Nota: 1
BR: rumo ao desconhecido |
Manja o “Load” do Metallica? Ou o
“Virtual XI” do Iron Maiden? Ou o “Chinese Democracy” do Guns n’ Roses? Ou
qualquer outro disco ruim e absolutamente decepcionante da sua banda favorita,
seja lá qual ela for? Pois é... Eis que chegamos na maior “escorregada” da
carreira do Bad Religion,
responsável até mesmo por “acabar” com a banda por algum tempo (aquele hiato no meio dos Anos 80 que eu
expliquei na introdução - AQUI): o estranhíssimo “Into The Unknown”, lançado em 30 de novembro de 1983, pela Epitaph
Records, gravadora independente de propriedade do guitarrista da banda, Brett
Gurewitz.
Fazendo muito jus ao título da
bolacha, o Bad Religion, pela primeira vez estava “entrando em territórios
desconhecidos”, musicalmente falando. Alegando que a cena punk de Los Angeles e
arredores estava ficando muito “violenta” e “chata”, o até então quarteto
resolveu chutar o balde bonito e “inovar” na estética do seu som, para meio que
se “diferenciar” das associações que eles ganharam após o seu feroz debute
(leia AQUI).
Se em “How Could Hell Be Any Worse?”, lançado um ano antes, eles seguiram
a cartilha do Punk Hardcore, agradando em cheio até mesmo aos fãs mais “xiitas”
do gênero, em “Into the Unknown”, eles tentaram soar como uma banda de Rock Progressivo, com uso excessivo e
abusivo de teclados e músicas longas, fazendo exatamente o
contrário do que se espera de uma banda de Punk Rock.
Uma das contracapas do play |
Resultado: das primeiras 10 mil
cópias que a Epitaph prensou do
disco, 11 mil retornaram ao escritório da gravadora, como disse brincando o
próprio guitarrista Mr. Brett em entrevistas posteriores. A outra força artística
da banda, o vocalista Greg Graffin, se defendeu dizendo que só fez o “disco que
queria fazer”, sem se importar com mais nada. Além de o disco empacar nas lojas
e distribuidores, os shows do grupo minguaram, culminando no já falado break
que eles deram, só voltando à ativa em 1985.
O problema nem foi a mudança
radical de estilo, mas sim a falta total de tato, noção e inspiração para se aventurarem
musicalmente em outros territórios. As histórias dizem que o disco foi composto
inteiramente em um sintetizador Roland Juno 6
que Graffin granhou de Mr. Brett. E ele se empolgou tanto, que o som do teclado,
tocado pelo cantor, acabou dominando todas as bases do disco, sufocando a
guitarra (o instrumento que mais simboliza uma banda de ROCK) atrás de um
timbre bem sem-vergonha, digno daqueles “teclados de churrascaria”.
Contracapa de um bootleg do disco |
As músicas também perderam
totalmente o punch, calcadas em um Hard Rock de progressões de acordes bem
simples e bem repetitivas, e longas (para os standards do Punk Rock). A menor faixa do disco, “Chasing the Wild Goose”, tem 2:50min,
enquanto a maior, “Time and Disregard”
chega aos soníferos 7:03min.
Não foi à toa que o baixista Jay
Bentley abandonou a banda ainda no estúdio, no meio da gravação da primeira
música. Nem mesmo a contratação do produtor Thom Wilson, responsável pela
produção de inúmeros clássicos do “Punk California”, como os três primeiros
discos do The Offspring (incluindo o seminal “Smash”), salvou o caldo, fazendo
a banda sentir vergonha alheia mais tarde, por ter ousado fazer esse
lançamento.
Outra historinha do “fracasso” desse play, diz que as últimas caixas
dos discos que retornaram ao escritório da gravadora com os exemplares originais
da primeira prensagem, e que hoje seriam consideradas verdadeiras relíquias
para os colecionadores, foram queimadas sem dó pelo baixista e pelo guitarrista
em uma “cerimônia purificadora” no quintal da casa de um deles... Isso fez com
que inúmeros bootlegs do discos fossem “pirateamente” comercializados até o
relançamento do álbum em 2010.
Anúncio do disco na revista Maximum Rock n' Roll |
Ok. Sei que contei historinha pra
caramba e falei pouco da música. Na boa? As histórias são mais interessantes
mesmo. O próprio Bad Religion, em toda sua carreira, só tocou músicas do “Into
The Unknown” duas vezes ao vivo: 1) no único show de promoção do disco, no
comecinho de 1984; 2) em 2010, e, um dos shows de comemoração dos 30 anos da
banda, quando mandaram uma versão bem guitarreira e sem teclados da menos
piorzinha “Billy Gnosis”. E foi uma
vez só. Acho que isso já explica, né?
Se quiser arriscar, aperta o play aí embaixo, mas vá por
sua conta e risco. Eu pulo esse e vou direito pro apropriadamente intitulado EP
“Back To The Known”, de 1985, que
marcou a volta do Bad Religion ao Punk
Rock, e que será objeto da próxima resenha! Até lá! ;)
Não achei o disco em si ruim. Não vou nem entrar no mérito de comparar timbres e harmonias porque, claro, são propostas diferentes. E também eu tenho o meu viés, gosto de progressivo. Não jogaria esse disco no lixo, de jeito nenhum! Não deve (muito) pros oitentistas da época.
ResponderExcluirMas realmente, pra quem curtiu HCHBAW, e esperava uma cacetada ainda maior, é traição!! Dar uma escapada tudo bem, mas desde q a banda esteja consolidada... não no segundo disco. Ainda bem q conseguiram voltar depois...
O Kiss também mudou em "Music From The Elder", mas em outra situação. Eles já tinham mudado, sem sucesso, e com "...The Elder" chutaram o balde tb. Mas era o 13o. disco deles, e com um produtor que dava nó em pingo d'água. Não deu certo, mas a banda não acabou. (em vez disso mudaram de novo, rs...)
Enfim, ótimo post! Aguardo os próximos!! Abraço
Valeu, man!!!
ExcluirÉ bem isso que vc disse: "é traição" pra quem esperava uma cacetada hardcore! rs
Essas "escorregadas" só tornam as bandas ainda mais "míticas", pq ela acabam sempre voltando com tudo! O Kiss mesmo fez o "Creatures" dps do "Elder", puta discão!
E assim o Rock vai nos fascinando... ;)
Eles só cometeram 1 erro nesse disco: deveriam ter mudado o nome da banda para SAD RELIGION. Mas o disco é bom.
Excluirhahahaha, boa!!!
Excluir