quinta-feira, 19 de junho de 2014

Kiss 1 - Homônimo (1974)

Oi, eu sou o Salinas! O Kiss se formou lá pelos finais de 1971, com as sobras do Wicked Lester, a primeira banda de Gene & Paul. O nome veio de um campeonato de beijo, evento comum por lá naquela época. As ideias foram se formando aos poucos, ao longo de shows pela noite de Nova York. A fome de crescer era grande, e eles canalizavam toda essa energia não só no som e presença de palco, mas também na performance: personagens, maquiagens, figurinos, números.

Mas as coisas eram difíceis no começo. A grana era curta, os shows mal se pagavam, e nem todo mundo recebia a novidade abertamente. A conquista dos fãs foi um trabalho de formiga, lentamente, e uma das estratégias para isso foi, depois de dúzias de shows e mais de 2 anos batendo cabeça por aí, lançar um disco com as principais canções de trabalho.

Como resultado, este é um dos melhores discos do Kiss. Som cru, com toda a força do rock & roll. As músicas vinham lá de trás, trabalhadas há anos. O disco define muito a "cara" da banda, não só visualmente na capa (que também se inspirou no modelo de With the Beatles, assim como Raulzito e os Panteras e tantos outros), mas também no som, uma cacetada auditiva, com tempero de juventude, farra e sexo.

Paul e Gene dividem a autoria da maioria das letras. Apenas uma ou outra são de Ace ou Peter. Os estilos são bem diferentes: enquanto Paul fala mais sobre relacionamentos, Gene, "cem por cento putão", só pensa naquilo. Ace foca em sua eterna bebedeira. Peter acaba indo por uma linha parecida com Paul, sobre sentimentos e tals. Conforme veremos a partir de agora:

"Strutter" (Paul)

A primeira música do primeiro disco... pra mim tem um significado especial. Naqueles primeiros compassos eu imagino o cara numa sexta feira à noite de "quase dezembro" de 1973, toma aquele banho, se veste, dá tchau pra mãe que tá vendo novela, e vai andando pelo rua, outono já esfriando (no hemisfério norte). Quase tropeça numa pedra pelo caminho, entra no estúdio, parede de tijolinhos, a porta se fecha. Cumprimenta o pessoal, jogam um pouco de conversa fora, bom, vamos ao trabalho. Silêncio. Baquetas se erguem no ar, e num bullet time as pontas delas, já meio gastas, descem lentamente até tocar os tambores: "Praco-praco-praco-pum", guitarras, e nasce um mito. (Ok, não foi assim: o mito já tinha nascido há tempos, eles já eram até meio conhecidos na cidade.)
A levada já dá o tom não só do disco, mas da obra do Kiss: rock & roll alegre, com riffs do Ace reluzindo por entre os versos, refrão forte, solo de guitarra. Receita pra virar hit! A letra fala de uma garota "espertinha", dessas que deixam todo mundo maluco. Tem aquela fila de caras chamando pra sair, mas não está nem aí pra nenhum deles.

"Nothin' To Lose" (Gene)

Nessa faixa os roqueirões das antigas têm orgasmos múltiplos com a chance de esculhambar com o povo do funk. Ora, nesta letra Gene fala sobre nada menos que sexo anal, porém sem citar diretamente, muito menos usando palavrões: "back door" (porta de trás). Mas ainda assim no padrão machista da época: "She didn't wanna do it / But she did anyway / But baby please don't refuse / You know you got nothin' to lose" (Ela não queria fazer aquilo / Mas fez mesmo assim / Mas meu bem por favor não recuse / Você sabe que não tem nada a perder).

"Firehouse" (Gene)

Alarme de incêndio! Tem coisa pegando fogo. Ali na escada de incêndio, na casa das máquinas, onde ficam as ~mangueiras~, hehe... vocais no começo simulam as sirenes do carro de bombeiros, e a própria sirene aparece no final. Em geral é nesta música que Gene faz seu número de cuspir fogo.

"Cold Gin" (Ace)

Entrada lenta na guitarra, baixo arrastadão, vocais meio bêbados. Claro, pois "É a única coisa / Que nos mantém juntos". Ace, o guitarrista bêbado, detonando em mais um solo. Tem quem diga que já naquela época tinha tretas entre eles, e só bêbados conseguiam ficar de boa entre si pra ensaiar e gravar. Outra leitura é que só a ~bebida~ (farra, putaria, mulheres, dinheiro etc) seria capaz de fazê-los passar por tudo aquilo que passaram em busca da fama. Ou ainda, é um ~facilitador~ quando o relacionamento já não tá lá aquelas coisas...

"Let Me Know" (Gene & Paul)

Declaraçãozinha de amor estilo Kiss. Ele quer ser o "motorista de domingo, o homem da segunda, o táxi da terça, o garoto da quarta", mas se ela não se decide não adianta... ela só tem que escolher o que fazer, e ele a leva lá o quanto antes.

"Kissin' Time" (Bernie Lowe, Kal Mann)

Esse é o tema dos campeonatos de beijo que rolavam nos Estados Unidos nessa época. Em todas as cidades, casais fazendo maratonas labiais pra ver quem aguentava mais tempo sem largar os beiços um do outro. Essa música não veio no disco original, mas como as vendas não estavam lá tudo isso, resolveram lançar esse single (mais uma versão desta música, que já tinha sido regravada) e "encaixar" nas prensagens seguintes... e funcionou.

"Deuce" (Gene)

Um dos riffs mais fodões, logo na entrada. "Deuce" em inglês significa "diabo" mas também significa "dois". O cara quando trabalha duro até tarde, vale por dois. A mulher dele tem que entendê-lo e apoiá-lo, e na visão da época, "fazer o que ele diz". Na Nova York dos anos 70, deuce era também uma gíria para fellatio. Imagina se Gene Simmons daria um ponto sem nó...

"Love Theme From Kiss"

Instrumental. Levadinha marota, timbre de guitarra brilhante, com umas viradas no baixo aqui e ali. Cair da tarde, céu avermelhado.

"100,000 Years" (Paul)

Depois do instrumental poético volta a batida mais urbana rock & roll. Paul se atrasou pro rolê e agora tá dando um sabonete na namorada, que pergunta onde ele esteve... mas calma, "você se importa se eu sentar aqui?" Vish, já eras, ela já tá calminha de novo...

"Black Diamond" (Paul)

Peter Criss assume os vocais aqui. A ideia de Paul é lembrar a noite de Nova York, onde ele via todas aquelas prostitutas pelas esquinas. Mas havia uma em especial, a rainha de todas elas... era um "Diamante Negro". E no final o solo acaba naquela famosa batidinha que vai diminuindo o ritmo. Na verdade não são os músicos que diminuem o ritmo, mas a mixagem depois. O som é "esticado" aos poucos, o que dá aquele efeito de ir baixando o tom até que no final não se ouve mais nada. Uma tentativa de fechar o disco em grande estilo... que nada, é só pra aproveitar sobra de espaço mesmo.

Mais infos sobre o album, aqui. E nas casas quem do ramo boas não encontrar no Youtube quebrar pode o galho:




Até lá!


2 comentários:

  1. Porra, Strutter sempre foi minha favorita. Não sabia que era logo do primeiro disco! Genial!

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  2. Pode não ser lá um GRANDE disco, mas começa muito bem!
    Com a primeira faixa do primeiro disco sendo essa, já dava pra imaginar o que viria por aí!

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