terça-feira, 30 de setembro de 2014

Bad Religion 2 - How Could Hell Be Any Worse? (1982)



Nota: 6

Olá novamente! Dando sequência aos comentários sobre a discografia de um dos maiores nomes do Punk Rock mundial, o Bad Religion, chegou a hora de resenhar o 1º full length (ou disco completo) lançado pelos californianos.

Financiado por um empréstimo de mil dólares feito pelo pai do guitarrista Brett Gurewitz, “How Could Hell be Any Worse?” foi lançado em 19 de janeiro de 1982, quase um ano depois da estreia da banda com o EP homônimo (resenhado AQUI), também pela gravadora Epitaph Records. E, nesse um ano de “corre”, o Bad Religion, mesmo sem ainda não conseguir atingir o status de “lenda”, pelo menos mostrou que já sabia os caminhos que queria traçar musicalmente.

Punk até a alma, a banda manteve o esquema DIY (do-it-yourself) de produção e, como era de se esperar de uma 2ª experiência em estúdio, não houve grandes evoluções em termos de timbres em “HCHBAW”, lembrando bastante o som que a banda tirou no EP de estreia. Mesmo assim, Greg Graffin (v) e Brett Gurewitz (g) mostraram alguma evolução na composição e a algumas músicas contidas nesse play podem ser consideradas o “protótipo” do estilo “Punk Melódico”, que consagrou a banda no decorrer de sua carreira, como a rápida “Pity”, por exemplo.

Mr. Brett (g), Pete Finestone (d), Greg Graffin (v) e Jay Bentley (b)
How Could Hell Be Any Worse?” foi gravado no Track Record Studios, em North Hollywood, Califórnia (EUA), entre outubro e novembro de 1980 e janeiro de 1981. Na primeira sessão, a banda ainda contava com o baterista Jay Ziskrout, que gravou o 1º EP, mas no segundo período de gravação, ele já havia sido substituído por Pete Finestone, batera que permaneceu no Bad Religion até 1991.

Ziskrout havia deixado 8 faixas gravadas, sendo que Pete acabou registrando apenas 6, das 14 que compõem o disco, que também contou com a participação do guitarrista Greg Hetson, fazendo um solo como convidado na música “Part III”. Na época, Hetson integrava o lendário Circle Jerks, mas, dizem as lendas, que após gravar sua participação no disco, ele nunca mais saiu do Bad Religion (até 2013)!
Energia ao vivo: Greg Graffin e Jay Bentley
Para surpresa da banda, o trabalho vendeu cerca de 10 mil cópias logo no primeiro ano e faixas como “We’re Only Gonna Die” e “Fuck Armageddon... This is Hell” se tornaram os primeiros “clássicos” da carreira dos californianos. “We’re Only Gonna Die”, inclusive, com sua letra sucinta de apenas 4 versos e um “tapão na cara”, foi coverizada mais tarde pelos nova-iorquinos do “Hardcore Pula-Pula” do Biohazard, no disco “Urban Discipline”, de 1992 (confira AQUI). Já a “Fuck Armageddon...” nunca mais saiu do set list dos shows do grupo, com seu riff cortante e sua paradinha mortal no meio!

A composição continuava dividida entre o vocalista Greg Graffin e o guitarrista Mr. Brett, mas o baixista Jay Bentley também contribuiu com 2 músicas bem marcantes: “Part III”, com seu riff de baixo e seus vários solos de guitarra espalhados pela música (um contra-ponto na cultura Punk), e o “discurso-musicalizado” “Voice of God is Government”. 

"Como podia ser pior?": a ilustração do "Inferno" de Dante na contracapa
Generalizando, “How Could Hell Be Any Worse?” é um disco que pode ser classificado como Punk/Hardcore, com aquele som rápido, ríspido, sujo, cru e sem firulas, letras contundentes, alarmantes, pessimistas e rebeldes (mas com muita causa), e uma capa vermelha de pingar sangue! Não é à toa que é praticamente o único disco da carreira do Bad Religion respeitado pelos punks mais “xiitas”, tido exageradamente como “clássico” por alguns deles, inclusive. Certamente não está entre os meus favoritos da banda, mas o pior ainda estava por vir...

