terça-feira, 10 de junho de 2014

Nei Lisboa 8: "Relógios de Sol", 2003

Olá! Nesse post eu vou falar do oitavo disco do Nei Lisboa, o "Relógios de Sol", lançado pelo selo Antídoto, da ACIT, em 2003. Depois da paulada política do disco anterior, o "Cena Beatnik", o cara se volta totalmente pro romance, o amor e as mulheres (da sua vida, e da sua imaginação criativa). Esse disco é tão bem produzido e gravado quanto o anterior, as harmonias continuam com a carinha inconfundível do Nei, só que agora tudo mais soft, mais pop do que nunca.


De qualquer forma, o Nei não foge a tradição de trazer diversas influências musicais pros seus discos. Como sempre, você vai poder ouvir o melhor das baldas pop nacionais junto com jazz, blues e ritmos latinos. A primeira faixa já dita o tom de basicamente todo o álbum. Uma balada muito linda, romântica, aquele refinamento das letras bem típico do Lisboa, melodias muito boas mesmo.

1. Primeiro Amor
Começa com um riff muito bonito no violão. Popinho bem romântico, muito bem arranjado. Piano comanda a levada do som, o baixão completa com muita leveza. O refrão é mais marcado, por guitarra e bateria. Um sintetizador bem suave, macio, complementa a harmonia. E a letra, claro, não nega essa aura de romance. Dá pra dizer sim que letra e música tem a doçura de um primeiro amor. "Vai ver, o teu final feliz é minha próxima atração".

2. Vai Chover
Seguindo o mesmo espírito da canção anterior, essa faixa não é menos romântica. Começa o barulhinho de chuva e um trovão inicial. Uma levadinha de bongô torno tudo um pouco mais rasteiro, uma declaração de amor inocente, um pop até que bem dinâmico, com variações de andamento e tudo mais. O violão mantém a harmonia, entrecortado por uma harmonia genial de backing vocals. O tecladinho ainda tá lá, dando um brilho extra. Ela cresce no refrão com uma linda frase: "Cada vez que vai chover, eu volto pra estrada pra te ver". Conta, basicamente, a história de um casal que caminha na chuva, e encharcados, foram se abrigar num velho moinho. Tiram as roupas, botam pra secar, e PIMBA! Começa um grande amor. S2

3. Relógios de Sol
A faixa título tem uma das letras mais interessantes do disco.O Nei brinca bastante com as palavras, cria estruturas poéticas, brinca com elas, intercala, volta, etc. O mais incrível é que a música não tem refrão, mas ainda assim tem alguma coisa cíclica, ao mesmo tempo em que é ascendente e dinâmica. Incrível como em cada "fim" de sessão o instrumental marca a última palavra, "pão" e "mão". O instrumental, aliás, incrível também, com o violão na harmonia e melodia principais. Interessante são as participações ocasionais dos sintetizadores. As percussões, bem suaves no estilo "chocalhinho", e um bumbão bem espaçado, garantem a pulsação. Bom demais, bem pensada e estruturada. Bem gravada.

4. Cine Avenida
A letra é bem clichêzinha, mas com a cara do Nei, e na sua voz é de fato um "clichê singular", rs. Na pegada do disco, mais uma romântica, com uma carinha mais malandra. O instrumental é muito massa e levada é meio ska, no estilo dos Engenheiros do Havai. Ênfase no tecladista, que porra!, manda bem pra caralho! Os arranjos pro synth são demais. Muito bacana também a "ponte" pro refrão com um solo de guitarra, a banda aumenta a pegada, toca mais forte.

