Nota: 6,5
Sabe
quando você faz algo que deu muito certo e que te colocou numa posição de
absoluto conforto? Sabe quando tudo está bem, mas tão bem, que você até relaxa,
quase botando tudo a perder? Tudo indica que foi o caso aqui, no “No Substance”, 10º disco de estúdio do Bad
Religion, lançado dia 5 de maio de
1998, o segundo pela major Atlantic Records!
O
frisson que seu antecessor, “The Gray Race”, de 1996, causou na cena,
fez com o próximo passo de Greg Graffin
e companhia já fosse esperado com empolgação um ano antes, tanto que “No
Substance” figurou na lista dos 25 lançamentos mais aguardados pela Alternative Press ainda em 1997!
E
surfar na crista da onda também deixou Doctor Graffin bem empolgado já que ele
havia dado conta do recado como único compositor da banda após da traumática saída de Mr. Brett anos
antes, mantendo os níveis de popularidade do Bad Religion. Tamanha empolgação o
inspirou o suficiente a compor, gravar e lançar seu primeiro disco solo, “American Lesion”, ainda em 1997, em novembro. O cantor aproveitou
todo seu background e fez um inesperado disco de country/folk, onde ainda incluiu a versão original de “Cease” (que saiu no Gray Race), tocada
no piano.
Escute "American Lesion", de Greg Graffin, na íntegra:
Com
essa empolgação toda, a banda acabou deixando para compor o que viria a ser “No
Substance” apenas no estúdio, logo
antes de começar a gravar, decisão que, segundo Greg foi proposital. “Eu queria
fazer como fazíamos no passado, tendo todo mundo no estúdio para arranjar todas
as músicas juntos, como uma banda”, justificou. “É como se fosse 1981
novamente.”
Uma das contra-capas |
Para
viabilizar a empreitada, eles decidiram gravar o material no próprio home studio de Graffin, o Polypterus, em Ithaca (NY). “Foi como
dar rolê na casa do Greg de novo, só que sem a mãe dele lá”, brincou o
guitarrista Greg Hetson. “A idéia era fazer uma música
por dia. Começávamos às 10h, depois de Greg nos servir umas panquecas, e íamos
até às 5 ou 6 da tarde”, revelou o baixista Jay Bentley.
A banda começou a gravar em junho de 1997 e terminou tudo em fevereiro de 1998. A bateria e o baixo
acabaram sendo gravados no Pyramid
Studio, outro estúdio disponível em Ithaca, e apenas as guitarras e vocais acabaram
sendo registrados no Polypterus, de Greg. A produção ficou a cargo da própria banda, junto com os calejados Alex Perialas e Ronnie Kimball.
Foi
o disco que levou menos tempo para ser composto e gravado da banda, onde nem
mesmo uma pré-produção foi feita, e a mixagem e masterização duraram apenas
umas poucas semanas. “Não queríamos pensar muito”, revelou o guitar Brian Baker
no press release do disco. De fato, “No Substance” soa como um disco pouco elaborado, até certo ponto “desleixado”, onde as músicas não possuem nada em comum. Não tinha aqueles lampejos do que o Bad Religion sempre soube
fazer bem: Hardcore com velocidade e muitas melodias empolgantes, pra se cantar
junto nos shows. E eles até tentaram...
Jay, Bobby, Graffin, Hetson e Brian no encarte do CD |
PLAYLIST
Os
quase 42 minutos de som de “No
Substance” começam com a direta e certeira “Hear It”, um hardcore-três-acordes curto e grosso, cheio de
energia, bem “Bad Religion”, que acabou sendo lançada como single e figurou bastante nos shows da tour do disco. Uma das
melhores do play, sem dúvida!