Escute o disco no player abaixo:

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Kiss 14 - Creatures of the Night (1982)

Oi, eu sou o Salinas! Depois do sensacional e injustiçado Music from the Elder, o Kiss tenta voltar às suas origens hard. Os fãs já não davam muito crédito pra banda, depois de dois discos mais orientados ao pop e um de rock progressivo. Pra complicar a situação, Ace Frehley resolve sair da banda. Já vinha insatisfeito há tempos com sua posição de "subalterno", desde a época dos solos. A bucha acabou sobrando para Vinnie Vincent, que adotou a persona de "Guerreiro Ankh" (que Paul bolou de última hora) e outros guitarristas que se revezaram nas faixas. E ainda por cima Neil Bogart, o empresário que desde o começo bancou o Kiss (inclusive com dinheiro próprio) resolve morrer durante as gravações.

Mesmo com tudo isso contra, Creatures é um verdadeiro disco de hard rock, do tipo que o Kiss não fazia há um bom tempo. O baterista Eric Carr, com sua influência mais pra John Bonham, substituiu o estilo mais "jazzy" de Criss e isso influenciou no resultado sonoro. Claro que não dá pra voltar atrás: o som ficou mais pra hard rock do que rock & roll. A mulherada tá aí, mas acabou a safadeza, a malemolência... aquilo que os primeiros discos tinham.

Mas foi mais que o suficiente pra se redimir e ficar de bem com os fãs. Este disco teve grande receptividade brazuca, por coincidir com a primeira vinda deles para cá (aqui na íntegra).

"Creatures of the Night" (Paul, Adam Mitchell)

Entrada na bateria, com licks na guitarra. O som de fato ganhou bastante em peso, em nada lembra as baladinhas marotas dos últimos discos. Nós somos as criaturas da noite, que "fogem do dia, buscam uma resposta e mantêm seus álibis". O primeiro solo matador da era pós-Frehley não ficou menos matador por isso! E sem aquele perfume de motel.

"Saint and Sinner" (Gene, Mikel Japp)

Gene, pra variar um pouco e manter a pegada pauleira, resolve terminar com a mina logo de saída, com sua versão do "o problema não é você, sou eu". O baixo tá lá pulsando, mas sem essa de "batida lenta e arrastada", a pegada da música combina com as demais faixas, sem demoniquices desta vez.

"Keep Me Comin'" (Paul, Mitchell)

Uma das poucas faixas mais sensuais do disco. Paul usa todo seu carisma, charme e borogodó pra deixar a gaja à vontade e ela finalmente "deixar ele entrar".

"Rock and Roll Hell" (Gene, Bryan Adams, Jim Vallance)

Agora sim o demônio apareceu com sua famosa batida lenta e arrastada! Muita polêmica já rolou sobre esta letra: se Gene estava contando a história do Frehley já putaço e querendo sair, ou se era ele próprio, Gene, que queria sair da banda! (nesta época ele estava dividido entre vários outros projetos, que incluiriam uma carreira no cinema, felizmente curta). Mas o co-autor Jim Vallance explicou esta história: era uma canção originalmente escrita para o BTO, e Gene se interessou em gravá-la com a condição de incluir "um verso extra" para levar uma parte dos crédito$.

"Danger" (Paul, Mitchell)

Minha faixa favorita do disco! É uma das faixas mais pesadas, do tipo que eles estavam devendo há tempos. Paul dá mais detalhes sobre sua vida de criatura da noite, acostumada ao perigo, ao fio da navalha, "com a vida nas mãos, lutando sozinho". Mas sabendo que a recompensa é proporcional ao risco...

"I Love It Loud" (Gene, Vinnie)

Gene lança um dos hinos "lados B" do Kiss. Essa multidão gritando "hey hey hey hey, yeah", na famosa batida lenta e arrastada, é inconfundível! Basicamente é o demônio abrindo suas asas individualistas: "aumente aí, sou culpado até que se prove a inocência, quero ser o presidente". No final em fade, a música vai, mas depois volta mais um pouquinho... é pra grudar mesmo!

"I Still Love You" (Paul, Vinnie)

O momento ~love ballad~ do disco. Andamento bem lento (talvez até demais: a faixa ocupa 6:16), Paul está tristão. A mina deixou ele, e só agora ele percebe o que está perdendo. Ele sabe que deve "tentar entender e aceitar como um homem", mas que fique bem claro: "ainda amo você"!

"Killer" (Gene, Vinnie)

Pensando bem, esta é a minha faixa favorita do disco! Pegada bem hard rock, quase heavy metal: com certeza tem dedo do Eric nesta... me fez lembrar da Highway Star. Gene anda apaixonado por uma mina, mas descobriu que ela curte uns lances diferentes: lâminas, dor, salto-agulha, submissão... na época era meio pesado falar em BDSM (18+) assim abertamente, então ele preferiu dizer apenas que ela é "matadora, fria como pedra".