5. Pra te Lembrar
Essa faixa, em especial, teve notoriedade na imprensa e no cenário nacional, principalmente por ser trilha do filme "Meu tio matou um cara", o tema romântico. Nessa versão, a música é interpretada por Caetano Veloso. A mais bela canção do disco, sem dúvida alguma. Um piano maravilhoso entra com a voz do Nei, contrapondo. Que melodia linda. Adoro também como o baixo vai se costurando no melodia do piano. Muito bem arranjado, puta merda... A forma como a pulsação cresce, vai aumentando a sensação de ápice, de clímax, é genial. Adoro essa música. E a letra então... de chorar. =*(


6. Bar de Mulheres
Jazzinho maroto, discurso de rapaz desarmado frente a uma mulher poderosa, independente, a Diana, "Já és Simone e Sartre, E não precisas mais de mim... Se amas por nós dois, de mim já não precisas mais". Bem caricata, essa faixa, começa com baixão jazzy e "clicks" de dedos estalando. Genial o pianinho bem com a aquela cara "cabaré", baixão comendo solto, guitarra no contra do piano, dando swing, passeando pelas escalas, a bateria inconfundível. Muito foda. Nei mantém a "tradição" de sempre botar um jazz no meio dos seus discos.

7. Isso São Horas
Climão latino nessa faixa. Uma conga, talvez, comendo solta, solinho de violão na escala flamenca. Genial como o som cresce eu fica com uma cara bem rock-latino, no melhor estilo Carlos Santana. O cara sempre fazendo referências. Claro que o tema do som não podia ser menos "caliente". O Lisboa paga de tiozão sem vergonha e canta pra sua novinha. "Que idade tem a minha bonitinha, sabe que eu podia ser papai". Hahaha! Ai ai, esse Nei...

8. Babalú
E claro que não podia faltar também o blues, mas um clássico do repertório do Nei Lisboa. Todo disco tem um blues, rs. Esse não é menos genial. Mantém a temática romântica, mas aqui num tom mais debochado, falando de uma garota com quem ele mantém  uma relação meio "conturbada", mas ele sente falta dela, sim. O som já começa com uma guitarrinha havaiana, muito massa. O violão mantém a harmonia, enquanto a bateria vai dando dinâmica. Os backing vocals aqui são bem divertidos, "Babalú!", rs.

9. Amor Executivo
Amor executivo, é esse que você se doa por inteiro mas ainda sim ela insiste em te "atiçar". Pelo menos é o que diz o Nei nessa canção super bem sacada. Não sei dizer ao certo que tipo de som é esse, alguma coisa meio pro cool jazz, mas pra mim também está perto disso e disso. Bem suave, com um belo solo de sopro (talvez um sax alto), brincando com a melodia da guitarra.

10. O Mundo em Seu Lugar
Essa tem um dos melhores arranjos do disco. Adoro esse clima meio soturno que ela mantém, com algumas dissonâncias sobressaindo, e o total contraste com as partes mais melodiosas, tonais. Ênfase no violão e na presença eterna de um sintetizador bem etéreo de fundo. Muito bom. A letra também é linda, muito bem estruturada, bem no jeitão do Nei, de repetir estruturas mudando a mensagem. Fala de um amor que "desarruma" a vida, mexe com os sentimentos, mas de independente de qualquer bagunça, é desejado, lindo, e deixa saudades. Mais uma vez, o amor e o romance dominam uma faixa do disco.

11. Bom Futuro
Essa tem a letra que eu mais gosto, super positiva, otimista. Nei dá instruções de como ter um "Bom Futuro", dizendo que o mais importante é a simplicidade das coisas cotidianas, manter a vida tranquila, é esse o segredo, e todos os problemas futuros (que na verdade existem sempre, no passado e presente também) devem ser ignorados agora. "Leve um mapa pra esquecer, Onde a estrada terminar, Depois a gente se vai voltar, Quem sabe o dia de amanhã?".


E assim termina o disco mais romântico da carreira do Lisboa. Engraçado que além desse romantismo todo, existe também um novo tipo de sabedoria na poesia dele, a partir desse disco. Uma sabedoria da vida em si, a valorização do tempo, da idade, dos bons e maus momentos, das pessoas que nos que fazem sorrir e das que nos fazem chorar. Valeu galera, espero que vocês tenham gostado. Só pra te lembrar, cada título de música é também um link pra letra. No próximo post, o nono disco do Lisboa, "Translucidação", de 2006. Aguarde! Até já!

Disco pra ouvir na íntegra:


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