Oi, eu sou o Salinas! Esse disco pode até ser considerado um disco "maldito" de Raul. Ele queria fazer uma homenagem aos clássicos que o inspiraram, desde os
tempos de criança em Salvador, quando começou a ter contato com o rock, coisa rara naquela época. Mas na época a gravadora achou "nada a ver" um cara que começava a fazer sucesso fazer um disco de covers.
Quando Raul falava de rock, era Elvis Presley no começo da carreira, Little Richard, Paul Anka, The Platters. Ele pegou o começo da coisa, a década de 50. Como ele mesmo disse em entrevistas, o Rock havia morrido em 1959 quando Elvis entrou pro exército.
A gravadora topou lançar o disco em 1973, mas com uma condição: o nome de Raul Seixas não apareceria na capa (aqui relançada pelo Raul Rock Club). Então foi criada uma banda fictícia, uma tal de Rock Generation, que levou os créditos. Raul apareceu apenas como produtor. E pra não "queimar" o próprio artista, a gravadora não fez divulgação. O disco ficou esquecido nas lojas. Em 1975, depois do sucesso de "Gita", eles perceberam a burrada e relançaram o disco como "20 Anos de Rock", agora com o nome do Raul. Quiseram dar uma garibada, mudando a capa, ordem de faixas e incluindo assobios e aplausos pra parecer que era ao vivo. Raul, claro, não gostou muito. Em 1985 outro relançamento, atualizando o título pra "30 anos de Rock". (haja picaretagem... mudar um dígito na capa e fazer a galera comprar de novo o disco). Por fim, em 2001 o disco foi relançado uma última vez, com a imagem acima, e do jeito que Raul queria, na ordem certa e sem assobios.
As faixas não correspondem exatamente a cada música. Raul deu uma encurtada em cada uma, pra poder caber 24 músicas em 1 só disco, e cada faixa é um "medley" de duas ou três músicas (detesto o termo ~pot-pourri~, kkk). Então vou comentar por "música" em vez de por "faixa".
"Abertura"
A primeira faixa é uma vinheta instrumental, bem TV, tipo aqueles shows dos anos 60. Naipe de metal comendo solto, com brecada sensacional e solinho de batera no final.
"Rock Around the Clock" (Jimmy de Knight / Max C. Freedman)
Logo de cara a paulada-mor do rock, aqui gravada pelo Bill Haley. O ponteiro das horas deu uma volta inteira no relógio e ainda estamos dançando!
"Blue Suede Shoes" (Carl Perkins)
Outro clássico do 1-4-5, gravada pelo Rei do Rock. Cuidado pra não pisar no meu sapato azul de camurça! Faça o que quiser, me dê um tapa na cara, roube meu carro, beba minha bebida... mas não me pise no sapato!
"Tutti Frutti" (Little Richard / Joe Lubin / Dorothy La Bostrie)
Nesses vídeos a gente vê como a coisa era muito diferente naquela época... a banda anunciada por um ~gerente de banco~, toda comportadinha em seus ternos brancos, dançandinho ao ritmo, mas nada que se comparasse ao pornográfico "Pelvis", que gera piadinhas até hoje. E claro, o gordinho mandando ver na pista!
"Long Tall Sally" (Little Richard / Joe Lubin / Dorothy La Bostrie)
Essa fecha o primeiro medley, que já deixa a galera sem fòlego! Com a história do tio John, que resolveu dar uma escapada com a tal ~Sally compridona~ (bons tempos de inocência... era apenas uma menina alta). Quase que a tia Mary pegou, mas na hora H eles se esconderam agachadinhos no beco...
"Rua Augusta" (Hervé Cordovil)
"Descendo a Rua Augusta a 120 por hora"... sim, é a Augusta Baixa, em SP, que já na época de Raul fervilhava, de intelectuais a zés-ninguém. Talvez mais que hoje... e lá Raul e sua gangue aprontavam altas confusões com seus carrões, com três carburadores envenenados, sem breque, sem luz e sem buzina.
"O Bom" (Carlos Imperial)
Aqui, um clássico do "rock ostentação". Nada a ver (ou será que tem?) com o polêmico estilo que hoje em dia domina as paradas de sucesso da quebrada, aqui é ostentação no sentido puro e simples. Não tem pra ninguém!
"Poor Little Fool" (Sharon Sheeley)
Será o mesmo cara da música anterior? Agora uma balada mais lenta, pra descansar depois de tanta agitação. "Pobre bobinho" conta como foi enganado e jogado às traças por uma espertinha à qual ele entregou seu coração.
"Bernadine" (Johnny Mercer)
Um teclado maroto pra contar sobre a Bernardine. Ela parece igual às outras em cada uma de suas partes, mas no "conjunto da obra" é toda especial.
"Estúpido Cupido" (Neil Sedaka / Howard Greenfield - Versão: Celly Campelo)
Vamos esquentar as coisas de novo! E pra começar, um esporro nesse tal Cupido que andou aprontando com o coração da galere. O baixo e guitarra deram uma "atualizada" e essa música ficou bem mais 70's.
"Banho de Lua" (Bruno de Filippi / Franco Migliaci)
Aqui a guitarra solando praticamente a música inteira, lá no fundo, enquanto Raul conta sobre a experiência de tomar um banho de lua... homenagem pra Celly Campelo. O curioso é que todo mundo (eu) só conhecia a parte do banho de lua, então ninguém (muito menos eu) entendia o lance de "ficar branco como a neve": é que na verdade, antes, Celly tomou um banho de sol, "se queimou e escureceu". O banho de lua, no caso, teria o efeito inverso...
