segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Bad Religion 7 - Against The Grain (1990)


Nota: 9,5
Capa de "Against The Grain"
Após os marcantes e geniais “Suffer” (1988) e “No Control” (1989), discos que definiram uma nova estética para o Punk Rock e, consequentemente, ajudaram a criar uma nova cena nos Estados Unidos (principalmente na ensolarada Califórnia), o Bad Religion chegou a 1990 contabilizando um saldo mais que positivo, em termos de popularidade para uma banda de Punk Rock independente que ainda não havia saído do Underground.

A fase estava tão boa, que eles voltaram de sua última tour na Europa, no primeiro semestre do ano, com seu primeiro VHS na mala: o único e espontâneo “Along The Way”. Fruto de um trabalho de estudantes de cinema que tinham uma produtora independente, a Tribal Area, “Along The Way” traz 28 músicas ao vivo, com áudio registrado de um show em Bremen (Alemanha), intercaladas por entrevistas com a banda, sendo a mais legal, uma com o guitarrista Mr. Brett falando abertamente sobre seu vício em crack!

Clique AQUI para assistir o "Along The Way" completo no Youtube

VHS "Along The Way"
A grande “curiosidade” do vídeo, que foi lançado pela Epitaph Records (já falei que a gravadora é do guitarrista Brett, né? rs) dia 25 de agosto de 1990, são as várias “trocas de roupa” dos integrantes durante as músicas. Não que eles estivessem numa vibe de Madonna, mas a galera da produção gravou e editou imagens de 14 shows (!!!) diferentes e se esqueceu de pedir para que os integrantes usassem as mesmas roupas... O resultado ficou próximo do cômico, como quando o vocalista Greg Graffin começa uma música com uma camiseta azul, canta o refrão sem camisa e volta para o segundo verso com uma blusa de frio vermelha... (rs)

Voltando um pouco no tempo, ainda antes do lançamento do VHS, logo que o Bad Religion chegou da tour na Europa, em maio de 1990, eles já tinham um bom punhado de novas canções e nem hesitaram em entrar novamente no estúdio Westbeach Recorders (também do guitarrista Brett...), em Hollywood, para registrá-las para seu próximo LP. E eles saíram de lá com uma bolacha de pouco mais de 34 minutos de Punk Rock rápido e ainda mais melódico, divididos em 17 músicas que iam direto ao ponto, sob o provocativo título “Against The Grain(“contra a moda”, numa tradução livre).

O famoso "milho" no encarte do CD

Against The Grain”, o 5º full length do Bad Religion, chegou às lojas no dia 23 de novembro do mesmo ano, via Epitaph Records (aqui no Brasil, ele só foi lançado no fim dos Anos 90, em CD, pela Roadrunner Records) e, apesar de ter sido o primeiro disco da banda a atingir a marca de 100 mil cópias vendidas e conter seu primeiro “protótipo” de hit, a pop pegajosa (e muito legal)21st Century (Digital Boy)”, acabou não sendo o trabalho que fez o BR estourar no mainstream.

A arte da capa, que caiu como uma luva para o título, pode ter colaborado um pouco para esse “insucesso” do disco, já que o desenho lindão da “lavoura de mísseis” da artista plástica Joy Aoki (responsável por capas de outras bandas da Epitaph na época, como Offspring, NOFX e Down By Law), apesar de se sustentar por si só pela mensagem contida, não trazia nem o logo da banda, nem o nome do play, nem nada mais, itens que, por mais que “estragassem” a arte, certamente aumentariam o apelo do marketing da bolacha na prateleira das lojas.

Encarte do K7, com as "fotos produzidas" dos integrantes (clique para ampliar)
Ainda dentro do contexto “contra a moda”, o encarte trouxe pela primeira vez os integrantes em fotos individuais, mas devidamente “produzidos”, como se estivessem prestes a entrar numa passarela para desfilar (!!!). Uma sacada espertíssima e muito corajosa para uma banda inserida na cena Punk...

