar a fonte
(!!!), ao usar as palavras do naturalista escocês James Hutton, na letra da faixa-título, com o verso “no vestige of a beginning, no prospect of an
end.” Sua bela voz, agora “adulta”, uma marca praticamente impossível de
desassociar quando se pensa no Bad Religion, também acabou sendo o destaque individual do álbum em
comparação à performance de seus colegas instrumentistas.
Letras no encarte do K7 (clique para ampliar) |
Já “No Control”, a música, se tornou um clássico absoluto do Bad
Religion, sendo inclusive coverizada este ano pelo Offspring numa versão lindona, em comemoração a uma tour conjunta
entre as duas bandas. A letra, mais um “tapa-na-cara” do vocalista, fala sobre
como não adianta você ser o “pica-do-rolê”, já que um dia tudo acaba sem você
ter o controle e, justamente isso te faz igual a todos os homens.
Maravilhoso poster da tour de "No Control" |
Outro “clássico” presente em “No
Control”, mas no lado B, é a melodiosa “You”,
conhecidíssima da galera que jogava “Tony Hawk Pro Skater 2” no Playstation, no começo dos anos 2000. Composta na
famosa sequência de acordes “Lá menor-Fá-Dó-Sol”, “You”, que segundo Brett, era
uma “música de amor ao contrário” composta para uma ex-namorada, tem até uma
citação de “We Can Work It Out”, dos Beatles: “there's no time for fussing
and fighting, my friend.”
BR sendo entrevistado na Alemanha em 1989 |
Escute "No Control" na íntegra logo abaixo:
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