"Lacinhos Cor-de-rosa" (Mickie Grant)
Mas até que seria engraçado o Raul com um sapatinho de lacinho cor-de-rosa, hehehe... outra homenagem pra Celly, que também vai pro Mickie Grant (aqui gravado pela Dodie Stevens).
"The Great Pretender" (Buck Ram)
Quem o vê sorrindo, pensa que está alegre... não pera, essa é outra. Mas que no fundo tem a mesma mensagem: Raul, o grande fingido, está sozinho mas ninguém percebe... ele finge que tudo vai bem. A versão original foi gravada pelos Platters, mas não posso deixar de citar a versão do Freddie Mercury. Essa eu nem ouço mais até o final, porque toda vez eu choro. :'-)
"Diana" (Paul Anka)
Medley pra Reginaldo Rossi nenhum botar defeito. A entrada já tem aquele "sax brega" (mas que na época não era brega hehe). Raul está ficando com uma mina bem mais velha, mas não se importa com o que o pessoal diz...
"Little Darlin'" (Maurice Williams)
Aqui Raul está novamente apaixonado... o arranjo de vozes no fundo ficou bacana.
"Oh! Carol" (Neil Sedaka)
Ô Carol, dá uma chance pro Raul, PÔ... o cara tá apaixonado e vc só pisa nele, tsc tsc...
"Runaway" (Del Shannon / Max Crook)
Agora Raul anda sozinho pela chuva, e se pergunta o que teria dado errado com o seu amor.
"Marcianita" (José I. Marcone / Galvarino V. Alderete)
Aqui volta a guitarra 70's de novo, solando alucinada lá atrás... Raul tentou atacar com um xaveco mais nerd: os cientistas asseguram que em 10 anos ele conseguirá o coração de uma marciana!! Sim, acreditavam eles que não demoraria muito pro ser humano pisar em Marte...
"É Proibido Fumar" (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)
O maior clássico entre os bombeiros (só que não). Raul terrorista não está nem aí, vai tacar fogo em tudo dando um beijo na garota!!
"Pega Ladrão" (Getúlio F. Cortês)
Os rocks antigos tinham umas historinhas singelas. Aqui Raul estava com seu "broto" no portão, quando passa um ladrão correndo. Teria roubado um coração, e ele achava ser isso uma metáfora. Mas não, era uma jóia em formato de coração... era um ladrão mesmo!!
"Jambalaya" (Hank Williams)
Entrada de baixo bacanosa, misturando no começo com samples da faixa "Todo Mundo Está Feliz" do (já comentado) "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez" .
"Shake, Rattle and Roll" (Charles E. Calhoun)
Outro clássico do rock. Aqui a garota está usando um vestido meio transparente, e o cara se sente "um gato caolho tentando espiar pra dentro de uma loja de peixes".
"Bop-a-Lena" (Tillis / Pierce)
Olha aí a origem da Babilina. Sim, aquela, que Raul queria tirar do bordel... Mas no original não tinha nada disso, ele só falava sobre a hora que a turma ia pras baladas tungz tungz, na época, e a tal Bop-a-Lena que parecia uma rosa, era a favorita dele.
"Only You" (Ande Rand, Buck Ram)
O clássico número 1 dos bailinhos românticos! Quem nunca dançou esta com rosto coladinho, olhando no olho... tá ok, hoje ninguém faz isso. Uma das poucas músicas que ganhou versão inteira, numa faixa só pra ela. Agora sim Raul tá embasbacadamente apaixonado: "só você" isso, "só você" aquilo, não existe mais mulher pra esse cara...
"Vem Quente Que Eu Estou Fervendo" (Carlos Imperial, Eduardo Araújo)
E pra fechar a casa, outro clássico do rock nacional! O grande blefe: no fundo Raul tá mó triste e louco pra fazer as pazes do ~melhor~ jeito, mas não dá o braço a torcer.
Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar o disco nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube.
E é isso! No próximo post vamos falar do maior sucesso de Raul, "Gita". Até lá!
Salleta, acho mto massa esse teu jeito de escrever, é mto divertido, cara. "Rock Ostentação" foi ÓTEMO! Hahahahahaha! Mandou bem. \o/ Tó K Raul!
ResponderExcluirValeu Caio!! Uma análise do Raul não mereceria menos... obrigado!
ExcluirPodescrer Sallin, vc tem um estilo muito legal de escrever. Mandou muito bem! Eu curto esse disco, sobretudo as músicas em português que ficaram num esculacho sensacional! XP
ResponderExcluirValeu Rodrigo! É então, na época rolava isso de traduzir as letras... às vezes rolava umas mexidas daora!
ExcluirGente! Esse "samples" de "Todo Mundo Está Feliz" no começo de Jambalaya não existe no orgiginal... Eu nunca tinha ouvido!! Não é possível... rsrsrs
ResponderExcluirUé. Agora, olhando novamente, de fato temos um problema... neste link isso acontece: http://www.youtube.com/watch?v=2vkCcTeDyQw
ExcluirMas neste, não acontece: http://www.youtube.com/watch?v=-QfBEYOU2rk
Essa é a desvantagem de fazer os posts usando o Youtube como fonte... O ideal é usar o vinilzão mesmo!!
*original
ResponderExcluirBTW, esse disco é sensacional!
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