"War Machine" (Gene, Adams, Vallance)

Gene fecha o disco com mais uma batida lenta e arrastada. Gene é uma "máquina de guerra", sem leis ou autoridades. Quer fazer tudo do seu jeito e dominar a tudo e todos. E no último verso um inesperado lampejo de filosofia... "sua liberdade é só um estado mental". Isso vindo do ultra-individualista, capitalista e republicano Gene Simmons, é no mínimo pra ficar pensando...


Mais infos sobre o álbum, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Bad Religion 1 - Introdução e "Bad Religion - EP" (1981)




Por Leo Dias
Prazer, eu sou Leo! ;) Já tive dois blogs que cobriam a cena roqueira de Indaiatuba e região, o Indaiá Rock Zine (2009-2011) e o Rock Your Head (2012-2014). Nem lembro exatamente como aconteceu (rs), mas estou aqui a convite da galera do Disco a Disco, e vou comentar a discografia de uma das bandas mais influentes do cenário Punk Rock depois dos próprios Ramones, os criadores do estilo. Com vocês: Bad Religion! É minha banda favorita, o que facilita na hora de comentar a discografia inteira, já que é quase uma rotina em minha vida ouvir todos os discos deles, pelo menos uma vez por semana.

Formado em 1979, em Los Angeles, Califórnia, pelo vocalista Greg Graffin e pelo guitarrista Brett Gurewitz, o Bad Religion foi uma das bandas mais influentes (senão a mais influente) do que pode ser chamado de “2º revival do Punk Rock”, quando o Green Day e o The Offspring estouraram nas paradas americanas em 1994, bem naquele momento em que a indústria musical e os fãs de músicas rápida e energética clamavam por algo para lavar a alma após a trágica morte de Kurt Cobain, que, por consequência, matou (comercialmente) o que era chamado de “Grunge”... Poucos sabem, mas a banda que fomentou a maior parte dessa cena de onde vieram as bandas de Billie Joe e Dexter Holland foi o Bad Religion.
Bad Religion em 2013
Seja no lado musical, com a introdução das melodias e métricas do Pop e dos “coros de coral” no meio da massa hardcore, seja no lado estrutural/empresarial (mas ainda com cara de “do-it-yourself”), com a gravadora independente Epitaph, fundada em 1980 pelo guitarrista Brett Gurewitz (ou Mr. Brett), para lançar o primeiro EP da banda, simplesmente intitulado “Bad Religion”, que deu início à discografia de mais de 16 álbuns de estúdio, 2 EPs, 2 ao vivo, 4 coletâneas, 24 singles e 5 home-videos, em pouco mais de 35 anos (!!!) de carreira (com um breve intervalo de 3 anos no meio dos Anos 80, para que o vocalista Greg Graffin terminasse seu mestrado – ele é PhD hoje em dia, e leciona na Universidade de Cornell...).

Pode creditar aí: além de Green Day e Offspring, tem também o NOFX, o Rancid, o Millencolin, o Blink-182, o Pennywise, o Sum-41, o CPM-22, o Dead Fish (sim, pegou aqui no Brasil também...) e mais uma infinidade de bandas que devem muito ao Bad Religion por ter criado essa estética de “Punk Rock com melodias”, que acabou sendo o grande “must” entre os jovens fãs de música no fim dos Anos 90!

Bad Religion apresentado, agora é hora de começar. Com vocês, a estreia deles, o “Bad Religion - EP”:

Bad Religion - EP (1981)

Nota: 5

O que esperar de moleques de 16 e 18 anos tocando Punk Rock numa garagem fedida de suor? Música cheia de energia, cheia de furor, cheia de rebeldia sem causa e... Ops! Sem causa, não! Se tem um campo em que o Bad Religion pode se orgulhar de se destacar é por fazer letras contundentes e absolutamente conscientes do mundo à sua volta!

Na idade em que estavam e do meio em que vieram, eles podiam tranquilamente fazer as 6 músicas de seu EP de estreia sobre como xavecar a líder de torcida bonitinha, ou sobre como o sol da Califórnia brilha bonito no corpo da universitária, mas eles, punks que eram, escolheram falar de temas como “religião”, “política”, “governantes inúteis”, “stress”, “suicídio por descrença na sociedade” e “guerras”, e de uma maneira que deixaria seus pais chocados com tamanha noção da realidade cruel em que vivem e pela maneira que a descrevem nas letras.