A
cadenciada “Shades of Truth” vem na
sequência, com ótimas melodias e backing vocals certeiros. A música é bem
construída, na pegada da consagrada “Infected”,
do “Stranger Than Fiction”, mas fica
maçante em 4 minutos de duração – uma das extensas da carreira da banda. O play
segue com a mediana “All Fantastic Images”, composta por Greg em parceria com Brian Baker. De fato, o
que mais se destaca na música são justamente os solos do guitarrista.
Na
faixa 4 temos outro single do álbum, “The Biggest Killer in American History”. A música é tão desleixadamente
simplista e sem punch, que imagino que quem a escolheu como single devia ser
aquele “executivo da gravadora” que não manja nada de Punk Rock! A letra cita o
“cientista” desenvolvedor de bombas na segunda guerra mundial Edward Teller,
mas, de acordo com Greg Graffin, o “maior assassino na história americana” é o próprio exército do país.
Greg e Campino |
“No Substance” continua com a faixa-título na posição 5, outro Punk Rock
cadenciado que, se fosse mais “explorado” pela própria banda, poderia ganhar
mais moral. A música tem um refrão catchy,
mas nunca chegou a ser tocada ao vivo, mesmo sendo o título do álbum, o que é
um desrespeito à tradição do Bad
Religion de sempre ter faixas-título fortíssimas entre seus sons mais clássicos,
figurando em seus shows.
O
sexto som “Raise Your Voice” talvez
seja o mais conhecido do álbum! Seu “fa fa fafa fa fa fafá” é descaradamente
pegajoso e é repetido à exaustão durante toda a música! Nem mesmo a
participação do vocalista Campino,
da banda alemã Die Toten Hosen (a
Alemanha é onde o BR vende mais discos desde sempre), dividindo os versos e o refrão
com Greg Graffin ajudou a melhorar a música, que chega até ser meio bobinha,
com arranjos bem juvenis.
Capa do single Raise Your Voice |
A
letra, apesar de (sempre) inteligente, é uma versão diluída do principal moto
que permeia a maioria das composições do BR, com aquela pegada “não siga nenhum líder”. Graffin disse em
entrevistas que a escreveu depois de ver na TV que uma clínica de abortos tinha
sido atacada por religiosos e dois funcionários chegaram a ser assassinados
pelos fanáticos.
A
gravadora, vendo essa aura Punk-Pop (ou Poppy Punk?) em “Raise Your Voice”,
resolveu investir e a música ganhou duas versões de single – sendo uma lançada na Europa antes do lançamento do disco,
com uma capa que Greg odeia – e um vídeo-clipe,
o único que foi gravado para promover o disco. A filmagem, que contou com a
participação do alemão Campino entre outros 20 atores, aconteceu no Hotel
Ambassador, em Los Angeles, e foi dirigida pelo também alemão Kai Sehr.
Assista ao vídeo de “Raise
Your Voice”:
A
excelente “Sowing the Seeds of Utopia” dá continuidade ao disco com bastante
vigor e uma letra chute-na-cara dos políticos, viciados
apenas em poder e não em ajudar. Um tema batido, mas que sempre estará em voga,
não importando a época. Na faixa 8 vem a fraca e alegrinha “The Hippy Killers”, que chegou a ser
cogitada como título do disco, mas não passa de ser um filler.
Foto oficial da era "No Substance" |
E
já que as letras são tão importantes
para o Bad Religion, por que não fazer outra música-discurso? Eis que daí surgiu “The State of the End of the Millennium Address”, parceria de Greg
Graffin com Brian Baker fazendo uma espécie de continuação de “Voice of God is Government”, que saiu
no primeiro disco “How Could Hell Be Any Worse?”, de 1982. A grande diferença é que, enquanto "Voice..." tem um refrão e explode num vigoroso hardcore, "The State..." é apenas um discurso com uma trilha sonora tensa e repetitiva, sem chegar em um ápice!