Outra novidade contida em “ATG” foi a colaboração do baixista Jay Bentley e do guitarrista Greg Hetson na composição. Desde a volta da banda em 1987, apenas Greg Graffin e Mr. Brett se arriscavam na criação, mas desta vez o baixista trouxe duas músicas: o petardo hardcore de 57 segundos “The Positive Aspect of Negative Thinking” (que tem até uma batida “thrash metal” no final) e a contestadora “Unacceptable”, composta em parceria com Hetson. As duas músicas foram mixadas por Karat Faye, ao contrário do resto do disco, que acabou finalizado por Eddie Schreyer, engenheiro de som parceiro do guitarrista Brett no Westbeach Recorders.

Arte original de "Against The Grain" decorando o hall de entrada da Epitaph
E se em “No Control” Brett era o mais inspirado na hora de compor, em “ATG” Greg Graffin dischavou, trazendo 9 músicas contra 6 do guitarrista. “É sobre como você desafia as estruturas da Ciência e da Arte para fazer progresso”, comentou o cantor sobre o conteúdo lírico do álbum, em entrevistas na época do lançamento. De fato, o “doutor” estava realmente inspirado quando escreveu letras como as de “God Song”, “Faith Alone” e “Get Off”.

Assim como a capa, a contracapa não trazia informações
Musicalmente, “Against The Grain” também mostrou o Bad Religion evoluindo dentro do estilo melódico de Punk Rock que havia inventado e desenvolvido, com Brett, Hetson e Jay tecendo linhas diferentes um do outro na mesma musica pela primeira vez, como em “Anesthesia(surrupiada pelo Offpsring quatro anos mais tarde, na música "Genocide", do Smash), por exemplo, ao invés de simplesmente se acompanharem na mesma base, como ocorreu em praticamente todo material anterior da banda. Finalmente o BR estava utilizando as vantagens de ter duas guitarras no time!

Nas “drums and percussion(como creditado no encarte do album), apesar de ainda bem “retão”, Pete Finestone manteve a precisão e a pegada forte que sempre apresentou, neste disco que foi seu último nas baquetas do Bad Religion, encerrando um ciclo de 3 álbuns com a mesma formação na banda.

Vinil amarelo de "Against The Grain"
Como já havia virado uma tradição o BR abrir seus discos com uma cacetada, “ATG” começa com Greg Graffin mandando um “... here’s a song with attitude(mas o começo da frase foi cortado na edição do disco...), seguido de Finestone contando “1, 2, 3, 4” pra descer o sarrafo em “Modern Man”. A música, um hardcore de poucos acordes, muita melodia e muitos coros de Oozin Ahs (como eles sempre chamaram os backing vocals nos encartes), começa com um solo simples, porém marcante, de Bret e cai na brilhante letra contestadora de Graffin sobre o way of life destrutivo do homem moderno, a quem ele chama de “traidor da evolução”.

O lado A do vinil segue a mil por hora com as rapidíssimas hardcores “Turn On The Light(com um solo de baixo), “Get Off” (com um solo de oozin ahs”), “Blenderhead” e a já citada “The Positive Aspect of Negative Thinking”, até cair na interessante “Antesthesia”, composta por Brett.

Poster oficial da tour de "Against The Grain"
Além de clássica na discografia da banda, “Anesthesia” é um caso a parte, tanto pelo quesito musical, com linhas de guitarra espertíssimas e uma quebrada de tempo maneira no final com algumas percurssões, como pela fantástica letra, com 3 metáforas embutidas (!!!), que conta a historia de um casal, que ora você acha que se envolve com assassinato e suicídio, ora que eles estão apenas usando heroína, além de uma outra metáfora passeando entre essas duas, onde a “Anesthesia”, alem de ser o nome da garota, é uma gíria para a droga, já usada por Brett, que considerou a canção uma de suas favoritas na banda.