O lado A, abre com a homônima “BadReligion”, que ataca as religiões, as comparando com uma fábrica, onde tudo funciona precisamente para manter os funcionários/fieis alienados e na linha. O riff de abertura de Brett Gurewitz é marcante, mas a música se perde numa confusão cromática que desenvolve até chegar no refrão e fica estranha. Nessa época, a banda ainda não havia desenvolvido sua capacidade de passear nas melodias pops e, além disso, o vocalista Greg Graffin ainda estava com sua “voz de adolescente de 16 anos em desenvolvimento” e berrava de maneira bem esganiçada...


BR-81:Greg Graffin (v), Jay Ziskrout (d), Mr. Brett (g) e Jay Bentley (b)

O play segue com o hardcore “Politics”, com a banda atacando os governos e chamando o presidente de “idiota” (jerk). Depois o “alvo” da fúria dos jovens da “má religião” é o stress, com a crítica e alegrinha “Sensory Overload”, onde reclamam por estarem com seus sentidos sobrecarregados de tanta estupidez da sociedade.

O lado B abre com a mira apontada novamente para os políticos, com a pogante “Slaves”, marcada pelo baixo de Jay Bentley e pela batida mais “ramônica” do então batera, Jay Ziskrout. Depois o clima fica bem pesado com a tensa e lenta “Drastic Actions”, onde Graffin relata uma cruel realidade com um crescente número de suicídios por descrença na sociedade. Pra fechar, eles pisam novamente no acelerador, com a hardcore de 54 segundos “World War III”, onde já previam, em 1981, que o imperialistmo americano os levaria a mais guerras sem sentido.

Assim como ficou costumeiro no decorrer da discografia do Bad Religion, a composição das faixas é divida entre Graffin e Mr. Brett. Apesar de que neste EP as músicas pareçam muito entre si, o estilo de composição de Graffin é mais “nerd” e “preciso”, o que contrasta legal com a “arte musical abstrata” que Brett costuma arriscar, enriquecendo bastante o catálogo da banda.

DIY: arte do EP com o selo da gravadora Epitaph (abaixo à esq.)

Como era o primeiro EP, e por ter sido gravado no Studio 9, um pequeno estúdio de demos alocado no andar de cima de uma farmácia, o “Bad Religion - EP” é aconselhado apenas àqueles já acostumados com aquele Punk Rock sujão, que beira o hardcore, sem muito peso, firula ou produção, onde o que vale mesmo é a mensagem que está sendo passada.

Esse ainda não é o Bad Religion fazendo o som pelo qual ele ficou conhecido e se tornou referência. Era apenas a estreia de mais uma banda de Punk Rock tocando bem rápido, no fervilhante cenário hardcore americano do início dos Anos 80. De qualquer modo, a sementinha plantada nesse cenário germinou muito bem no futuro, como iremos ver...

Escute o EP no player abaixo:


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Kiss 13 - Music From The Elder (1981)


Oi, eu sou o Salinas! Neste disco, agora pra valer com a nova formação, os quatro resolvem dar uma guinada total em termos de estilo. Por um lado eles tentavam sempre abocanhar o máximo de público possível. Mas por outro, com a enxurrada de merchandising e produtos, mais os últimos dois discos ~diferentes~, os fãs começavam a desconfiar do (até então não muito) óbvio: a banda só queria ganhar dinheiro em cima dos fãs! E a resposta veio: Dynasty e Unmasked venderam muito menos que os anteriores.

Aí chamaram de novo Bob Ezrin, que tinha produzido Destroyer, e de lá pra cá incluiu no seu currículo "apenas" o indiscutível The Wall. Bob não deixou por menos: pra recuperar o crédito com o público, o Kiss teria que fazer algo conceitual, artístico, e de uma vez por todas provar que não são só "rostinhos bonitos". O resultado foi esta incursão pelo rock progressivo, que conta uma história grandiosa e deixa as mulheres de lado, pelo menos uma vez.

O "novo funcionário" Eric Carr queria mostrar serviço, e até violão tocou na faixa Under The Rose. Além disso, Ezrin queria fazer jus a seu histórico, Anton Fig tava lá pra ajudar na bateria e percussão, e até Lou Reed (in memoriam) deu um empurrão com algumas letras. Com esse time, não tinha como dar errado. Ace Frehley foi o único que não gostou muito, mas era voto vencido. O guitarrista acabou sucumbindo à insatisfação acumulada há anos: este foi o último disco com o Space Ace.