A
partir desse ponto, o disco entra no seu momento mais obscuro, com seis fillers fraquíssimos em sequência: “The Voracious March of Godliness”; “Mediocre Minds” (composta de uma
parceria incomum de Greg Graffin com Greg Hetson); “Victims of Revolution” (outra que Greg fez com Baker), “Strange Denial” (único som que teve
uma demo gravada, em 1994, e que
acabou sendo descartado de dois discos anteriores); “At The Mercy of Imbeciles” (uma parceria tripla inédita na
composição de Graffin, Baker e Hetson); “The Same Person” (outro trio inédito na
composição: Graffin, Baker e Jay Bentley).
E
sabe aquela tradição do BR de
encerrar seus discos com faixas épicas e melódicas? Por sorte, foi seguida à
risca aqui, com a esplêndida “In So Many Ways” e seu refrão lindo de chorar cantando junto! Essa é uma das músicas
mais criminosamente subestimadas da
carreira da banda, tanto por eles mesmos, como pelos fãs. Diria que seu
potencial melódico se equipara a pérolas como “You” e “Skyscraper”. Na
versão japonesa, a gravadora incluiu “Dream of Unity”, já conhecida por ter figurado no ao vivo “Tested”, lançado um ano antes.
Poster de divulgação do disco |
Para
a capa, escolheram uma foto de uma modelo
sexy aparecendo em um anúncio de telesexo
numa televisão. De acordo com Greg Graffin, significava que “a sociedade
estava corrompida pela TV e pela moda, com foco apenas no exterior, no que não
tem conteúdo (ou substância), e não em valores importantes (interior).”
TOUR
A
“No Substance Tour” durou quase um
ano, com 95 shows em oito pernas, de abril de 1998 até março de 1999. Rendeu
incríveis cinco datas no Brasil em março
de 1999, sendo duas em São Paulo (dias
9 e 10, no Olympia), uma em Santos (dia 11 – um show antológico que começou às
2h da manhã, depois de quase ser adiado por conta de um temporal que ocasionou
um apagão na cidade), outra em Curitiba (dia 12) e outra no Rio de Janeiro (dia
13). O único show fora do Brasil nessa perna sul-americana da tour foi em
Santiago, no Chile, no dia 14.
Assista ao show completo do BR no Chile, em 1999:
Com
poucas faixas que salvaram a lavoura e uma pegada bem desleixada, que deixava transparecer sinais de cansaço na banda, “No Substance” é tido como um dos pontos baixos da carreira do Bad Religion pela maioria dos fãs. O
próprio baixista Jay Bentley já revelou em entrevistas que considera o disco “terrível”, no
contexto da discografia da banda.
BR na Warped Tour 98 |
Ainda assim, o disco
acabou relançado pela Epitaph Records,
em 15 de setembro de 2008, quando a banda recuperou e relançou todo seu
catálogo pela gravadora de seu guitarrista, Brett Gurewitz.
Escute "No Substance" na íntegra:
Esse disco poderia ser reduzido a poucas musicas e aí seria um bom lançamento, assim como The New América. Daí para mim se salvam Hear it, All fantastic images; The Voracius March od Godliness, Victmis of revolution e Sowing the seeds of Utopia e vamos lá, In so many ways dá pra entrar. Rsrsrsrs Agora a música Raise Your voice do cd que eu tenho é diferente da versão do clipe e de outro que eu já tive. A participação do vocal é reduzida, só aparece no final. Existem duas versões espalhadas pelos discos?
ResponderExcluirFala Brother! Blz? Obrigado pelo comentário! Pra mim, o BR podia pegar as melhores do No Substance e as melhores do Nee America e fazer um disco só que ia ser clássico! Hahaha
ExcluirQuanto à sua dúvida, sim! Existem duas versões de Raise Your Voice: a mais conhecida, que tem participação do Campino do Die Toten Hosen nos vocais, e outra que tem apenas o Greg cantando. Em cada lugar do mundo deve ter saído uma versão diferente. Na www.thebrpage.net vc pode encontrar essa informação mais precisa!
Abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
Excluir