terça-feira, 7 de outubro de 2014

Bad Religion 3 – Into The Unknown (1983)

Nota: 1

 

BR: rumo ao desconhecido
Manja o “Load” do Metallica? Ou o “Virtual XI” do Iron Maiden? Ou o “Chinese Democracy” do Guns n’ Roses? Ou qualquer outro disco ruim e absolutamente decepcionante da sua banda favorita, seja lá qual ela for? Pois é... Eis que chegamos na maior “escorregada” da carreira do Bad Religion, responsável até mesmo por “acabar” com a banda por algum tempo (aquele hiato no meio dos Anos 80 que eu expliquei na introdução - AQUI): o estranhíssimo “Into The Unknown”, lançado em 30 de novembro de 1983, pela Epitaph Records, gravadora independente de propriedade do guitarrista da banda, Brett Gurewitz.

Fazendo muito jus ao título da bolacha, o Bad Religion, pela primeira vez estava “entrando em territórios desconhecidos”, musicalmente falando. Alegando que a cena punk de Los Angeles e arredores estava ficando muito “violenta” e “chata”, o até então quarteto resolveu chutar o balde bonito e “inovar” na estética do seu som, para meio que se “diferenciar” das associações que eles ganharam após o seu feroz debute (leia AQUI).

Se em “How Could Hell Be Any Worse?”, lançado um ano antes, eles seguiram a cartilha do Punk Hardcore, agradando em cheio até mesmo aos fãs mais “xiitas” do gênero, em “Into the Unknown”, eles tentaram soar como uma banda de Rock Progressivo, com uso excessivo e abusivo de teclados e músicas longas, fazendo exatamente o contrário do que se espera de uma banda de Punk Rock.
Uma das contracapas do play
Resultado: das primeiras 10 mil cópias que a Epitaph prensou do disco, 11 mil retornaram ao escritório da gravadora, como disse brincando o próprio guitarrista Mr. Brett em entrevistas posteriores. A outra força artística da banda, o vocalista Greg Graffin, se defendeu dizendo que só fez o “disco que queria fazer”, sem se importar com mais nada. Além de o disco empacar nas lojas e distribuidores, os shows do grupo minguaram, culminando no já falado break que eles deram, só voltando à ativa em 1985.

O problema nem foi a mudança radical de estilo, mas sim a falta total de tato, noção e inspiração para se aventurarem musicalmente em outros territórios. As histórias dizem que o disco foi composto inteiramente em um sintetizador Roland Juno 6 que Graffin granhou de Mr. Brett. E ele se empolgou tanto, que o som do teclado, tocado pelo cantor, acabou dominando todas as bases do disco, sufocando a guitarra (o instrumento que mais simboliza uma banda de ROCK) atrás de um timbre bem sem-vergonha, digno daqueles “teclados de churrascaria”.
Contracapa de um bootleg do disco
As músicas também perderam totalmente o punch, calcadas em um Hard Rock de progressões de acordes bem simples e bem repetitivas, e longas (para os standards do  Punk Rock). A menor faixa do disco, “Chasing the Wild Goose”, tem 2:50min, enquanto a maior, “Time and Disregard” chega aos soníferos 7:03min.

Não foi à toa que o baixista Jay Bentley abandonou a banda ainda no estúdio, no meio da gravação da primeira música. Nem mesmo a contratação do produtor Thom Wilson, responsável pela produção de inúmeros clássicos do “Punk California”, como os três primeiros discos do The Offspring (incluindo o seminal “Smash”), salvou o caldo, fazendo a banda sentir vergonha alheia mais tarde, por ter ousado fazer esse lançamento.

Outra historinha do “fracasso” desse play, diz que as últimas caixas dos discos que retornaram ao escritório da gravadora com os exemplares originais da primeira prensagem, e que hoje seriam consideradas verdadeiras relíquias para os colecionadores, foram queimadas sem dó pelo baixista e pelo guitarrista em uma “cerimônia purificadora” no quintal da casa de um deles... Isso fez com que inúmeros bootlegs do discos fossem “pirateamente” comercializados até o relançamento do álbum em 2010.
Anúncio do disco na revista Maximum Rock n' Roll
Ok. Sei que contei historinha pra caramba e falei pouco da música. Na boa? As histórias são mais interessantes mesmo. O próprio Bad Religion, em toda sua carreira, só tocou músicas do “Into The Unknown” duas vezes ao vivo: 1) no único show de promoção do disco, no comecinho de 1984; 2) em 2010, e, um dos shows de comemoração dos 30 anos da banda, quando mandaram uma versão bem guitarreira e sem teclados da menos piorzinha “Billy Gnosis”. E foi uma vez só. Acho que isso já explica, né?

Se quiser arriscar, aperta o play aí embaixo, mas vá por sua conta e risco. Eu pulo esse e vou direito pro apropriadamente intitulado EP “Back To The Known”, de 1985, que marcou a volta do Bad Religion ao Punk Rock, e que será objeto da próxima resenha! Até lá! ;)


4 comentários:

  1. Não achei o disco em si ruim. Não vou nem entrar no mérito de comparar timbres e harmonias porque, claro, são propostas diferentes. E também eu tenho o meu viés, gosto de progressivo. Não jogaria esse disco no lixo, de jeito nenhum! Não deve (muito) pros oitentistas da época.

    Mas realmente, pra quem curtiu HCHBAW, e esperava uma cacetada ainda maior, é traição!! Dar uma escapada tudo bem, mas desde q a banda esteja consolidada... não no segundo disco. Ainda bem q conseguiram voltar depois...

    O Kiss também mudou em "Music From The Elder", mas em outra situação. Eles já tinham mudado, sem sucesso, e com "...The Elder" chutaram o balde tb. Mas era o 13o. disco deles, e com um produtor que dava nó em pingo d'água. Não deu certo, mas a banda não acabou. (em vez disso mudaram de novo, rs...)

    Enfim, ótimo post! Aguardo os próximos!! Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu, man!!!

      É bem isso que vc disse: "é traição" pra quem esperava uma cacetada hardcore! rs

      Essas "escorregadas" só tornam as bandas ainda mais "míticas", pq ela acabam sempre voltando com tudo! O Kiss mesmo fez o "Creatures" dps do "Elder", puta discão!

      E assim o Rock vai nos fascinando... ;)

      Excluir
    2. Eles só cometeram 1 erro nesse disco: deveriam ter mudado o nome da banda para SAD RELIGION. Mas o disco é bom.

      Excluir