No fim das contas, eles mesmos não botaram muita fé no disco pronto: não houve turnê, só uns poucos shows de divulgação. Até hoje existem dois grupos entre os fãs: os que acham que este é o melhor disco do Kiss, e os que acham que este disco é o pior. Mas com o tempo, a opinião da crítica prevaleceu sobre a do público, e os fãs tardios (como eu) passaram a respeitar muito mais este ponto fora da curva, que concentra todo o brilho criativo de quatro roqueiros. E fazendo justiça a esta obra-prima, um filme irá contar a mesma história do disco (ou pelo menos pretende... o site oficial não funcionou quando este humilde escriba tentou consultá-lo).

"The Oath" (Ace, Eric)

O disco começa com o pé no peito, cavalgada na guitarra e vocais poderosos do Paul. A letra, combinando com o som, não fala das habituais mulheres, relacionamentos e rolês por aí. "Como lâmina da espada, forjado em chamas", Paul, em seu cavalo, carregando os poderes do aço e do fogo, "avança para a história, compelido pelo invisível", e chega a uma antiga porta onde, num ritual, ele entra como um garoto e sai como um homem.

"Fanfare" (Bob Ezrin, Paul)

Instrumental. Naipes de sopros medievais anunciam algo importante prestes a acontecer. Acompanhe esta história incrível e emocionante!

"Just A Boy" (Bob Ezrin, Paul)

Um violão brilhante dá o ritmo: lento, constante, num balançar monótono. Num navio em plena tempestade, Paul começa sua longa viagem. Mas, mais preocupante do que a fúria das ondas, é a tempestade em sua mente: sentindo o peso de sua responsabilidade, percebe que "não é um herói, embora queira". Perscrutando as águas em busca de uma direção, mal sabe ele que "outros olhos o observam"... O vocal de Paul mostra seu alcance nos agudos. E seguindo a linha progressiva, esta música não termina...

"Dark Light" (Ace, Anton Fig, Gene, Lou Reed)

...mas, sem interrupção, cai num suspense de semitom no baixo, desaguando no rock de Ace Frehley, descrevendo as águas turvas e a "luz negra da ordem malevolente", os inimigos que buscam a "morte do amor". O nosso herói se questiona, "quem ele tenta enganar, senão a si mesmo"? Solo matador de guitarra, com percussão no bongô.

"Only You" (Gene)

O garoto procura seu misterioso tutor, interpretado por Gene. Mas este não lhe dá as respostas que procura, pois elas estão em seu próprio coração. Paul ainda não se convenceu do poder que carrega: "Por que o ouço? Se sou tudo o que diz, por que ainda me acovardo?" A linha harmônica passa muito forte essa ideia de busca, uma busca quase desesperada, uma corrida contra o tempo e contra o mal que se aproxima.

"Under The Rose" (Eric, Gene)

Chegou o momento da decisão. Apesar de puro e de ter sido o escolhido pela Ordem da Rosa, Paul deve se mostrar merecedor de confiança. Um coral masculino troveja na cabeça de Paul uma difícil decisão: será ele capaz de se sacrificar e "sob a Rosa" fazer seu juramento?

"A World Without Heroes" (Bob Ezrin, Gene, Lou Reed, Paul)

Uma das poucas canções na história em que Gene Simmons canta limpo e delicadamente... quase não dá pra reconhecer. Aqui ele interpreta nosso herói, recolhendo-se nos próprios pensamentos, e finalmente tomando uma decisão. Se não há outro para carregar esse peso, então que seja ele: "Um mundo sem heróis é um pássaro sem asas".

"Mr. Blackwell" (Gene, Lou Reed)

Finalmente, o grande confronto com Mr. Blackwell, o líder das forças malignas. O confronto sonoro se percebe claramente: o discurso de Blackwell se dá em estrofes pausadas, com longos intervalos entre cada verso, intercalados pelo baixo de Gene Simmons em Mi menor, talvez na linha mais grave que ele já tocou. Blackwell não se acha tão mau assim, apenas um "pecador que ama pecar", até um líder honesto, que desde o começo deixou claras suas intenções, "nunca quis ser mais do que é". E nos refrões aparece o nosso herói, que não se deixa enganar e sabe que ele está "podre até o caroço, uma verdadeira desgraça, que devia ser banida da raça humana". Solo de guitarra matador e pesadão, seguido por um estranho solo de sonoplastia e percussão, intercalado com um baixo aqui e ali, e os grunhidos distorcidos da besta-fera.