Ainda no lado A, o play segue com “Flat Earth Society”, também de Brett, famosa por seu refrão simplório “Lie, Lie, Lie...” e por sempre estar no set list dos shows, até terminar na cadenciada e também clássica “Faith Alone”, de Greg, onde o cantor fez o nome da banda fazer muito jus a sua mensagem, com uma letra desconcertante de tão sincera e contestadora.

Depois de chutar a porta de novo na abertura do lado B com a veloz “Entropy”, temos a faixa-título com sua base solada, algo pouquíssimo usual no Punk Rock, e sua letra autoafirmativa panfletária “I maintain against the grain”. O “sprint na descida” segue com a alta (em termos de tom) “Operation Rescue”, que conta com backing vocals do Keith Morris, famoso por integrar bandas como Black Flag, Circle Jerks e Off!, colada com a melodiosa “God Song”, onde Greg mais uma vez bate forte nas ditas religiões que fazem o fiel vender até a casa pra pagar o dízimo...

Cartaz do 1º show da tour, no México
Então, mesmo depois de te dar 12 bordoadas na orelha, o BR ainda te entrega o já citado hit “21st Century (Digital Boy)”, composta por Brett sobre a família-padrão norte americana: “Sou uma criança do século 21, não sei ler, mas tenho muitos brinquedos, meu pai é um intelectual desmotivado de classe média e minha mãe é lesada de Rivotril”. Um clássico incontestável do Bad Religion com todos os méritos!

E essa letra ainda veio embalada numa base cheia de groove, que sempre causa o maior pula-pula nos shows da banda até hoje. Era tanto potencial Pop, que, quando o BR assinou contrato com uma gravadora major, mais tarde em 1994, uma das cláusulas do contrato os obrigava a regravar essa música pra lançá-la novamente com um clipe e tudo mais, como aconteceu no disco “Stranger Than Fiction”!

E ATG entra na reta final com a correta “Misery and Famine”, seguida da já citada “Unacceptable” e da “pogativa” “Quality or Quantity”, com sua alternância de ritmo entre o Punk 77 e o puro HC, acabando de vez com “Walk Away”, cheia de oozin ahs”.
Bad Religion, no México, durante o 1º show da tour

O disco, mesmo contando algumas das letras mais ácidas do Bad Religion, tinha tanto potencial melódico e pop em suas veias, que o tecladista Roy Bittain, da The E Street Band, banda de apoio de Bruce Springsteen, apareceu um dia na Epitaph para conversar com Brett e Jay, oferecendo uma maleta cheia de dinheiro para que eles regravassem “Against The Grain” com ele na produção, dizendo que assim eles estourariam! Jay acabou “educadamente expulsando” o maluco da reunião, sem dar nenhuma resposta à absurda proposta, para logo depois cair na risada junto com Brett, mal acreditando no que havia acabado de acontecer...
Apesar de tantas músicas brilhantes, “Against The Grain” manteve a máquina do Bad Religion rodando bem graças à força do hit 21st Century (Digital Boy)”, que fez a banda deixar de apenas “dividir” o palco com seus colegas da cena Punk americana, para a se tornar a “atração principal” na maioria das noites da tour, que novamente contou com um giro pela Europa, além dos Estados Unidos e México, e durou até 1992, quando eles lançaram “Generator”, o próximo disco a ser resenhado. Até lá! :)

Escute “Against The Grain” logo abaixo:



* Bônus: versões demo de 7 músicas de “Against The Grain” estão disponíveis no Youtube! :D

Clique sobre os títulos para ouvir:

4 comentários:

  1. Grato pela resenha, que por sinal foi muito bem feita.

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  2. Valeu pela resenha, duas observações, eu tenho uma versão do ATG que tem o nome da banda bem discreto na frente, deve ter sido uma versão especial ou algumas poucas e entendi mas mesmo assim acho que o surrupio do Offspring foi bem feito em Genocide, pois acho o solo inspirado, mas bem diferente de Anesthesia. hahahahah

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    1. Legal essa sua versão! E o surrupio do Offspring foi muito válido mesmo! Genocide é uma baita música!

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