"Escape From The Island" (Ace, Bob Ezrin, Eric)

A cena da luta. Instrumental. Solo matador do Ace Frehley desde o começo, sirenes passando, todos em alerta total até a última fibra muscular. Ataques, defesas, esquivas precisas. Nosso herói quase cai num precipício durante a perseguição, logo após um rápido solo de bateria, com o suspense crescendo cada vez mais. Mas ele consegue dar a volta por cima, e reunindo todas as forças num golpe fulminante, enfim dá cabo de Mr Blackwell, e "escapa da ilha" no último momento em que ela explode em mil pedaços.

"Odyssey" (Tony Powers)

Depois de cumprir tão desafiadora tarefa, o nosso herói finalmente encontra a paz. Paul Stanley, num de seus melhores vocais como Intérprete de Linda Canção, acompanhado por uma orquestra, volta para casa sonhando com sua amada, com quem "ficou face a face incontáveis vezes, nos reinos do tempo e espaço". Lembra de seus sonhos com ela, em "noites luminescentes, raios de luz neon, voando pelo mar estrelado", e chegando a uma "alta montanha", onde poderiam finalmente ser... "garanhão e égua". Tinha que ser... um disco do Kiss jamais seria um disco do Kiss sem alguma referência sexual.

"I" (Bob Ezrin, Gene)

Créditos finais! O disco fecha bem pra cima, depois dessa espetacular aventura! E também história de superação: Gene e Paul se revezam nos vocais, dando a moral da história: um hino à auto-determinação, ao "acreditar em si mesmo", ao individualismo no último. O que importa é que "EU ACREDITO EM MIM!!!" (não, não vou fazer graça sobre o fato desta canção ter o título mais curto da história da música, rs...)


E no finalzinho do disco, como não poderia faltar num filme desse nível, uma cena escondida. Ao som do "leitmotif" da fanfarra do começo do disco, ouve-se os passos de Morpheus, o tutor do nosso herói, batendo à porta e se apresentando a seu senhor, que lhe questiona quanto ao garoto que acolheu, se "ainda o acha merecedor de pertencer à Camaradagem". Nem preciso dizer a resposta...

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não quebrar o galho pode encontrar nos bons Youtubes do ramo!



E é isso!


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Kiss 12 - Unmasked (1980)

Oi, eu sou o Salinas! O Kiss continuava fazendo sucesso, legiões de fãs os acompanhavam em cada show e eles apareciam com frequência na TV. Só tinha um problema: os paparazzis, mesmo naquele longínquo 1980, não saíam do pé deles tentando capturar os verdadeiros rostos desses heróis. Quanto mais o galerê queria, mais eles ocultavam as caras. E dá-lhe segurança tomando câmera de repórter espertinho q conseguiu uma fotinho borrada... e é essa a história que eles contam nesta divertida capa em HQ. No final eles resolvem relutantemente tirar as máscaras, e para surpresa geral, por trás delas seus rostos "são" as próprias máscaras.

Aqui a pegada radiofônica continua, diminuindo a agressividade e a pegada rock & roll. Mas pedir pra eles esquecerem as mulheres já é demais! Neste disco, novamente, todas as faixas falam sobre relacionamentos, mulheres, garotas, sexo etc. Além disso, é um dos discos com mais contribuições externas. Vini Poncia co-assina 7 das 11 faixas. Porém é o último disco com alguma participação de Peter Criss. Ele já não toca em nenhuma música (Anton Fig manda em todas), mas ainda aparece nas capas do disco, divulgação e também em um clip, Shandi. Depois disso ele só voltou 15 anos depois, na reunião do Kiss. Na turnê deste disco é apresentado o novo baterista oficial, Eric Carr, que usa a persona The Fox (A Raposa).

"Is That You?" (Gerard McMahon)

Um gritinho alucinado logo na primeira nota: o som mais pop de Dynasty vai continuar! Uma batida mais lenta e grave, e Paul conta a história de uma garota que "foi longe demais". Olha só o machismo: tanto ele quanto Gene colecionam histórias de garotas e mais garotas há anos, e quando uma mina faz o mesmo ela "joga a reputação no banheiro, meio morta, tirando seu disfarce inseguro" (das máscaras deles ninguém fala nada, né). Essa música foi originalmente escrita pelo Gerard McMahon.

"Shandi" (Paul, Vini Poncia)

Sonzinho bem radiofônico, receita pra virar hit sonhador das menininhas. O namoro de Paul com a Shandi está nas últimas, mas ele não tem coragem de terminar porque no fundo ainda gosta dela. E pelo jeito ela nem percebeu, "quando você me toca não adianta nada". (Neste clip temos a última aparição de Peter Criss como membro da banda: conta ele que no fim do último dia de filmagens, ele foi o último a sair. Ao se ver sozinho naquele mundo do qual já estava de saída, não aguentou e chorou.) Quanto aos olhos que aparecem de relance pelo clip, nada me tira da cabeça que são do próprio Paul. Hoje isso parece até meio óbvio, mas na época rolava um debate violento...

"Talk to Me" (Ace)

Ace foi o único a incluir faixas neste disco escritas por uma só pessoa (inclusive o baixo, que ele mesmo tocou nas músicas dele). E ainda assim não tem muito rock & roll nesta faixa, que também está mais radiofônica e maneirinha. A menina "mexe com a cabeça dele, o faz tremer e ter estranhas sensações". Mas ele tem dificuldades de iniciativa: só queria que ela "falasse com ele"...

"Naked City" (Gene, Poncia, Bob Kulick, Pepe Castro)

Gene aparece com seu baixo e seu som gravão. Pegada urbana, sensual, na "cidade nua" à noite, prédios iluminados, letreiros, decotes, músculos, cabelos. Gene sérião, hoje está mais introspectivo e observa a miséria dessa vida de loucuras, sensações e perigos na noite de Nova York.

"What Makes the World Go 'Round" (Paul, Poncia)

Paul não está a fim de elucubrações sobre a noite. Tá mais corajoso agora, nesta declaraçãozinha de amor estilo Paul Stanley. Ele vinha "feito um bobo sonhando pela vida", e ela veio "arrastando o coração em busca dos achados e perdidos". Mas quando ele a viu, se apaixonou, etc, e descobriu o que, para ele, "o que faz o mundo girar".

"Tomorrow" (Paul, Poncia)

Curiosidade: o baixo desta música é tocado por Paul. Levada mais animada e corajosa. Paul já tá pirando em outra mina de novo, mas ainda não se declarou. Ainda. É que ele ficou sem jeito na hora, não conseguiu falar o que devia, mas não importa. "Amanhã vamos nos apaixonar"...

"Two Sides of the Coin" (Ace)

Ace dá novamente sua tonalidade de rock & roll, mas sem o ímpeto dos primeiros discos. Está dividido: entre as várias garotas que conheceu, já não tem a mesma graça ficar saindo com elas só por uma noite. "Por outro lado", qual delas escolher como companheira? É o típico ~problema bom de resolver~....

"She's So European" (Gene, Poncia)

Gene se apaixonou por uma mina do outro lado do oceano. No começo achou estranho, "não olharia nem se você pagasse", mas depois viu algo de diferente... ela era tão refinada, "tão europeia", que depois, ~gritando~ daquele jeito, já nem parecia a mesma pessoa...

"Easy As It Seems" (Paul, Poncia)

Entrada bacanosa na percussão e baixo, novamente tocado por Paul. Em algumas prensagens do vinil, foi colocada como a primeira faixa. Paul está sendo corneado, e ~machoalfamente~ quer "saber a razão", como se já não soubesse.

"Torpedo Girl" (Ace, Poncia)

Entrada cheia de swing na bateria e baixo. Ace foi inocentemente nadar, quando ouve o aviso de um submarino se aproximando. E no convés, claro, nada menos que uma linda garota. Venha, "garota-torpedo, vamos dar um mergulho", você vai ficar com o ~pé~ molhadinho...

"You're All That I Want" (Gene, Poncia)

E pra fechar, uma declaraçãozinha de amor estilo Gene Simmons. Tecladinhos de leve da Holly Knight acompanhando. Ele tá até bem comportadinho, a gaja é a "única mulher que ele já amou", etc... no máximo ela vai "sentir o amor dele dentro dela, algo que ele não pode esconder". Em vista do que Gene já aprontou lá pra trás, isso é até elegante... Refrão em fade repetindo o título e fim.

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Kiss 11 - Dynasty (1979)

Oi, eu sou o Salinas! O "retorno" do Kiss depois dos quatro álbuns solo fez muito sucesso, mas não como os anteriores. Os fãs mais antigos (sim, porque a esta altura já existia uma "turma das antigas") torceram o nariz pra sonoridade mais pop e comercial. Começando no primeiro hit, I Was Made for Lovin' You, onde eles dão uma resposta à febre da disco music que estava no auge. Mas com isso a banda ganhou muito em popularidade fora do rock: até então muita gente não engolia essa banda, por demais agressiva e sexual.

Mesmo com os discos solo, a coisa já não ia bem com o Homem-Gato, que se afundava cada vez mais nas drogas e na desmotivação. Ele foi creditado neste disco mas foi substituído no estúdio por Anton Fig, aparecendo só em Dirty Livin' na bateria e vocal.

"I Was Made for Lovin' You" (Desmond Child, Paul, Vini Poncia)

O disco começa com uma estranha levada oitavada no baixo, bem diferente do que o fã tradicional do Kiss está acostumado. Um baixo repetitivo, quase hipnótico, ritmado, feito para fazer o corpo se mexer. Estaria o Kiss se rendendo à disco music? Não, não... apenas mandando um "beijinho no ombro" das invejosas que os achavam incapazes de sair de seu próprio estilo. E haja briga entre "jaquetas de couro" e "calças boca-de-sino" pela noite de Nova York. Tecladinhos do Vini Poncia (que também produziu o disco), de leve, no "tema B".

"2,000 Man" (Mick Jagger, Keith Richards)

Agora voltemos pro bom e velho rock & roll, nem tão rápido mas parrudo, com solo matador e tudo. Uma faixa inesperadamente filosófica (guardadas as proporções), não só por ser tocada pelo Kiss mas por ter sido composta pelos Rolling Stones! Nas últimas décadas do século XX e do 2º milênio, Mick/Ace olham para o futuro, onde se vêem "tendo encontros com os computadores" (visão profética!!), vivendo a eterna e perdida batalha com as gerações seguintes, que não os entendem. Retrofuturismo estilo Kiss!

"Sure Know Something" (Paul, Vini Poncia)

A primeira faixa que explica o estranhamento dos fãs mais antigos. Numa sonoridade bem mais pop, bem mais próxima de música de motel, Paul dá o recado: a mina "quebrou o coração dele", e ele ainda não conseguiu resolver isso na cabeça. Mas não é tão simples assim, ele sabe de alguma coisa aí... nesse mato tem coelho!

"Dirty Livin'" (Peter, Stan Penridge, Vini Poncia)

Aqui Peter colocou pra fora toda sua insatisfação com a banda. Sim, no fundo o errado era ele, largando a banda por causa de bebida e cheirada. Mas ele também estava cansado dessa "vida suja" de ficar rodando por aí, horas e horas de estrada, avião, loucuras de agenda, gravações, shows, e o pior, "pessoas ao meu redor me deixando sangrar"...e tudo isso só pra deixar "mãe, irmã, irmão preocupados, com o som alto na jukebox". Só lhe resta o público, onde "desconta toda a raiva" (com seu som, claro).

"Charisma" (Gene, Howard Marks)

Momento canastrônico do disco, digo, do Gene... já tava até fazendo falta, fala aí! Ele faz um jogo sonoro (em inglês) com o som de "what is my" e "charisma", e joga pra geral: mas e aí gata, afinal o quê que te deixa louca comigo? Meu nome? Minha fama? Meu dinheiro? Meu... ~corpo~?

"Magic Touch" (Paul)

Paul ataca novamente. Aquela mina tinha o "toque mágico", ela sim era sensacional. Pena que não queria nada sério. Paul não tá a fim de perder essa mina de jeito nenhum! Essa foi outra das faixas que não agradaram o pessoal mais hard rock, com essa pegada mais popzinha, mais "namoro no sofá".

"Hard Times" (Ace)

Mas aí chega o Ace pra salvar com a pegada forte do rock & roll. Ao contrário do Peter, cada vez mais pra baixo, Ace tá feliz da vida com o sucesso. "Os tempos difíceis estão mortos e enterrados / mas me tornaram forte / me fizeram ver / que é lá que eu não quero estar". E de fato, desde os últimos discos ele vem ganhando mais espaço: aqui ele assinou e cantou duas músicas próprias e mais um cover, ou seja, um terço do disco.

"X-Ray Eyes" (Gene)

Gene ataca novamente na sua batida pesadona, agora com seus novos "olhos de Raio X". Ele consegue ver através, não do corpo da mina (bom, em se tratando de Gene Simmons, isso também), mas através das mentiras dela. "Ain, não tô afim hoje". Sei... pode ir então: vai voltar "rastejando" depois. Só achei desnecessário aquele efeitinho sonoro do raio X no final...

"Save Your Love" (Ace)

Ace fecha o disco terminando com a mina como um verdadeiro roqueiro. Não ia dar certo essa competitividade entre eles, ele até achou que ela já tinha percebido isso. Só que ela tentar passar à frente dele, mudar sua cabeça, aí já é demais! Agora "guarde seu amor, não preciso dele". Deixe aí "na prateleira", quem sabe talvez, apenas talvez, apareça outro.

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!